Hiperatividade: Como identificar o aluno com esse problema?

Diego Vieira – Psicólogo CRP 15/4764

 

A atualidade ao tempo em que avança em termos qualidade nas metodologias de ensino, acompanha um crescimento também similar no que se refere a identificação dos principais problemas na sala de aula, vivenciado pelo professor. Além dos transtornos de aprendizagem, os transtornos do neurodesenvolvimento também tornaram-se temas relevantes no cenário educacional. Entre os comportamentos das crianças “portadoras” desses transtornos, um ganha um certo destaque, tendo em vista que afeta além da criança, aqueles que estão a sua volta, trata-se do comportamento de agitação/inquietação. Entre as variáveis causais deste comportamento, uma ganha certo destaque tendo em vista a cultura formativa em nossa sociedade: a hiperatividade.

Trazer este tema neste artigo é de suma relevância pelo número significativamente grande de professores, coordenadores e todos os que compõem o cenário escolar que tem buscado apoio profissional para intervenção nesses casos. São professores que percebem um comportamento fora do comum em seus alunos, quando comparam com os demais, sentem-se insatisfeitos com estes alunos e enfrentam dificuldade em ensiná-lo, porque o mesmo não “para quieto”, atrapalhando os demais colegas e tomando um tempo relativamente grande do professor que poderia dar melhor sua aula se não fosse aquele aluno que acaba sendo um desafio pedagógico na escola. Para além disso, tanto educadores como pais desses alunos, comumente já conhecem ou ouviram falar de que tais comportamentos podem ser medicalizados a fim de que as crianças emitam comportamentos adequados e “padronizados”, como as demais crianças.

Um ponto merece ser destacado neste texto: nem sempre crianças que fogem do “padrão” necessariamente estão sofrendo algum transtorno e muitas vezes o problema da criança está na ânsia dos professores em diagnosticá-las e controlá-las por meio da medicação, alimentando a indústria farmacêutica e pouco sendo efetivos em sua prática enquanto educadores. Em geral, essas crianças vêm ao consultório com queixa dos pais de que estão desatentas e/ou inquietas, dificultando um convívio familiar onde o filho obedeça seus pais ou se atente às regras e estímulos nos ambientes aos quais freqüentam, como na escola.

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), é um dos transtornos mais estudados atualmente pela comunidade científica e vários experimentos comprovam diferentes posicionamentos profissionais e teorias em torno do TDAH. Apesar do avanço científico, ainda não se sabe quais as causas desse transtorno. Acredita-se em multifatores que coadunam num quadro clínico, desde o genético a ambiental. Onde já se sabe que na maioria dos casos de TDAH, a genética familiar comprova que os pais da criança portadora também tem o mesmo transtorno; bem como, já se sabe que fatores ambientais como o uso de cigarro e/ou álcool durante a gravidez, além de crianças que nascem com baixo peso (1,500kg) estão propensas a desenvolver o transtorno.

Vamos então entender o TDAH. O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade pode ser diagnosticado de três formas: 1. Do tipo predominantemente desatento, 2. Do tipo predominantemente hiperativo e 3. Misto. Isso significa dizer que nem todo TDAH terá como sintomas a desatenção apenas e nem todo TDAH terá como sintomas a hiperatividade apenas. É necessário especificar que de que tipo de TDAH estamos no referindo. Vejamos, a) se a criança frequentemente não se atenta a detalhes, b) esquece de preencher campos importantes na tarefa, c) começa a fazer algo e não termina, d) as vezes não ouve quando é chamada, ignora atividades que exijam esforço mental, e) é esquecido quanto as atividades cotidianas, f) tem dificuldade em manter atenção em atividades, g) é facilmente distraída com estímulos externos, estes são sintomas do TDAH do tipo predominantemente desatento, ou seja a criança tem dificuldade em se atentar e se distrai com facilidade. Agora se a criança a) é inquieta, b) não fica muito tempo sentada na cadeira nos lugares que freqüenta, c) costuma entrar na conversa dos outros, d) é incapaz de fazer atividades com calma, tem dificuldade em esperar sua vez, e) corre e sobe nas coisas em situações inapropriadas, f) se contorce na cadeira, g) remexe ou batuca mãos e pés e fala demais, esse são sintomas do TDAH do tipo predominantemente hiperativo-impulsivo. Vale ressaltar que conforme o DSM-V estes sintomas devem estar presentes por no mínimo 6 meses e apresentar em mais de dois ambientes (escola, casa, com amigos, trabalho, etc.). O diagnóstico só é feito por um médico, o qual receita uma medicação do tipo metilfenidato, comercialmente vendida como ritalina ou concerta a qual tem a função de melhorar o funcionamento cerebral do indivíduo agindo no sistema de recompensa, mais precisamente com o neurotransmissor dopamina.

Vale ressaltar ainda que uma análise detalhada do ambiente da criança se faz necessária, tanto na escola quanto em casa, uma vez que apresentar o comportamento não significa que a criança tem o transtorno, por isso, uma avaliação mais cuidadosa. A sociedade atual, cada vez mais estimulada reflete bem o que normalmente as pessoas afirmam que estão esquecendo das coisas, estão desatentas nas reuniões, estão com dificuldade em se atentar nas tarefas, etc. justamente porque estamos em um mundo informatizado e que estamos antenados a mais de um estímulo ao mesmo tempo, seja olhando o celular, respondendo emails, escrevendo mensagens, vendo a TV, conversando com amigos; esse número de informações acabam hiper-estimulando nosso cérebro fazendo-o funcionar muitas vezes de forma não adequada, uma vez que compreendemos que este órgão precisa se organizar também com a quantidade de informações que chega a todo momento a ele. Por esse motivo, muitas vezes a criança inquieta é apenas resultado de uma dinâmica familiar confusa, ansiosa, apressada e desprovida de meios adequados para uma boa convivência, tendo conseqüências significativas no desenvolvimento do filho.

Em clínica analítica-comportamental crianças com esse transtorno são freqüentes e na maioria das vezes são encaminhadas por psiquiatras, os quais já conhecem a eficácia desse tipo de tratamento. Nosso objetivo é, independente do diagnóstico trabalhar com o indivíduo, seja criança, adolescente ou adulto o desenvolvimento de habilidades adequadas em seu repertório comportamental, por isso cada intervenção é personalizada de acordo com os déficits comportamentais de cada um; nosso papel é identificar os comportamentos problema e as contingências as quais ocorrem para intervir seja com técnicas de monitoramento, modelagem, discriminação de estímulos, atenção focada, extinção comportamental, reforço diferencial de comportamentos alternativos, entre outras. No contexto escolar, o professor tem tarefa primordial durante o tratamento da criança, uma vez que ele poderá executar tarefas importantes que poderão contribuir, claro sob orientação do psicólogo. Algumas técnicas e atividades podem ser utilizadas pelo professor e ajudar não apenas a criança, mas aos colegas da turma que também poderão usufruir das orientações.

Capacitar o corpo docente é de suma importância seja para fins de tratamento ou para fins de prevenção do aluno problemático em sala de aula e psicólogos comportamentais podem dar as devidas capacitações para educadores, pais e pessoas que convivem com crianças inquietas/agitadas. A educação no pais, avançou muito nos últimos anos do que se refere a acesso e didática do professor frente a sociedade atual, no entanto precisamos avançar ainda mais em metodologias eficazes para alunos problemáticos, pois tem sido uma realidade em nossas escolas. O tratamento para pessoas com TDAH consiste não apenas da introdução medicamentosa, mas na intervenção conjunta com técnicas comportamentais a fim de trabalhar habilidades de comportamento do indivíduo, seja em casa ou na escola, onde estudos apontam importantes intervenções nessa área.

Diego Marcos Vieira da Silva

Psicólogo comportamental (CRP15/4764), formado pela Universidade Federal de Alagoas, com formações em psicopatologia em análise do comportamento e técnicas de memória e oratória. Com capacitação para avaliação psicológica e experiência em casos de transtornos psicológicos tanto na clínica quanto em instituições de saúde mental. Atualmente psicólogo na Associação de Pais e Amigos de Excepcionais (APAE), psicólogo no Centro de Referência de Assistência Social (CREAS), consultor e assessor organizacional  e psicólogo clínico da Behavior.

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