Líbano realiza as primeiras eleições em quase uma década

O Líbano entra, neste domingo (6), em uma etapa fundamental para tentar superar as divisões políticas e religiosas do país, com a realização das primeiras eleições legislativas em quase uma década. Deverão participar cerca de 3,6 milhões de eleitores.

Desde a sua independência, em 1943, o país ganhou território, acrescentando ao seu mapa regiões férteis como o Vale do Bekka e o do Akkar. No entanto, a isso se somou a instabilidade. O país se depara com um histórico de governos frágeis, devido à sua complexa compsição religiosa e a interesses das potências globais, como Estados Unidos, Rússia e França.

A última crise ocorreu em novembro último, depois de o primeiro-ministro Saad Hariri renunciar durante uma viagem a Riad (Arábia Saudita), sentindo-se ameaçado pela influência do Irã e a atuação do grupo radical xiita Hezbollah, que tem representantes do parlamento e no governo locais.

Hariri, sunita, retornou ao cargo após negociação e agora faz parte de uma surpreendente aliança com o grupo do presidente Michel Aoun, cristão maronita. As eleições serão marcadas por um novo sistema proprocional, que pretende estruturar uma justa divisão entre os grupos que compõem o país, como os cristãos (40%), sunitas (27%) e drusos (de linha muçulmana específica).

Há também os grupos não-religiosos. Entre os muçulmanos, a presença de palestinos se iniciou maciçamente nos anos 70, após a grande expulsão deles da Jordânia, conhecida como Setembro Negro, e a instalação da então Organização para a Libertação da Palestina.

Esse emaranhado de interesses já foi causa de uma sangrenta guerra, a do Líbano (1975-1990), em que Israel teve participação, interessada em anular a influência da OLP, que havia criado praticamente um Estado dentro do Estado.

Na ocasião, a morte de Bashir Guemayel, em atentado com carro-bomba, levou ao massacre de Shabra e Chatila, impetrado por forças cristãs como retaliação. Guemayel fazia parte das Falanges Libanesas, grupo cristão de extrema-direita que tinha o apoio de Israel, e estava prestes a assumir a presidência.

País de refugiados

Com o fim da guerra, em 1990, o Hezbollah, milícia xiita considerada terrorista por alguns países ocidentais, foi ganhando força, substituindo a OLP como inimigo de Israel dentro do território libanês.

Em 2005, o pai de Saad, Rafik Hariri, pouco tempo depois de deixar o cargo de primeiro-ministro, também foi assassinado, em crime que foi atribuído à Síria em parceria com membros do Hezbollah. O autor específico, porém, nunca foi revelado. Os acusados negam serem os autores.

A esperança é que, depois de um período sem eleições, em função das crises, esse sistema proporcional permita a abertura de espaço para mais grupos independentes, o que, teoricamente, poderia reduzir o poder daqueles que há anos vêm predominando no cenário político.

O temor é que essa abertura amplie ainda mais as divisões no país, endividado e, além dos desafios políticos, buscando suportar economicamente a chegada de inúmeros refugiados, vindos da guerra na vizinha Síria.

Segundo a Acnur (Agência das Nações Unidas para Refugiados), o Líbano abriga cerca de 1,5 milhão de refugiados da Síria. É a nação que tem a maior população relativa de deslocados de países, devido a conflitos e violência interna. A Comissão Europeia, em estudo divulgado em janeiro de 2018, informou que 30% dos que habitam o país são refugiados.

Desde os anos 40, o sistema político libanês visa a distribuição do poder aos grupos predominantes. A constituição da época estabeleceu que o cargo de presidente seja destinado a um cristão maronita; o de primeiro-ministro a um muçulmano sunita e o de presidente da Assembleia Nacional, a um xiita.

A Assembleia Nacional foi criada para dar estabilidade ao país, após a guerra civil. As 128 cadeiras são divididas igualmente entre muçulmanos e cristãos. Há a expectativa de crescimento Hezbollah, que possui atualmente 12 cadeiras e é aliado da Síria. Após a morte de Rafik, forças sírias deixaram o país formalmente, mas podem manter sua influência por meio deste grupo.

 

 

R7

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