Olheiro no aeroporto acionou alarme para anunciar chegada de Gritzbach
Investigação do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) identificou que um olheiro teria avisado aos assassinos de Vinícius Gritzbach o momento em que ele se encontrava no saguão do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, região metropolitana, no último dia 8. O suspeito ainda é desconhecido.
Gritzbach era jurado de morte pela maior facção do Brasil, o Primeiro Comando da Capital (PCC). No dia de sua execução, quando foi alvo de 29 tiros de fuzil, ele havia acabado de retornar de uma viagem ao Nordeste, onde permaneceu sete dias com a namorada e seguranças particulares, entre eles um policial militar.
Assim que o casal e sua escolta chegou ao saguão do Terminal 2 do aeroporto de Guarulhos, um olheiro fez com que uma espécie de alarme sonoro – localizado no carro usado pelos assassinos – fosse acionado.
Minutos depois, Gritzbach foi morto, na frente da namorada e de dezenas de testemunhas. Os executores embarcaram no carro e fugiram em seguida. O Volkswagen Gol preto que teria sido usado foi localizado próximo ao aeroporto, íntegro, contribuindo para a polícia identificar o sistema sonoro usado para avisar sobre a chegada do alvo.
Como mostrado, o veículo foi captado por câmeras de monitoramento antes do crime. O carro dá ao menos três voltas no acesso à plataforma de desembarque que seria usada por Gritzbach. Após o alerta do olheiro, o Gol preto foi deslocado para a frente de um ônibus da Guarda Civil Municipal, de onde a dupla de matadores desembarcou.
Sem presos
Até o momento, a polícia não conseguiu identificar ou prender nenhum dos assassinos. Pelo menos 13 policiais são investigados: oito militares que faziam a escolta do empresário e cinco policiais civis que foram denunciados, por Gritzbach, por corrupção.
A investigação ainda mostra que alguns dos policiais são suspeitos de sociedade em diversas empresas. Além de exercerem atividades externas não permitidas pela polícia, eles teriam patrimônio incompatível com os seus rendimentos.
Membros do PCC, um agente penitenciário e uma pessoa que devia dinheiro a Gritzbach também estão entre os suspeitos do crime.
Vinícius Gritzbach era réu em processos pelo suposto envolvimento no homicídio de dois membros do PCC e por lavar dinheiro para a facção. Ele respondia aos crimes em liberdade e, em abril, teve sua delação premiada com o Ministério Público de São Paulo (MPSP) homologada pela Justiça. O acordo permitiria que o empresário tivesse redução das penas no caso de eventuais condenações. Em troca, ele denunciou integrantes da facção por estelionato e agentes de segurança por extorsão.
Segundo a defesa de Gritzbach, um áudio que faz parte da delação revela detalhes de sua relação com o advogado Ahmed Hassan, o Mude, que aparece na gravação com um policial civil não identificado oferecendo R$ 3 milhões para ele matar o delator.
Gritzbach também acusou policiais civis, entre eles um delegado do DHPP, de cobrarem R$ 40 milhões para engavetarem a investigação sobre os assassinatos dos dois integrantes do PCC, atribuídos ao delator. A propina não teria sido paga.
A investigação do fuzilamento de Gritzbach trouxe à tona detalhes do acordo de delação com o MPSP. Por medo de ser morto pela facção, ele contou à polícia, em 2022, que chegou a ficar 21 dias sem sair de casa, junto de sua família. Segundo os autos, ninguém podia sair de casa nem mesmo para “fazer compras de alimentos e as crianças irem à escola”.
Trocas de e-mails entre a defesa de Vinícius Gritzbach e promotores de Justiça mostram tensão nas tratativas para que ele firmasse o acordo de delação sobre a lavagem de dinheiro para o PCC. Ao longo da negociação, que durou meses, ele tentou blindar ao máximo seu patrimônio, que inclui uma longa lista de imóveis, lanchas e até um helicóptero. Isso levou os promotores a ameaçarem rejeitar a proposta de colaboração.