Réu diz que foi torturado após o assassinato do capitão Rodrigues

O réu Agnaldo Lopes de Vasconcelos, acusado de matar o capitão da Polícia Militar Rodrigo Rodrigues, disse durante depoimento no júri popular nesta segunda-feira (4) que foi torturado com choques, tapas e saco plástico na cabeça. Ele conta que isso aconteceu na mesma noite em que o PM foi morto.

“Me algemaram a uma cadeira e ali começou a tortura, me bateram. Um deles arrancou um cabo de ventilador e colocou na tomada para me dar choque e usaram o taser [arma de choque]. Pegaram um saco plástico e colocaram sobre a minha cabeca até eu ficar sem ar. Continuaram as queimaduras dos tasers. Eu não sabia mais o que dizer pra eles e disse que meu irmão levou as imagens para a delegacia. Continuei levando murro e não aguentava mais”, afirmou o réu.

Ele contou também que foi um policial do BOPE que tirou ele de onde ele estava sendo torturado e o levou para a delegacia.

O Comando da Polícia Militar informou por meio da assessoria de imprensa que, até então, nenhuma denúncia desse tipo foi apresentada à Corregedoria. A PM disse que não vai se pronunciar sobre o assunto no momento, já que há um julgamento em trânsito, mas que se após isso o réu ou seu advogado apresentar uma denúncia formal, os fatos serão apurados.

O capitão foi assassinado com um tiro no pescoço durante uma ocorrência policial no dia 9 de abril de 2016. Na ocasião, o capitão buscava na casa de Vasconcelos um suspeito de roubo de celular e acabou baleado. O acusado foi preso horas depois. Ele confessou o crime, mas disse que agiu em legítima defesa e afirma ainda que o que aconteceu foi uma fatalidade.

Capitão Rodrigues foi morto durante o trabalho (Foto: Arquivo pessoal)

Ainda durante julgamento, o juiz questionou sobre os disparos. “Da minha arma foram dois. Quando eu peguei a arma, um disparo acidental saiu de dentro da minha casa. Aí veio um disparo em minha direção e eu atirei outro”, afirmou Vasconcelos ao ressaltar que atirou para cima, mas não mirou e não viu ninguém pois a iluminação estava baixa.

Antes de depor, o juiz leu as acusações e o réu alegou que era inocente. Ele disse que não atirou intencionalmente e que não possuía a munição referida na acusação.

“Nunca tive a intenção de tirar a vida do invasor da minha casa, muito menos de um membro da segurança pública. Então, eu queria aos familiares do capitão dizer meu perdão. Em nenhum momento sabia quem era a pessoa que estava na minha casa e não tive a intenção de tirar a vida”, falou.

O juri questionou a falta da ligação imediata para a polícia ou para a portaria do condomínio. Agnaldo explicou que a namorada achou mais fácil ligar para a mãe e pedir para ela, por sua vez, ligar para a polícia.

“Primeiramente pensei logo em pedir ajuda para a polícia. Ela ligou para a mãe e pediu para que ela ligasse para a polícia. Eu não pensei em ligar para portaria”, contou.

O réu foi o último a depor. Agora, a promotoria e a defesa do acusado entram para a fase de debates. Depois, o júri vai se reunir para decidir o destino de Vasconcelos.

Logo no início dessa nova fase do julgamento, o pai do policial passou mal e precisou ser atendido pela equipe médica do Tribunal de Justiça (TJ-AL). Segundo a assessoria de comunicação do Ministério Público (MP-AL), ele foi colocado em uma cadeira de rodas e levado para o Hospital do Coração, no bairro da Gruta, em Maceió.

Pela manhã, a mãe do capitão falou sobre a morte. Ela disse esperar a condenação máxima para o réu.

Teses de defesa e acusação

De acordo com o promotor de Justiça José Antônio Malta Marques, o Ministério Público trabalha com a tese de homicídio doloso, com a qualificadora de um crime cometido contra um agente de segurança de forma consciente.

“O réu quando desferiu o tiro sabia que quem estava ali era um policial militar. A pena nesses crimes é de 12 a 30 anos e deve se ter mais alguns porque ele [o réu] foi pego também na posse de munição não permitida. Ele aqui em juízo confessou que verbalizou com o capitão e que sabia que era polícia e que foi buscar a chave e ai aproveitou e apanhou a arma e desferiu o tiro no capitão”, explica.

O advogado de defesa de Agnaldo Vasconcelos, Joanísio Pita de Omena Júnior, afirma que uma das teses que irá trabalhar no julgamento é a legítima defesa.

“Agnaldo se encontrava como qualquer cidadão comum, dentro do abrigo de sua residência. Era um sábado, 22h. Agnaldo tinha a consciência de que não praticou crime algum. Chega alguém e bate a sua porta e se identifica como vigilante”, falou.

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