Da negritude ao suingue, Homenagem a Elza Soares leva ao palco um pouco de tudo que a cantora representou

O detalhe de a artista ter resolvido tornar-se eternidade em janeiro, aos 91 anos, não impediu que ela deixasse de cumprir seu compromisso com o palco Sunset: Elza Soares estava bem viva no espetáculo montado por Zé Ricardo, diretor artístico do Sunset. “Power! Elza Vive!” teve um pouco de tudo que a cantora representou em vida: negritude, justiça social, tolerância, resistência politica, feminismo na prática, amor e, acima de tudo, suingue.

“Lamento muito informar que a mulher faz hoje o que ela quiser”, avisou Elza, em vídeo, antes que a baiana Larissa Luz (que viveu a cantora em musical) e Caio Prado trançassem, à capela, “Comigo” (ele) e “O meu guri” (ela). Momento de arrepio, sem intervalo para a entrada de Agnes Nunes, Majur, Gaby Amarantos e Mart’nália. Completo o time do show, ele atacou de “A carne”, música-símbolo de Elza dos anos 2000 (do verso “a carne mais barata do mercado é a carne negra”, com o adendo — “agora não é mais!).

Daí em diante, seguiram-se os solos. Gaby, por exemplo, botou jambu na versão pesada de “Volta por cima” e em “Morro” (de Dona Ivone Lara e Mauro Duarte). Mart’nália veio com a “Lata d’água” (cheia de ginga na recriação com guitarra surf music) e “Se acaso você chegasse” (aberta só por ela e o pandeirista).

Já Agnes Nunes foi de Gonzaguinha protesto, “Comportamento geral” em formato reggae e Caio Prado animou a turba com “Malandro”, de Jorge Aragão (o compositor mais ouvido no Sunset de sábado) e “Não recomendado”. A Larissa Luz coube “Dura na queda”, música de Chico Buarque que melhor define Elza Soares e “Maria de Vila Matilde”, da fase mais recente, do disco “A mulher do fim do mundo”.

Last but not least, Majur pegou bem o balanço de “Saltei de banda” e instaurou o samba com “Salve a Mocidade”. Larissa Luz voltou para “Banho”. Ao fim, o time todo se encontrou novamente no palco para uma emocionante “A mulher do fim do mundo”, com a voz de Elza inserida no encerramento: “me deixem cantar até o fim”.

Com esse repertório bastante representativo, intérpretes idem e uma banda sob medida, que conjugou musicalidades atuais e eternas, Elza não poderia ter recebido melhor homenagem

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *