Caso Davi: 4 anos sem desfecho

Quase quatro anos depois, uma sucessão de crimes que beirou a selvageria parece caminhar para o esquecimento. A pergunta “Onde está Davi da Silva?” continua ecoando, sem resposta. Uma história de agosto de 2014, protagonizada por policiais militares, dois usuários de drogas e uma busca por traficantes na periferia de Maceió. Um enredo sem corpo, sem presos, sem justiça e quase sem esperança de um desfecho.

“Fique de cabeça baixa, vagabundo! É a polícia!”. “Não olhe pra nós; agora abra as pernas, abra as pernas bem abertas e agora se ajoelhe, quero ver você se ajoelhar”. As citações são de uma guarnição da Polícia Militar de Alagoas, durante uma abordagem, e constam no inquérito policial – que a Gazeta de Alagoas teve acesso – instaurado para apurar o sequestro, homicídio e ocultação do cadáver do adolescente Davi da Silva.

“Mas o menos experiente dos policiais saberia que Davi não passava de um usuário atrapalhado… Que sequer conseguia falar”. Já essa fala consta na conclusão da investigação feita pela comissão de delegados, que acompanhou o caso.

O caso Davi Silva, como ficou conhecido, é um dos mais emblemáticos dos últimos anos. E hoje? Quase quatro anos depois do ocorrido, o processo está parado na Justiça alagoana e a sindicância aberta pela Polícia Militar foi arquivada. Davi e o amigo Raniel Victor saíram de bicicleta e tinham R$ 10 para comprar maconha no Conjunto Cidade Sorriso, na parte alta da capital, quando foram surpreendidos por uma guarnição do Batalhão de Polícia de Radiopatrulha (BPRP).

Nos relatos feitos à polícia, Raniel – principal testemunha do caso e assassinado em novembro de 2016 – disse que Davi, que tinha 17 anos, ficou nervoso durante a abordagem, quase não conseguia falar, chorava, situação agravada pelo fato de ser gago, e acabou jogando uma bombinha de maconha no chão. Foi repreendido pela policial Nayara Andrade, que questionou ao adolescente “se ele achava que ela era uma cachorra”.

A partir daí, segundo o inquérito policial, os militares ficaram irritados com o adolescente, que teria “tratado mal” a colega de farda.

De usuários de drogas, Raniel e Davi acabaram confundidos com traficantes da região do Benedito Bentes, segundo a polícia. “O desaparecimento e morte de Davi, além de tudo, representam um crime de preconceito, onde o mais forte se acha senhor da vida e da morte do mais fraco. Davi fora condenado porque, nervoso, jogara o cigarro de maconha no chão e enrolara-se para falar, afinal, era gago”, aponta um trecho do inquérito policial que investigou o caso.

 

Fonte: Gazeta de Alagoas 

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