DA GLÓRIA À QUEDA

Futebol é paixão. Simples assim. Não se escolhe um clube para torcer. Seu coração é escolhido. Você é arrebatado por uma força inexplicável.

Certamente há influências de toda ordem nesse processo entre quem escolhe e quem é escolhido. Esse sentimento não nasce do acaso.

Pode nascer pelas cores da camisa ou pelo coro entusiasmado da torcida. Nasce porque seu pai sempre foi apaixonado e te levava desde garoto ao campo ou porque seu avô era fanático e te contava histórias de grandes jogos do passado. Nasce simplesmente porque ele é da sua cidade, ou porque quando você vai embora pra outro lugar, é o time que lhe mantém ligado a ela eternamente. Alguma coisa em algum momento tocou seu coração.

Futebol não é uma ciência exata. Às vezes o time mais estruturado, que tem o maior orçamento, não ganha o título. Às vezes o time com o elenco mais desacreditado não cai. Às vezes o time que mais ataca, que joga melhor, é que perde o jogo. Acontece. Às vezes é a injustiça e a incoerência que ganham o jogo.

Por mais de setenta anos nós alimentamos o sonho do título. Batemos na trave duas vezes: em 1977 e 87. Talvez você não tenha nem notado que mesmo sem ainda conquistá-lo, o hino do tricolor diz “Tu és o nosso campeão”.

Mas como assim, se não ganhamos o título? Se não levantamos a taça nem ainda demos a volta olímpica. Campeão de que?

Campeão pela garra com que sempre enfrentou seus adversários; campeão porque se impunha jogando em casa; pela rivalidade com o ASA (e pela euforia em vencê-lo); campeão pela revelação de tantos pratas da casa; por jogos memoráveis contra CRB e CSA; campeão por tanta emoção que o CSE já nos proporcionou, que a taça de campeão talvez seja só um mero detalhe.

Futebol é esperança, emoção, alegria, sofrimento. É um sonho. E às vezes vira pesadelo. Gigantes já tombaram. O Corinthians já caiu para a segunda divisão. O Palmeiras também. Atlético Mineiro, Grêmio, idem. A Itália, tetracampeã mundial, não vai a Copa este ano. A Holanda, outra grande força do futebol, também ficará de fora.

Dói. É ruim. Mas acontece.

O que aconteceu este ano com o CSE doeu diferente no torcedor. Não foi “só” o rebaixamento. Não foi “só” a humilhação da goleada sofrida no último jogo para um time que tinha metade do elenco vinda do juniores. Não que eles não tivessem mérito. Ao contrário. Eles só tiveram! Essa derrota de 4×1 em Capela, foi o nosso 7×1 da Alemanha.

Os garotos jogaram com o coração na ponta da chuteira. Deram o sangue. Após a derrota ficou evidente a “Dimensão” do buraco que nós estávamos. Faltaram ao nosso tricolor coração e sangue durante todo o campeonato. Mas foi a falta de cérebro que nos levou à segunda divisão.

Uma sequência de passos errados, motivados pela interferência indevida no dia a dia do clube.

Em toda história do CSE, foi da prefeitura a responsabilidade principal a manutenção do clube.

É assim em todo lugar onde a economia local não consegue bancar a paixão da cidade. Mas sempre foi uma parceria entre os torcedores que historicamente se dispuseram a comandar o tricolor e a prefeitura, obviamente na pessoa do prefeito que estivesse no mandato. Havia um envolvimento geral.

O período mais exitoso do clube foi no período do prefeito Helenildo e do Presidente Hamilton Didier, junto com Pedro Paulo, Onofre, Nivaldo e tantos outros. Na gestão de Gileno do mesmo jeito, e assim também foi com Mazé, Cordeiro, e por último com James e Zé Oliveira, Antonio Oliveira e Helenildo Neto.

Os prefeitos se dispunham a ajudar, a buscar patrocinadores, a motivar, a sugerir também como qualquer torcedor, e claro, a torcer. Dessa vez não. Agora o técnico foi uma escolha pessoal do prefeito, antes mesmo até de se montar a diretoria, formada por pessoas de bem, mas sem nenhuma autonomia.

O prefeito chegou a despachar o técnico da arquibancada, jogando pra torcida. Parece piada, mas não é. E por ironia do destino, o técnico demitido despachou o CSE para a segundona. Aí sim, viramos a piada. Futebol e política não se misturam.

Realmente não tinha como dar certo, e por isso doeu tanto no torcedor.

Não foi perder o jogo. Foi não ganhar nenhuma em casa. Não foi a goleada sofrida. Foram as bolas fora da administração. Não foi a ajuda oficial. Foi a interferência indevida, a indiferença e o desrespeito.

A glória não estava no título.

Nós não tínhamos o título, mas tínhamos a glória. Ela estava na garra, dentro e fora de campo. Estava na tradição, no envolvimento da cidade.

Já caímos outras três vezes, mas as quedas de outrora só fizeram ralar o joelho. Dessa vez não. A queda de agora machucou nosso coração.

2 comentários sobre “DA GLÓRIA À QUEDA

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