Brasília comemora 58 anos

Crédito: Estadão

Há quase 60 décadas, Brasília era inaugurada. Liderados por Juscelino Kubitschek, milhares de colaboradores comemoravam a fundação da nova capital do Brasil com a certeza de que no Planalto Central havia um futuro promissor. Estimulados pela esperança, operários e máquinas desbravaram o cerrado de olho na prosperidade. Naquele instante, emprestaram à cidade que surgia, o primeiro — e maior — potencial da região: o humano. Gente de todos os cantos do Brasil continuavam a chegar para provar que Brasília tinha capacidade de se transformar em uma referência não só no país como no mundo.Exatos 58 anos depois, orgulhosos brasilienses seguem a trilha deixada pela força dos pioneiros. Foi assim que a capital se destacou nas mais diversas áreas. Segmentos mesmo consolidados fundamentam a vocação e os potenciais imobiliário, agropecuário, esportivo, cultural, gastronômico, ambiental, industrial, de mobilidade, turístico, científico e comercial de uma cidade em desenvolvimento constante.

Brasília monumental, planejada, moderna e ousada. Fruto de criatividade, genialidade e persistência, nasceu útil, eficiente e talentosa. A menina virou senhora, mas nem por isso perdeu o pioneirismo e a capacidade de inovação. Capital do país, da arquitetura e do design — não à toa que, no ano passado, recebeu o título de cidade criativa do design, concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

Entrar para o seleto grupo dos integrantes da Rede de Cidades Criativas, é prova que as mentes talentosas e os produtores locais se fizeram notar.Isto demonstra o movimento ascendente que imprime a identidade da cidade nas produções. São móveis, joias, roupas, acessórios e produtos gráficos cada vez mais difundidos e representando a capital brasileira.

Um nome de destaque do design mobiliário é Danilo Vale, 33 anos. Formado em desenho industrial pela Universidade de Brasília (UnB), Danilo nasceu e cresceu em Brasília, inspirando-se na cidade para fazer as peças de movelaria que, nos últimos anos, ganharam visibilidade nacional e internacional. Além de participar frequentemente de mostras importantes como CasaCor e Paralela Móvel, foi finalista, em 2015, no Salão de Design, um dos mais importantes prêmios da América Latina.

Em 2014, a Paris Design Week selecionou Danilo como uma das promessas da área. No evento foram expostas quatro peças dele, entre elas duas que representam diretamente Brasília: a cadeira Athos, com o desenho do artista no encosto, e a mesa Planalto, com influências do modernismo. “As peças foram vendidas em leilão e a aceitação foi muito boa. Acho legal a gente incorporar o design à imagem da cidade, mostrar esse movimento que estamos construindo aqui. Temos muita coisa bacana: música, teatro, artes plásticas e agora o design entra como um dos pilares”, ressalta.

Danilo se prepara para expor dois produtos na New York Design Week, em maio. A cadeira Athos continua entre as representantes. Além do móvel, Danilo investiu em outra proposta: óculos. Projetados para a loja Rever, serão levados os modelos Agosto — mês simbólico de Brasília que remete à seca e aos ipês — e Dom Bosco — em homenagem ao visionário religioso que previu a cidade no século 19.

Um lançamento, a poltrona Tsuru, trabalhada em vidro temperado e estofado em linho, concorre ao prêmio A Design Awards, que será divulgado no fim do mês. “Temos outros padrões, outras proporções típicas e marcantes de Brasília e isso estará sempre presente nas produções, mesmo que de forma implícita, levando a inspiração da cidade. As indústrias, empresas locais também estão valorizando o profissional brasiliense e aproveitando essa parceria como uma estratégia comercial”, destaca.

Gráfico

Quem também percebe o crescimento do mercado e valorização da área é o designer gráfico Henrique Eira. Formado pela UnB e mestre pela CalArts, o profissional teve quatro projetos selecionados para a Bienal Brasileira do Design Gráfico, maior evento e premiação no ramo. Destes, o trabalho Volume one foi um dos 50 destaques eleitos por unanimidade pelo júri, ganhando espaço na exposição da bienal.

“O design gráfico é também uma atividade cultural que compõe o nosso ambiente. Antes, essas manifestações estavam muito voltadas aos grandes polos São Paulo e Rio. Hoje, vemos a valorização e destaque de outros locais, como acontece com Brasília.Ter várias pessoas fazendo trabalhos de qualidade, representando a cidade e sendo reconhecidas por isso, incentiva cada vez mais o crescimento do ramo”, afirma.

Atualmente, Eira faz mestrado na UnB, cujo foco é o estudo do design e a relação com os ambientes urbanos, com ênfase na narrativa simbólica de Brasília e como a cidade se comunica com a produção gráfica. “A cidade inspira. Tanto pela arquitetura e urbanismo do Niemeyer e Lucio Costa quanto pelos trabalhos artísticos de Athos Bulcão. A paisagem da cidade conversa com a natureza, o cerrado. É justamente este contraste, o pensamento urbano que está presente, mesmo que de maneira indireta. Os trabalhos e os produtores locais são outras referências. Não só os grandes mestres, mas as pessoas que estão aqui agora, repensando e ocupando a cidade”.

Eira colaborou em uma das coleções do projeto voltado à experiência de viver Brasília: o Aqui em BSB. A proposta é desenvolver cartões-postais da cidade, com o objetivo de retratá-la de maneira não estereotipada. As idealizadoras, Isabella Brandalise, 28 anos, e Ana Cecília Schettino, 27, começaram as produções em 2013 e, de lá para cá, foram 12 coleções de cartões, com uma média de cinco peças cada.

Cada coleção traz um tema que vai desde perspectivas, relações pessoais, resgates históricos e movimentos. Tudo relacionado a Brasília. São ilustrações, fotografias, textos, gráficos, distintas formas de linguagem para trabalhar com a provocação de sensações.

“Da nossa parte, é um trabalho que permite experimentação, liberdade de desenvolvimento de uma maneira menos tradicional. E é muito gratificante quando as pessoas se veem, se identificam. Traz muito a questão afetiva com a cidade, o resgate de memória e até o humor”, conta Ana Cecília. Cada postal é vendido a R$ 6 na Banca da Conceição (308 Sul) e na Cafeteria Ernesto (115 Sul).

O estilo brasiliense na moda

A arte também está na maneira de se vestir, nas roupas, ornamentos, detalhes, acessórios e nas joias. É criatividade andando pelas ruas. A produção local que, de tão representativa e única, se espalha aos quatro cantos.

Uma das marcas que se propõe a traduzir o estilo brasiliense é a da designer de moda Daniella Naegele, 46 anos. Em 1989 ela criou a marca Avanzzo, que se transformou em referência na capital, com produção anual chegando a uma média de 60 mil peças. “Estamos focados no estilo de vida da mulher brasiliense, que gosta de consumir moda, está sempre antenada e busca praticidade, reflexo da vivência e da dinâmica da cidade”, destaca Daniella.

Apesar de o público-alvo ser a brasiliense, a marca consegue atingir turistas e clientes de outras regiões, que também se identificam com as roupas, sapatos e acessórios. “Assim, as mulheres acabam vestindo um pouco de Brasília. A harmonia, arquitetura, repetição das quadras, o horizonte do céu. São características, conceitos da cidade e das brasilienses que influenciam diretamente na moda, desde a escolha da cartela de cores, ao tecido, modelagem, estamparias”.

Quem também encontrou na capital a chave para o sucesso foi a artista plástica e designer Vânia Ladeira, 52 anos, reconhecida internacionalmente pela produção de joias autorais e artesanais, com destaque em mandala. “Brasília, por ser um local esotérico e diferente, me inspira com as mandalas, um ícone do meu trabalho. Além disso, sempre criei peças com referência na arquitetura, nos monumentos, nas paisagens da cidade. Tudo é muito lindo e de traços marcantes”, conta. São dezenas de medalhas e pingentes com o toque da cidade. Dentre os destaques está a gargantilha Paranoá, feita em prata com banho de ródio branco e pedras águas marinhas brutas e lapidadas.

O mais novo trabalho de Vânia é inteiramente inspirado nas formas arquitetônicas da capital federal. São 40 peças limitadas e voltadas para o público masculino. A coleção celebra modelos que remetem à cidade como a pulseira JK e os anéis Paranoá, Athos Bulcão e Catedral.

 

Fonte: Correio Braziliense

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *