Naiara Azevedo diz que cansou de ouvir que não faria sucesso ‘por ser mulher e gorda’

No intervalo de uma rápida passagem por São Paulo, cujo roteiro incluía gravação do programa de Sabrina Sato, entrevista no Deezer e um bate-papo no Spotify, a cantora sertaneja Naiara Azevedo, 28, recebeu a reportagem no hotel em que estava hospedada, no centro da cidade.

Não havia tempo para grandes produções. “Pode ser bem cedinho?”, sugerimos. Ela topou. E assim recebeu a equipe às 8h, no quarto, enquanto se arrumava para o primeiro compromisso do dia. A agenda apertada é reflexo de um dos melhores momentos de sua carreira.

Depois de estourar com “50 Reais”, em 2016 (que soma mais de 300 milhões de visualizações no YouTube), a cantora paranaense decolou. Emplacou outros hits (“Mordida, Beijo e Tapa” foi a música mais tocada nas rádios brasileiras em maio do ano passado), colecionou convites para programas de TV (incluindo participação no Big Brother Brasil) e irá integrar o quadro do próximo Show dos Famosos, no Domingão do Faustão, que estreia neste domingo (25).

“Já conversei com a produção do programa e, se precisar, eles vão mandar uma galera para a estrada comigo”, diz a cantora, que vai conciliar os três meses e meio de ensaios com a agenda, que chega a 28 shows por mês. “Vai ser uma coisa louca.”

Por que escolheu gravar seu último DVD, “Contraste”, no morro do Vidigal?
Azevedo – Justamente porque quando a gente fala no Rio, a gente pensa em funk, em samba, e não em sertanejo. O comum e o óbvio todo mundo faz. Não é fácil montar o cenário e subir caminhão por aquelas vielas. Tem aquela vista incrível do Bar da Laje, do morro do Vidigal ao pôr do sol.

Em que momento você decidiu que seria cantora?
Azevedo – Sempre cantei, desde criança. Mas era totalmente fora do comum imaginar que fosse viver disso. Aos 17 anos, comecei a estudar estética e cosmetologia, fiz pós-graduação, e a cantar em barzinhos. No dia 8 de março de 2011, tive a certeza de que queria viver de música. Participei de um show de Gusttavo Lima, foi meu primeiro contato com o grande público. Foi a primeira vez que me senti uma artista.

De onde veio a inspiração para compor “50 Reais”?
Azevedo – Esse fato cabuloso aconteceu comigo. Estava reunida com um grupo de compositores talentosos e aí sentamos e escrevemos a letra. Não digo que a história é 100% verídica porque teve a criatividade de outros compositores, mas a base é essa: peguei no flagra.

Você mudou seus hábitos alimentares e perdeu 30 quilos. Como foi essa transição?
Azevedo – Não estava bem para meu o público nem comigo mesma. Sentia muita dor no joelho. Gosto de dançar, meu show é super para cima, subo no palco para quebrar tudo. Mas isso tem consequências quando você está acima do peso. O médico me falou que eu estava num ponto em que, ou fazia uma cirurgia, ou emagrecia. Pensei: não posso me dar ao luxo de sair de férias, então vou fechar a boca.

Sofreu preconceito no início da carreira por ser mulher?
Azevedo – No início as portas estavam todas fechadas. Falavam: mulher cantando sertanejo? Não vai dar em nada. Gorda, ainda, imagina! Isso não vai virar para você nunca. Cansei de ouvir isso. Só que tanto faz o que os outros falam, o que importa é aquilo em que acredito. E aqui estou hoje.

Você se considera feminista?
Azevedo – Existe o feminismo que luta pela igualdade de salário, de mercado de trabalho, que iguala a mulher ao homem. Nessa forma de feminismo, eu me enquadro. Quero igualdade, salários iguais e respeito.

Por que tem tanta mulher fazendo sucesso no sertanejo?
Azevedo – As mulheres sempre foram sucesso, mas atrás dos palcos. Grande parte das composições, hits e sucessos que vocês já cansaram de cantar e ouvir ao beber vieram das nossas bocas, corações e mentes. A gente não grava só músicas nossas -também dou muito valor ao trabalho dos compositores, recebo muita música boa da qual sou intérprete. Sou fã dessas mulheres todas.

Fonte: Folhapress

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