Faleceu nesta quinta feira (03) Cid Moreira aos 97 anos

Quando deu boa noite ao público do ‘Jornal Nacional’ pela primeira vez, Cid Moreira certamente não sabia que repetiria o cumprimento cerca de oito mil vezes ao longo dos 26 anos seguintes. Aquela era a estreia do telejornal, em setembro de 1969, e o jovem apresentador já possuía um currículo de respeito, que incluía passagens pelas principais emissoras de rádio e de televisão do país, inclusive pela Globo.

Gosto mais das notícias de grande impacto, de emoção, porque eu tenho sensibilidade para passar isso, e consegui passar durante todos esses anos. Quando o Drummond morreu, fizemos um ‘boa noite’ diferente. No final do jornal, sussurrei: ‘E agora, José?’ Ninguém esperava isso. Fizeram uma fila para me cumprimentar, e até hoje me sinto honrado”.

Início da carreira

 

Filho do bibliotecário Isauro Moreira e da dona de casa Elza Moreira. É irmão do locutor Célio Moreira, que trabalhou na equipe inicial da Globo. Formou-se em contabilidade em 1944. Naquele ano, admirado com as imitações que Cid Moreira fazia ao microfone nas festas regionais da cidade, um amigo – cujo pai era diretor da Rádio Difusora Taubaté – o convenceu a fazer um teste de locução. Contratado, Cid Moreira atuou na narração de comerciais até 1949, quando se mudou para São Paulo e passou a trabalhar na Rádio Bandeirantes e na Propago Publicidade.

Em 1951, transferiu-se para o Rio de Janeiro e foi contratado pela Rádio Mayrink Veiga, onde permaneceu até 1956. Nesse período, teve suas primeiras experiências em televisão, na TV Rio, apresentando comerciais ao vivo em programas célebres como Além da Imaginação e Noite de Gala. “Ninguém levava a TV a sério. Custei a comprar o meu primeiro aparelho de televisão. Mas não tinha nada, o rádio ainda dominava”, lembra.

A estreia como locutor de noticiários aconteceu na própria TV Rio, em 1963, na equipe do ‘Jornal de Vanguarda’. O programa era dirigido por Fernando Barbosa Lima e contava com nomes como Sérgio Porto, Mauro Borja Lopes (Borjalo) e Luís Jatobá. A partir de então, Cid Moreira trabalhou no ‘Jornal de Vanguarda’ em toda a trajetória do programa, passando pela Tupi, pela Globo, pela Excelsior e pela Continental.

Entrada na Globo

 

Voltou a trabalhar na TV Globo em 1969, para substituir Luís Jatobá no ‘Jornal da Globo’, um noticiário de de 15 minutos de duração, que exibia diariamente, às 19h45, um panorama das principais notícias do Brasil e do mundo. Integrou a primeira equipe do ‘Jornal Nacional’, que estreou em setembro daquele ano, o primeiro telejornal transmitido em rede no Brasil. Na ocasião, dividiu a bancada do telejornal com Hilton Gomes. Dois anos depois, iniciou uma parceria com Sérgio Chapelin que se prolongou por mais de uma década.

Cid Moreira se lembra do nervosismo na estreia daquele que, em pouco tempo, seria o principal telejornal da televisão brasileira. Um nervosismo que ele próprio custou a entender: “Eu chegava no horário de fazer o jornal, não participava da redação. Eu só ia para apresentar o jornal. Naquele dia, cheguei e vi aquele nervosismo, todo mundo preocupado. E, para mim, era normal. Mas no dia seguinte, vi na capa do jornal O Globo: ‘Jornal Nacional…’ Aí comecei a perceber a dimensão”, revela. “Eu ainda tinha na minha cabeça a ideia de rádio, que estava em todos os lares, em todas as casas, pela facilidade. A televisão não tinha essa facilidade”.

Ao longo de 26 anos, Cid Moreira ocupou diariamente a bancada do ‘Jornal Nacional,’ tornando-se um dos símbolos do telejornal. Em 1996, como consequência de uma reformulação do JN, os antigos apresentadores foram substituídos por jornalistas envolvidos na edição – William Bonner e Lillian Witte Fibe, na época. Posteriormente, no ‘Jornal Nacional’, dedicou-se exclusivamente à leitura de editoriais.

Também a partir de 1996, Cid Moreira foi escalado para fazer as locuções de reportagens especiais do ‘Fantástico’, programa do qual participou, também, desde a estreia, revezando-se com outros apresentadores, como Sérgio Chapelin e Celso Freitas. “Trabalhei no Jornal Nacional e no Fantástico, simultaneamente, durante mais de 10 anos”, observa. Mais tarde, passou a gravar também os áudios das chamadas e de algumas matérias do programa. Em 1999, narrou o quadro do ilusionista Mr. M, um dos grandes sucessos do Fantástico naquele ano. A voz do locutor ficou de tal forma associada ao quadro que, quando Mr. M esteve no Brasil, no ano seguinte, o próprio Cid Moreira o entrevistou com exclusividade para o ‘Fantástico’.

Paralelamente ao seu trabalho na Globo, Cid Moreira continuou narrando comerciais – sempre em off, por restrições contratuais. A partir de meados da década de 1990, dedicou-se à gravação de salmos bíblicos. Em 2011, cumpriu seu objetivo de gravar a Bíblia na íntegra. Os CDs bíblicos com sua locução se tornaram um grande sucesso, com milhões de cópias vendidas.

Em março de 2010, foi lançado o livro ‘Boa Noite – Cid Moreira, a Grande Voz da Comunicação do Brasil’, pela editora Prumo. A biografia foi escrita pela mulher do locutor, Fatima Sampaio Moreira, e reúne depoimentos de jornalistas, amigos e parentes de Cid Moreira. Nesse mesmo ano, durante a Copa do Mundo da África do Sul, Cid gravou uma vinheta a ser exibida durante as reportagens do ‘Fantástico’ e de programas esportivos da Rede Globo. A vinheta “Jabulaaani!“, nome da bola da Copa, foi um sucesso.

Cid Moreira faleceu em 03 de outubro de 2024, aos 97 anos, no Rio de Janeiro.

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