Idosa morre após ter intestino perfurado durante exame

Uma idosa de 81 anos morreu após fazer um exame de colonoscopia em uma clínica do município de Acaraú, no interior do Ceará, em janeiro de 2022. O Ministério Público denunciou, agora, o médico que realizou o procedimento por homicídio culposo, quando não há intenção de matar.

De acordo com a investigação do MP, Jaci Aires dos Santos teve o intestino perfurado durante o exame. O médico é identificado pela família como Marcio Roney. O MP requer que o médico faça uma reparação à família de, pelo menos, 150 salários mínimos.

O g1 entrou em contato com a clínica onde Márcio Roney atua e aguarda resposta. A reportagem também tentou contato com o próprio médico, mas ainda não recebeu retorno. O perfil da clínica nas redes sociais ainda anuncia atendimentos com Márcio Roney, conforme publicado dia 7 de dezembro, um dia antes da publicação desta reportagem.

Uma familiar da vítima que esteve com a idosa durante todo o momento, relatou ao g1 que antes de realizar o exame, Jaci estava bem de saúde, praticando todas suas atividades cotidianas.

Depois da colonoscopia, ela passou a se debater na clínica, teve inchaço na barriga e morreu horas depois após uma parada cardíaca.

“Ela chegou na clínica bem, chegou andando. Tenho até vídeos que fiz dela de manhã em que estava bem, lendo a Bíblia, brincando”, relatou a familiar.

Jaci precisou passar pelo exame após a família observar mudanças em seu comportamento quanto à alimentação. Ela estava tendo crises constantes de diarreia e passou por vários exames gerais, que apontavam que ela estava bem.

O exame de colonoscopia, no entanto, foi solicitado para tentar apontar exatamente o que a idosa tinha.

A fonte, que prefere continuar em anonimato, relatou que quando entrou no quarto onde a idosa estava, Jaci já havia sido entubada, se debatia bastante e ‘desmaiava e acordava’.

“Ela chegou na clínica com a barriga normal e quando entrei no quarto a barriga estava inchada. Me assustei e questionei o médico, que disse que eram gases e que era normal ela se sentir desse jeito, que em 15 minutos passaria”.

Familiares carregaram a idosa em uma maca pelas ruas da cidade

Marcio Roney em certo momento saiu para atender outra paciente, que iria fazer um exame ginecológico — o que indignou a familiar, conforme a testemunha. Os acompanhantes não sabiam exatamente quais medicamentos estavam sendo inseridos na idosa.

“Foram quatro ou seis medicações. Ele ficava empurrando a barriga dela e disse que fazia para ela poder soltar os gases, que era normal. Com uns 40 minutos que ela estava se debatendo e eu fiquei desesperada, uma enfermeira foi bater na porta onde ele estava, dizendo que era melhor a gente levar ela para outro hospital”.

Sem ambulância, os próprios familiares levaram Jaci pelas ruas em uma maca até o hospital mais próximo, que fica a cerca de uma quadra da clínica. O médico não acompanhou a paciente.

Cerca de 23 horas do mesmo dia, a idosa foi transferida para outro hospital, o Hospital Regional de Sobral, já que o segundo local não havia recursos suficientes para manter a vítima. Jaci Aires, no entanto, faleceu dentro da ambulância, durante o deslocamento.

Segundo laudo pericial cadavérico, a idosa apresentava pulmões difusamente edemaciados, distensão abdominal acentuada e faleceu devido à perfuração da alça do intestino grosso em retossigmoide. Assim, a causa da morte é descrita, conforme o Ministério Público, como “abdômen agudo perfurativo em razão de uma ruptura traumática contusa no cólon”.

O médico foi denunciado, portanto, por homicídio culposo praticado por imprudência, negligência ou imperícia do denunciado. O crime é previsto no Código Penal Brasileiro. O MP requer judicialmente a fixação de um valor mínimo, não inferior ao equivalente a 150 salários mínimos, para ‘reparação individual e coletiva de danos material e moral aos herdeiros da vítima’.

“A gente ainda não conseguiu se recuperar. Vamos ter paz quando a gente ver que ele foi punido por isso. Nosso desejo é que, pelo menos, ela tenha sido a última vítima. A sensação que temos é de impotência. É muito triste ela chegar bem na clínica e sair praticamente morta. Sentimos que foi uma negligência”, concluiu a familiar.

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