Luxemburgo conta por que investiu alto em Alagoas

O técnico Vanderlei Luxemburgo se encantou pelo Nordeste. Foi treinador do Sport no ano passado, morou no Recife e, ali pertinho, viu um mercado promissor em Alagoas. Comprou até uma cachaçaria em Junqueiro, cidade do agreste alagoano, e pensa em levar o produto para longe.

Mesmo assim, com outros projetos, disse que não perde contato com o público. Lançou recentemente um canal nas redes sociais, para falar o que pensa, sem intermediários.

Nessa parte de imagem, de comunicação, hoje eu tenho um canal no Youtube, tenho perfil no Instagram, Face, Twiter, para que eu possa falar de uma maneira uniforme para todo mundo, não exclusivo para um determinando veículo de comunicação, sem ninguém me arguir.

Aos 66 anos, Luxa avisou que ainda está no mercado do futebol, quer treinar um time forte, mas só pega trabalhos grandes. Quase deu jogo com o Santos e o Palmeiras, recentemente. Não fechou. Se não tiver uma proposta que o faça balançar, prefere ficar em Alagoas, pescando agulhinhas de madrugada.

Vanderlei recebeu a reportagem num condomínio da Barra de São Miguel, litoral sul alagoano, e falou sobre os investimentos que está fazendo na região. A relação não começou agora. Vem de longe.

– Ao longo da vida, você observa que as coisas acontecem porque têm que acontecer. Eu vim jogar aqui em 1971, com o Flamengo, e foi a primeira viagem que eu fiz como profissional. Depois eu vim em outras vezes como jogador e técnico, teve aquele fatídico jogo que o ASA tirou o Palmeiras….

No pôquer, Luxa fez um grande amigo alagoano. Foi a ponte.

– Depois, eu conheci o Rogério Siqueira, a família Siqueira, fizemos amizades, ele me convidava muito pra vir pra cá pra conhecer a Barra de São Miguel … Eu vim pra cá passar um Réveillon e aí olhei um local maravilhoso. Uma praia que é uma piscina natural, um local seguro aqui no resort, quando chega no verão 50% do pessoal que vem é de Arapiraca, outros de Maceió, ambiente muito bom.

O treinador disse que investiu também em qualidade de vida. Achou o local que procurava.

– De imediato, eu comprei um apartamento aqui, comecei a frequentar, comprei o barco, fui me estruturando e estou por aqui hoje. Daí, foram surgindo novas situações. Daí veio investimento e uma sequência de outras coisas. A gente viaja o Brasil e o mundo todo. E esse estado aqui oferece uma condição de turismo impressionante. Uma qualidade de vida, você come bem, bebe bem, o povo é um povo nordestino diferente. O povo nordestino é um povo alegre, mas o alagoano ainda é diferente. Ele é muito receptivo, alegre, te trata muito bem, um povo que está sempre de bem com a vida.

As praias e o São Francisco mexeram também com Luxemburgo.

– Sem falar que os lugares aqui são maravilhosos. Você vai para a Praia do Francês, para a Praia do Saco, Pajuçara, faz passeios de barco maravilhosos… E você sai daqui e vai para o rio. Quando você vai no cânion lá do São Francisco, endoidece. Eu acho que os cânions [do São Francisco] têm que estar entre as coisas mais bonitas do mundo. Aquele contraste do rio com os paredões de arenito é um negócio de maluco.

A eliminação

Curiosamente, a história do carioca Luxa com Alagoas teve uma passagem complicada. Coisas do futebol. Em 2002, o Palmeiras, treinado por ele, foi eliminado da Copa do Brasil justamente pelo ASA. E essa história ainda mexe com o treinador.

– Aquilo ficou marcado na minha carreira porque é aquele jogo em que a bola não entra nem a pau. Nós viemos jogar aqui à noite, refletores bem fracos, um campo com uma condição não muito boa de jogo de futebol, mas era o que o tinha e o que o ASA oferecia. Não houve reclamação nenhuma. No jogo de volta, não conseguimos reverter a situação de jeito nenhum. Ficamos em cima, em cima, em cima, e o gol não saiu. Faz parte do jogo de futebol e até hoje o pessoal me zoa bastante.

Luxemburgo comprou um terreno num condomínio de Arapiraca, tem negócios na cidade e disse que os amigos ainda brincam com a eliminação do Palmeiras.

– Numa certa ocasião, fui a Arapiraca, a convite de um amigo nosso que é advogado, e, quando estávamos tomando um uísque, batendo um papo, ele me entregou a um cara que narrou o gol. Eu disse: “Ah, você tá de sacanagem” (risos).

Cachaçaria

O tempo passou, as diferenças com o ASA acabaram e ele fez uma grande amizade com Rogério Siqueira, ex-diretor de futebol do clube. Depois, eles se tornaram sócios para comprar a cachaçaria.

– Eu gosto de apreciar uma cachaça, já provei algumas cachaças boas em Minas, mas, certa vez, ao chegar aqui, me apresentaram a cachaça Brejo dos Bois, que é uma cachaça top de linha, feita com o melado da cana de açúcar, não é feita com o mel. E ela é servida gelada, é sensacional, é como se fosse um licor. É uma cachaça premiada mundialmente, que já ficou em segundo lugar num concurso em Bruxelas, com mais de 200 cachaças concorrendo. Daí, eu conversando com o proprietário da cachaçaria, achamos que ela era muito artesanal, ele não queria produzir industrializar e eu disse: “Mas como assim? Essa cachaça tem que ser mais comercializada, rodar mais ela para o mercado”…

Vanderlei disse que equipou a fábrica e agora pretende exportar a cachaça.

– Então, eu falei com o Rogério Siqueira: “Vamos comprar essa cachaça? E ele disse, vamos. Então compramos ela, vamos mantê-la com a origem orgânica, investimos na fábrica para produzir e abastecer o Brasil, e até mesmo exportar. Onde você oferece, todo mundo gosta e estou super satisfeito de investir. A cachaçaria está passando por esse processo de modernização e volta ao mercado em meados de outubro.

Apoio ao ASA

Luxemburgo, com o prestígio que tem, pode até ajudar o clube alagoano, que caiu para a Série D e passa por um momento difícil em sua história. Ele deu palpites até sobre a reforma no Estádio Coaracy da Mata Fonseca, em Arapiraca. Mas deixou claro que não tem nenhum projeto profissional para o ASA. Uma consultoria, vá lá.

– Eu conheci o prefeito, ele me fez um convite para ir na prefeitura e, quando cheguei lá, já estava uma recepção. Daí ele me fez uma demonstração das obras que pretendia fazer no estádio e me perguntou se eu, com o meu conhecimento no futebol, poderia ajudar na qualidade do estádio para torná-lo com uma pressão positiva, com o calor humano. Eu dei algumas sugestões pra ele e falei que estou à disposição para ajudar a crescer o ASA. Quem estiver dirigindo o ASA, faça um projeto de futebol com início, meio e fim, planejando o ponto de partida e onde estará a tantos anos. Eu não quero executar, eles que executem. Não tem nenhuma ligação profissional, é tudo voluntário, como um cara para ajudar, sem vínculo e sem remuneração.

Luxemburgo também falou que o futebol alagoano precisa de uma gestão profissional. Assim, os clubes podem se desenvolver, pensar em saltos maiores.

– Eu disse lá aos caras numa entrevista: “Vocês querem que o ASA dê certo? Coloquem profissionais, tracem suas metas e vão em busca. E deem a condição para o profissional. O voluntário, ele não sabe de futebol, sabe das suas empresas. Agora muitos vêm pra cá e lidam com a emoção, não pode”.

Fonte: Globo Esporte

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