Driblar a responsabilidade da maternidade com os desafios da carreira é um dilema vivido por muitas mulheres. Cerca de 50% das brasileiras que tiveram filhos que tem uma profissão estavam fora do mercado de trabalho um ano após a licença maternidade. A constatação é da pesquisa “Licença-Maternidade e suas consequências no mercado de trabalho do Brasil”, elaborada pela Escola Brasileira de Economia e Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV EPGE).
A licença-maternidade é o direito mais conhecido, mas não é o único: mulheres grávidas também têm direito à estabilidade, mudança de função ou setor, consultas, exames e amamentação. Esses direitos estão presentes na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT, decreto-lei nº 5.452). Mas, mesmo com estas garantias, há muitos motivos da distância profissional ligadas a maternidade. Geralmente, têm a ver com renda insuficiente para contratar uma babá e até pedido de desligamento da empresa pelas próprias mães para poder ter mais tempo para cuidar dos filhos.
E foi esse conflito que a jornalista Leia Araújo, 30 anos, enfrentou. Ela é mais um exemplo de mulher, mãe e profissional que vivenciou recentemente este drama.“Os primeiros dias de retorno ao trabalho foram os mais difíceis. Apesar de deixar meu filho com minha mãe ou sogra, pensava nele o tempo todo e, muitas vezes, me sentia mal por não estar com ele. Sei que nos primeiros meses de vida de uma criança é essencial ter a mãe por perto”, considera Leia. O consolo vinha dos benefícios assegurados pelo trabalho, como plano de saúde que assegurava cobertura à toda família. “Eu precisava trabalhar para poder dar a ele uma vida melhor”.
A realidade de Leia confirma a estatística. Quando o filho completou 11 meses, o sofrimento por não estar perto dele falou mais alto. “Não tinha tempo para curtir meu filho e nem para estudar. Eu já estava pretendendo voltar para faculdade depois da gestação. Por isso, quando cheguei no meu limite, pedi demissão”, conta sem arrependimento da decisão.
Vale lembrar
A pesquisa revela também que, geralmente, quando um casal tem filhos pequenos na família, a participação das mulheres no mercado de trabalho segue bem abaixo em relação à participação masculina. Para fazer um comparativo, o percentual de mulheres empregadas entre 25 e 44 anos e com um filho de até um ano de idade cai para 41%. Apenas 28% destas mulheres trabalham 35 horas ou mais por semana no Brasil. A realidade é oposta para os homens, 92% com filhos de até um ano estavam trabalhando, sendo que 82% em atividades com 35 horas ou mais de carga horária no trabalho.
Outra dificuldade enfrentada pelas mulheres, na visão de Leia Araújo, é a retomada ao mercado de trabalho após a maternidade. “Em entrevistas, sempre me perguntaram se eu tinha filho e se teria alguém para cuidar dele. Percebi que teria que ouvir isso sempre que participasse de uma seleção, mas nunca perdi um trabalho por conta disso”, recorda acrescentando que as mulheres, além de competentes, precisam ser determinadas e ter foco para não desistir da carreira profissional. “Apesar de todas as dificuldades, para mim a maior recompensa é chegar em casa do trabalho e vê-lo correr até a porta, me abraçando e dizendo que me ama. Isso não tem preço e paga todas as noites em claro e todo o esforço de ser mãe”, conclui.