PM que beijou homem no Metrô recebe apoio em redes sociais de policiais, bombeiros e agentes LGBT
Gay assumido, o soldado passou a ser vítima de homofobia após divulgação pelo WhatsApp de vídeo no qual aparece fardado beijando outro homem na boca no Metrô de São Paulo.
A gravação feita no mês passado não foi consentida por Prior. Mas a divulgação das imagens viralizaram, e o policial recebeu ameaças pela internet, inclusive de morte. Algumas das ofensas foram feitas até por colegas de farda.
A PM e a Polícia Civil de São Paulo apuram o caso e tentam identificar os autores para puni-los administrativamente e criminalmente. Devido à repercussão, o soldado ficou abalado psicologicamente e está afastado do trabalho para tratamento médico.
Mas há quem se sensibilize com a história de Prior. É o caso dos integrantes da Rede Nacional de Operadores de Segurança Pública LGBT (RenospLGBT), criada em 2010 e que conta com mais de 60 participantes em todo o Brasil. Os membros do grupo, que são gays, lésbicas e transexuais, começaram no Instagram uma campanha em apoio ao soldado de São Paulo.
Sob a hashtag “#somostodosprior”, os integrantes do Renosp postam fotos fardados com a bandeira do arco-íris, símbolo da comunidade LGBT, e mensagens de incentivo ao soldado da PM paulista.
Em entrevista nesta sexta-feira (13) ao G1, o agente penitenciário de São Paulo Breno Agnes, um dos integrantes do movimento, disse que o objetivo é demonstrar publicamente que os profissionais são “orgulhosamente gays”, além de “oferecer solidariedade ao Prior, porque já experimentamos situações parecidas”.
A ideia é a de que essas imagens de policiais, militares e agentes gays fardados ajudem também a combater a homofobia nas corporações.
“Já sofremos com a homofobia, seja ela institucional, escancarada ou velada”, acrescentou Agnes.
No Instagram, há imagens de diversos integrantes da rede apoiando Prior, como bombeiros de Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, um delegado fluminense, um policial civil do Mato Grosso, agentes penitenciários de São Paulo e da Bahia, PMs do Distrito Federal e Minas Gerais, dentre outros.
Um dos integrantes da campanha, um PM de Minas Gerais, escreveu: “Orgulhosamente Policial Militar, orgulhosamente Gay! #SomosTodosSDPrior #lgbt #stophomophobia”.
Segundo Agnes, a RenospLGBT “tem como objetivo não só lutar contra a homofobia, mas trabalhar para uma segurança pública que atenda a diversidade”.
Procurado pela reportagem para comentar esse apoio que recebeu da web, Prior disse que a iniciativa fortalece a comunidade LGBT no combate ao preconceito contra a orientação de gênero sexual de cada militar que ainda existe nos quartéis do Brasil.
“Achei linda a iniciativa. Lisonjeado. Mostra que não estou só”, comentou Prior. “Adorei. Mostra que o assunto está saindo não somente dos ‘armários’ mas sim dos quartéis Sem dúvida, essa união é mais que necessária!”
O soldado Prior chegou a agradecer diretamente no Instagram o apoio que vem recebendo de colegas de diversas fardas pelo país. “Muito obrigado pelo apoio, pelo respeito, pelo carinho, irmão.”
“Vi que todos se propuseram a colocar suas fardas, seus uniformes e tirar uma foto prestando apoio. Foi algo que me deixou muito surpreso. Uma iniciativa que jamais esperaria de companheiros da mesma área”, disse Prior ao G1.
#SomostodosPrior
Na rede social da RenospLGBT, o delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro Mario Leony defendeu que os colegas tenham orgulho da orientação sexual, seja ela qual for. “Pelo fim da LGBTobia nos órgãos de segurança pública! Hoje o amor ousa dizer o seu nome!”, afirmou ele.
O bombeiro militar fluminense Rodrigo Figueiredo também postou sua foto apoiando Prior. Ele pediu que os profissionais de segurança não escondam suas orientações sexuais. “Minha mãe me ensinou a não mentir, e não será você que fará diverso sobre minha orientação sexual”, escreveu ele, apoiando o soldado da PM de São Paulo.
“Profissionais da Segurança Pública também são coloridos. O arco-íris é uma aliança de amor entre fortes, poderosos, fracos e oprimidos”, acrescentou em sua postagem Agnes.
“Muitos operadores de segurança têm relações sociais, familiares e profissionais bem frágeis. A RenospLGBT tenta oferecer apoio e força para os membros. Somos uma rede composta por pessoas e também precisa se sentir acolhida, segura e respeitada”, explicou Breno Agnes sobre a campanha à reportagem.
“Nas corporações policiais e militares existem lésbicas, existem gays, existem trans. Eles continuam trabalhando e devem permanecer. Não é critério de diminuição dos índices criminais a condição sexual. Como qualquer outro lugar de chefia e direção de qualquer outra empresa ou corporação”, disse Prior na entrevista que deu à reportagem no início desta semana.
“A hashtag #somostodosprior surgiu porque é algo que não apenas atingiu pessoalmente o Prior, mas a comunidade como um todo, não só a de segurança ou a LGBT, mas a sociedade. Porque as pessoas passaram a ser punidas ou perseguidas por coisas normais, como dar um beijo, que é um direito. Então decidimos iniciar esta campanha e, em breve, queremos convocar toda a sociedade para participar”, disse Alexandre Dias, que é PM no Distrito Federal e um dos porta-vozes da rede.