Aécio encontrou janela para renascer das cinzas?

151347_ext_arquivoO candidato a presidente da República pelo PSDB, Aécio Neves, relegado a um terceiro lugar (muito desconfortável) nas pesquisas de intenção de voto, vê agora, na belicosa delação do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, a chance de retornar ao jogo eleitoral para valer. O tucano expressou essa possibilidade claramente, neste domingo (7), durante um culto evangélico, no Rio de Janeiro. Ouviu dos religiosos uma música intitulada “A Volta Por Cima”, em homenagem a ele. “Este é o tempo de dar a volta por cima. Eu vou dar a volta por cima. O que passou, passou. Tudo que eu vivi, foi uma lição”, diz a letra da canção. Entusiasmado, Aécio disse que ainda há tempo, nas próximas quatro semanas antes das eleições, para ele voltar efetivamente ao páreo. Mas será que dá mesmo?

“Vou lutar até o final, tendo como melhores companheiras de viagem a verdade e as minhas crenças. Tenho um projeto para o Brasil. Não quero que, daqui a quatro anos, estejamos todos lamentando mais uma escolha equivocada”, afirmou.

Com as manchetes dos jornais e a mídia eletrônica emulando até o dia da eleição o suposto pagamento de propina para políticos por contratos da Petrobras, que consta da delação de Paulo Roberto Costa, as duas primeiras colocadas nas pesquisas, a presidente Dilma Rousseff (PT) e ex-senadora Marina Silva (PSB), terão que lidar com uma agenda negativa persistente. Dilma terá o problema maior. Mas Marina poderá ver seu ex-companheiro de chapa, Eduardo Campos (PSB), que faleceu tragicamente há menos de um mês, lhe dar dor de cabeça, caso surjam acusações graves contra ele no depoimento do ex-diretor da Petrobras. Pernambuco, Estado governador por Campos, recebeu a maior obra da estatal nos últimos anos, a refinaria de Abreu e Lima. E é aí onde pode estar o problema.

É deste cenário de tanta indefinição que Aécio espera renascer na disputa eleitoral. Logo que as primeiras informações vazaram na mídia, o tucano tratou logo de gravar um vídeo no qual denominou o suposto pagamento de propina como “mensalão 2”. Mostrou assim sua intenção de jogar a bomba no colo da primeira coloca nas pesquisas e causar as mesmas dificuldades que o “primeiro mensalão” causou aos petistas no passado recente.

Em cima disto, o tucano passou a cobrar que as investigações possam ir “mais fundo” e trouxe para si a criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que está investigando contratos da Petrobras. “Liderei no Congresso Nacional toda a movimentação para a instalação da CPMI. O que nós queremos é que a CPMI possa voltar a intimar o senhor Paulo Roberto para que ele diga, de forma mais clara, além dos nomes já vazados para a imprensa, como funcionava esse esquema”, afirmou Aécio.

Calibrando o discurso, o candidato disse que é preciso acabar com a impunidade no país, processando e prendendo quem tiver usado, de forma indevida, o dinheiro público. “Quem cometeu um desvio, independente de qualquer partido, tem que ser punido de forma exemplar. Se tiver alguém próximo a nós que tiver cometido desvio, que a Justiça julgue. Mas, julgado e condenado, tem que cumprir pena”, afirmou ele neste domingo, mostrando que o tema não será esquecido por sua campanha e deverá ganhar o horário eleitoral já a partir de amanhã.

O assunto “mensalão” já vinha sendo usado por Aécio em seu programa. Contra Marina. No ataque mais direto à candidata do PSB, ele lembrou, na semana passada, que ela era filiada ao PT e ministra de Estado quando explodiu o escândalo, mas mesmo assim continuou no mesmo lugar – sendo petista e ministra. Agora, o tucano irá ampliar seu ataque, mirando em Dilma, no que ele já denominou de “mensalão 2”.

Resta saber se esta ação será eficiente. O “mensalão”, com todos os seus desdobramentos midiáticos, não impediu a reeleição de Lula, nem a eleição de Dilma. É claro que um novo escândalo, como o de agora, deve mexer com o eleitorado. Mas é preciso que Aécio se prepare para ir mais além no debate. A crise ética é o trampolim. Mas ele deve estar pronto para apresentar ao eleitor um programa de governo consistente e atraente. Restam quatro semanas para o primeiro turno.

 

 

Brasil 247

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