Bota-PB e Campinense tentaram subornar árbitro de Alagoas na final do Paraibano

O então presidente da Comissão Estadual de Arbitragem de Futebol da Paraíba (Ceaf-PB) – que caiu do cargo após os desdobramentos da Operação Cartola -, José Renato, bem que tentou garantir que a arbitragem da grande final do Campeonato Paraibano de 2018 fosse da Paraíba. Mas não conseguiu. Os clubes finalistas, Botafogo-PB e Campinense, preferiram pôr em prática o intercâmbio de árbitros entre federações nordestinas e pediram à Ceaf-PB arbitragem de fora. Parecia que queriam dar mais lisura aos derradeiros jogos da competição. Mas só parecia. A vinda de um forasteiro não intimidou dirigentes de Belo e Raposa, que tentaram negociar com o árbitro alagoano Francisco Carlos do Nascimento, o Chicão, favorecimento aos clubes no duelo de ida, em Campina Grande.

GloboEsporte.com teve acesso a algumas das interceptações telefônicas realizadas pela Polícia Civil e aos relatórios da investigação e ficou constatado que o presidente do Campinense, William Simões, e o vice-presidente de futebol do Botafogo-PB, Breno Morais, foram atrás do árbitro alagoano para oferecer propina.

Em conversa gravada no dia 3 de abril, dois dias antes do primeiro jogo da final entre Campinense e Botafogo-PB, em Campina Grande,  é possível ouvir Breno Morais perguntando a José Renato, presidente da Comissão Estadual de Arbitragem de Futebol da Paraíba (Ceaf-PB), sobre as escalas de arbitragem das partidas da final.

Renato informa quais são os árbitros que vão para o sorteio, destacando que Chicão apitará um jogo e Cláudio Francisco Lima e Silva, de Sergipe, ficará a cargo da outra final. Ambos do quadro nacional da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

Foto: Reprodução / GloboEsporte.com

Então, Breno pede que o árbitro alagoano faça o jogo de volta, que seria em João Pessoa, no Almeidão, já que o Botafogo-PB decidiria o título em casa.

O mandatário da Ceaf-PB explica que não daria para fazer isso porque Cláudio iria apitar Atlético-PR x São Paulo, pela Copa do Brasil, um dia antes da partida de ida do Paraibano. Ou seja, seria cansativo para o árbitro sergipano ficar a cargo da primeira final.

Horas depois do diálogo entre os dirigentes, na sala de reuniões da Federação Paraibana de Futebol (FPF), em João Pessoa, Chicão foi designado para o jogo de ida, no Estádio Amigão, enquanto que Cláudio Francisco Lima e Silva foi “sorteado” para o confronto do Almeidão.

A partir daí, as articulações de bastidores começaram numa ponte que envolvia João Pessoa, Campina Grande e Maceió. No mesmo dia, Breno Morais acionou um dos seus contatos no meio do futebol em Alagoas, identificado pela polícia como Alex.

O emaranhado deste novelo antidesportivo foi descoberto pela Operação Cartola. Também no dia 3 de abril, em conversas gravadas pela polícia, o presidente da Raposa, William Simões, é flagrado também querendo entrar em contato com o árbitro alagoano.

O presidente entra em contato com Danilo Corisco, massagista da FPF que é apontado por alguns denunciantes como interlocutor de Treze e Campinense na abordagem com árbitros, avisando que Chicão foi sorteado para o jogo de ida da final, como o próprio Simões havia pedido para a Ceaf-PB.

No dia seguinte ao jogo de ida da final, em que o Campinense venceu o Botafogo-PB por 1 a 0 no Amigão, foi registrada pela polícia uma conversa entre o árbitro Renan Roberto e o auxiliar Dguerro Xavier, que também são investigados na Operação Cartola. Nela, eles analisam a atuação do árbitro alagoano na partida e um deles desconfia da performance do colega de profissão.

O árbitro alagoano Chicão disse ter conhecimento das escutas e argumentou que não sabia que estava falando com o presidente do Campinense. Para ele, Danilo, que é da FPF, havia passado o telefone para alguém da Federação.

“Existe uma conduta que a Federação que recebe um árbitro de fora dá toda a assistência e paga o hotel. E Danilo é a pessoa que sempre nos dá assistência nesses casos. Eu já trabalhei muito na Paraíba, sempre venho aqui. Então eu achei que estava falando com alguém da FPF. Alguém que estava avisando sobre o hotel e desejando um bom jogo. Eu jamais falaria com o presidente do Campinense, se soubesse que era ele. De jeito nenhum. É muito triste essas coisas acontecerem com a gente. Mas a gente sabe que existem pessoas que vendem o árbitro e o árbitro sequer sabe disso. Acontece muito. Eu estou com a consciência tranquila”, disse o árbitro.

Chicão tem 40 anos e é o principal árbitro de Alagoas. Faz parte do quadro nacional da CBF e virou árbitro da Fifa em 2012, onde permaneceu até 2014.

O presidente da Federação Alagoana de Futebol (FAF), Felipe Feijó, também foi procurado, mas a assessoria informou que por ora ele não vai se pronunciar sobre o caso.

Informações dão conta de que Feijó esteve reunido com Chicão na tarde desta segunda-feira, logo após o escândalo vir à tona.

 

 

Globo Esporte

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