Português de coração, Pepe é caso raro entre naturalizados
O sotaque ainda guarda traços de Maceió, cidade onde nasceu, mas é fortemente tomado pelos trejeitos da maneira portuguesa de falar. As férias são passadas em Portugal, não no Brasil. Sua mulher Ana Sofia e suas filhas são portuguesas. E ao falar sobre a seleção europeia, o alagoano se refere a ela como “meu país”. O zagueiro Pepe é realmente um caso raro entre atletas naturalizados: não adotou uma nova pátria para ter a chance de jogar por uma seleção, mas escolheu esta seleção porque ela representava sua pátria de coração.
Képler Laveran Lima Ferreira, 31 anos, chegou a Portugal aos 17, vindo do Corinthians Alagoano, para jogar no Marítimo, equipe mediana da cidade de Funchal, Ilha da Madeira, onde nasceu Cristiano Ronaldo. Foi em terras lusitanas onde ele passou quase metade da vida, e onde conquistou praticamente tudo na carreira. É por isso que, mesmo ao jogar uma Copa do Mundo em seu país natal, Pepe nega que haja qualquer sentimento especial.
“Para mim, cada jogo com a seleção portuguesa é especial. Foi isso que me fez chegar à seleção, foi um país que me deu tudo. Sou grato aos portugueses pelo resto da minha vida por tudo o que tenho e pelo que a minha família tem. Sinto-me feliz de poder estar em Portugal, minha mulher é portuguesa, minhas filhas são portuguesas”, diz o zagueiro.
A primeira temporada no Marítimo foi passada em sua maioria no time B, mas os dois anos seguintes foram de destaque na primeira divisão, chamando a atenção do poderoso Porto. Era o início de uma história vitoriosa. Após cinco títulos nacionais, ele se tornou o zagueiro mais caro da história ao ser comprado pelo Real Madrid em 2007, por 30 milhões de euros. Desde então, foi superado pelos brasileiros Thiago Silva (42 milhões) e David Luiz (62 milhões), mas colecionou títulos nacionais e europeus.
“Tenho um clube que me apoia, muitos portugueses que me apoiam, isso me faz ter força para superar as dificuldades que encontramos no nosso caminho”, afirma. “Sempre deixei bem claro, desde a partida em 2006 contra o Setúbal, quando eu me disponibilizei para estar na seleção, que sentia que estava em dívida com os portugueses. Enquanto eu sentir isso, vou dar meu melhor, jogar com meu coração e dar tudo o que tenho para poder ajudar meu país. Me sinto mais um português e para mim está muito bem claro na minha cabeça”.
Apesar de ter deixado Maceió como um desconhecido e nunca ter defendido o Brasil nas categorias de base, Pepe teve a chance de atuar pela Seleção. Segundo conta seu pai, em 2006, o técnico Dunga entrou em contato sobre uma possível convocação. A resposta? Negativa: Pepe já estava em processo final para obter a cidadania de Portugal, país que havia escolhido representar. De fato, no ano seguinte, ele estreou pela seleção europeia e logo se firmou como titular.
Ligação com o Brasil ainda existe – os pais vivem em Maceió, assim como alguns amigos de infância e adolescência. Pepe já afirmou que gosta de estar na capital alagoana. Mas o fato é raro: na maioria das vezes, ele passa suas férias do espanhol Real Madrid com a família em Portugal.
E sua presença no país de nascimento pode novamente ser breve, já que a seleção portuguesa encara uma tarefa quase impossível contra Gana, nesta quinta-feira, em Brasília, para alcançar as oitavas de final. O time precisa vencer, torcer para a Alemanha derrotar os Estados Unidos, e ainda tirar uma diferença de cinco gols no saldo para os americanos. Pepe, porém, diz acreditar em milagres.
“Acredito, acho que é possível. Sabemos que é difícil, mas nós temos que lutar. É um lema que Portugal sempre tem, lutar, e é o que vamos fazer até o final com as armas que temos, com as dificuldades que vamos encontrar. Vamos dar sempre a cara com o intuito de ajudar Portugal a passar”, promete o zagueiro, com a autoridade de quem já pode evocar ideais do povo português – e o sentimento e a certeza de que ele faz parte deste povo.
Fonte: Terra