Polícia Federal diz que ex-prefeito de Marechal Deodoro chefiava esquema de lavagem de dinheiro

Policiais federais contam montante de dinheiro durante operação (Foto: Ascom/PF)

A Polícia Federal em Alagoas (PF) informou que a Operação Kali, realizada nesta terça-feira (5), foi para desarticular uma organização criminosa que lavava dinheiro por meio de laranjas, chefiada pelo ex-prefeito de Marechal Deodoro Cristiano Matheus.

Também houve cumprimento de mandados de busca e apreensão em Pernambuco e Maranhão, onde residem amigos do ex-prefeito suspeitos de participação no esquema e enriquecimento ilícito.

A reportagem do G1 tentou contato com o ex-prefeito Cristiano Matheus, mas as ligações não foram atendidas.

De acordo com o superintendente da PF em Alagoas, Bernardo Gonçalves, os bens de Cristiano Matheus estão bloqueados, mas há propriedades dele em nome de terceiros. “A organização é comandada e tem como cabeça o ex-prefeito”, disse.

O esquema era para ocultar bens, empresas e valores comprados com recursos do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e do Programa Nacional de Atenção ao Transporte Escolar (Pnate) destinados ao município de Marechal Deodoro durante o mandato de Cristiano Matheus, de 2009 a 2016.

“Mesmo após se encerrar o mandato, o ex-prefeito continua atuando para lavar o dinheiro obtido durante seu mandato. Há atividades recentes de lavagem de dinheiro realizadas em julho, negociação envolvendo imóveis em nome do irmão dele, que é laranja, no valor de R$ 150 mil”, afirma.

A Operação Kali é um desdobramento da Operação Astaroth, que aconteceu em julho deste ano.

“O ex-prefeito estruturou uma rede aparentemente interminável de laranjas, amigos e empregados para lavar dinheiro e impedir e dificultar o trabalho investigativo da polícia. O motorista particular do ex-prefeito é pago pelo governo de Alagoas desde fevereiro de 2017. Este motorista está vinculado à Secretaria de Cultura do governo, que é comandada pela ex-esposa [Melina Freitas] do ex-prefeito”, disse o superintendente da PF em Alagoas, Bernardo Gonçalves.

A Secult informou que está apurando a situação para poder se posicionar sobre a informação passada pela PF.

De acordo com Gonçalves, o motorista de Cristiano Matheus, que não teve o nome revelado, serviu para ocultar a propriedade de pelo menos dois imóveis em Marechal Deodoro e uma sala comercial em Maceió.

“A organização opera de uma forma para inviabilizar o rastreio do patrimônio pela polícia. Em 2012 a sala comercial foi adquirida em nome do motorista laranja. Em seguida, foi trocada por outra sala no mesmo prédio, essa nova sala foi transferida para o nome de outra laranja vinculada ao município de Marechal. Ela repassou a sala para o motorista laranja, de novo. O motorista a repassou para um amigo do ex-prefeito, um empresário que tem outras duas salas do mesmo prédio”, disse o superintendente da PF.

Ainda segundo Bernardo Gonçalves, o apartamento em que residia o ex-prefeito também está no nome de um amigo.

“Em 2014 foi executado um projeto de reforma e ambientação desse apartamento que foi contratado e pago pela dona de uma construtora no valor de R$ 104 mil. Essa construtora tinha contratos de R$ 17 milhões com a prefeitura [de Marechal]”, disse.

Durante as buscas, os policiais apreenderam R$ 297 mil, 14 mil euros e 5 mil dólares na casa da dona da construtora em Maceió, que também não teve o nome revelado. Também foram apreendidos documentos e seis veículos, cada um avaliado em mais de R$ 60 mil.

“Amigos do ex-prefeito costumavam enricar do dia para a noite na época da gestão. Em um destes casos, o indivíduo de repente adquiriu uma frota de mais de 20 veículos, muitos deles ônibus, no valor aproximado de R$ 5 milhões em 2016, e abriu uma empresa de ônibus e conseguiu junto a empresa reguladora do Estado a concessão para a exploração de linhas de ônibus”, afirmou o superintendente.

Coletiva na PF detalha esquema de lavagem e desvio de dinheiro em Alagoas (Foto: Suely Melo/G1)

A frota citada opera em Maceió, Paripueira e Barra de Santo Antônio. Os crimes a que Cristiano Matheus deve responder caso as denúncias sejam confirmadas são lavagem de dinheiro, formação de organização criminosa e desvio de recursos públicos.

Ainda de acordo com o superintendente da PF, até o parto da ex-mulher de Cristiano foi pago por um amigo laranja, proprietário de um apartamento dele. “O obstetra foi chamado pela polícia e confirmou que o dinheiro foi pago em espécie pelo amigo. Esse amigo dele movimentou R$ 14 milhões em sete meses”.

Cristiano Matheus deverá ser intimado a prestar depoimento na Polícia Federal nos próximos dias. As investigações ainda estão em andamento para a identificação de outros laranjas vinculados ao ex-prefeito.

G1

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