Dentro da frigideira, Lopes havia colado um papel onde se lia “Fora, Temer”. Ele ingressou na avenida assim, mas só conseguiu percorrer aproximadamente metade da pista exibindo a frigideira com essa mensagem. Ao notar o protesto, que um repórter fotográfico se preparava para registrar, um dos responsáveis pela alegoria arrancou o papel, gerando reclamações do jornalista. Questionado, o responsável pela alegoria afirmou que “manifestações desse tipo são proibidas”.
Ao final do desfile, o autor do protesto reclamou: “O enredo da escola era condizente com meu protesto. Se a escola está reclamando do Temer, por que eu não tenho o direito de reclamar também?”, disse Lopes. “Havia outras pessoas com protestos semelhantes no carro [alegórico], mas arrancaram todos”, contou. O auxiliar administrativo afirmou que no desfile oficial ele foi o único a protestar, e não foi coibido pela escola. “Na segunda-feira chegaram a ver e não fizeram nada, não reclamaram.”
Na plateia, só os setores populares (1, 12 e 13) foram unânimes em aplaudir as críticas a Temer. Nas demais arquibancadas, houve manifestações esparsas e raras. O engenheiro Luiz Antônio Monteiro, de 49 anos, que estava numa frisa, exibia um pano com a foto de Temer e as palavras “Fora, Temer”. “Esse governo só quer ferrar o povo”, afirmou.
Na arquibancada do setor 10, manifestantes abriram durante o desfile da Tuiuti uma faixa onde se lia: “Nas ruas e na Sapucaí, o povo resiste ao golpe. Eleição sem Lula é fraude”. A mensagem era assinada pelo Levante Popular da Juventude. Quando o grupo abriu a faixa e tapou parcialmente a visão dos ocupantes de um camarote situado logo abaixo da arquibancada, um homem que estava no camarote tentou rasgar a faixa – aparentemente sem saber o que estava escrito nela, e com o intuito de não ter a visão impedida. Mas o grupo conseguiu recolher a faixa antes que ela fosse rasgada, e então a estendeu em outra posição, sem atrapalhar a vista de ninguém.
Algumas pessoas que desfilaram em outras escolas (Mocidade, Mangueira, Portela, Salgueiro e Beija-Flor) também exibiram cartazes de protesto. Na Mangueira, um folião atravessou a Sapucaí exibindo um cartaz onde se lia “Fora, Temer”. Durante o desfile da Beija-Flor, que também fez uma crítica social em seu enredo, o público não se manifestou contra o presidente.
Poucos políticos prestigiaram o desfile, que começou na noite deste sábado (17) e se estendeu até domingo. O ex-prefeito do Rio Eduardo Paes (MDB) desfilou com a Portela, sua escola de samba, e não chegou a falar com a imprensa. O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) assistiu ao desfile das seis escolas, e chegou a ser cumprimentado por sambistas.
A popularidade de Freixo no sambódromo não se comparou à de celebridades como a apresentadora de TV Sabrina Sato e o ex-jogador de futebol Zico – dezenas deixaram seus lugares durante o desfile para correr até onde o flamenguista estava e tirar fotos com ele.
Fonte: Agência Estado