10 anos que Alagoas perdia um ícone da comunicação, Josmário Silva

Há dez anos, no dia 20 de novembro de 2007, Alagoas perdia um dos seus maiores ícones da comunicação radiofônica, Josmário de Araújo Silva. Iria-se também, nessa data, a eloquência, o destemor, a coerência, o conhecimento das causas, o respeito ao ser humano e o amor e verdade em se fazer Rádio.

Foi-se Josmário Silva, exemplo de homem de comunicação, decência e hombridade; professor, sem querer se valer desse título, porém, referência para tantos quantos com ele aprenderam o real valor do rádio, sua importância para o crescimento de qualquer sociedade e a paixão por tudo o que se faz com amor e determinação.

Foi esse o Josmário a quem o ouvinte – seu público – admirou, respeitou e foi fiel. Os boletins da “MARCHA DAS APURAÇÕES”, eleição após eleição, só tinham talvez a veracidade necessária quando se ouvia dele: “A VONTADE DO POVO, A VERDADE DAS URNAS”. No futebol, fosse como repórter, narrador ou comentarista, não abria mão de sua paixão por Palmeira dos Índios e pelo CSE. E ninguém mais do que ele, no meio jornalístico defendeu essa Terra, além de suas causas e convicções. Essa herança é tão grande que se tornou uma marca da radiodifusão, não só palmeirense, mas de todo lugar ou região em que ele, bravamente, defendeu, encarando um microfone, com força e coerência, apenas o que acreditava ser justo e correto.

Dez anos se passaram da sua “partida”, mas realmente parece que foi ontem. A sua distância dos nossos rádios nos faz muita falta. O que ainda nos acalenta, é saber que você existiu e contribuiu demais para a construção de uma sociedade melhor.

História

Josmário de Araújo Silva nasceu em Palmeira dos Índios, interior de Alagoas, no dia 30 de dezembro de 1948. Era filho da professora Erotildes de Araújo Silva e do pedreiro José Pedro Silva. Iniciou seus estudos na Escola Estadual Almeida Cavalcante. Em seguida, estudou na Escola da Professora Ananete Lima de Macedo, no Colégio Pio XII e no Colégio Estadual Humberto Mendes.

Quando estudava no período noturno conheceu aquela que viria a ser sua esposa. Casou-se em 1973 com Maria das Graças DuarteSilva com quem teve três filhas: Gracyelle Duarte Silva, Grazianne Maria Duarte Silva e Gabriella Maria Duarte Silva.

Sua vida profissional no rádio teve início em 1971 na Rádio Educadora Sampaio AM, onde trabalhou por 23 anos. Trabalhou também nas principais emissoras alagoanas das cidades de Penedo, Arapiraca, Santana do Ipanema e Palmeira dos Índios; ele chegou a atuar ainda nas rádios Meridional AM e Jornal AM, ambas em Garanhuns, interior do estado de Pernambuco; ele inaugurou as rádios Delmiro AM e FM, ambas em Delmiro Gouveia, sertão de Alagoas. Em 1996 retornou à sua cidade natal para comandar o programa “A Vez do Povo”, na Rádio Palmeira FM, recém inaugurada.

Josmário começou sua carreira no rádio esportivo em 1975. Narrou diversos jogos, dentre eles, vários da Seleção Brasileira de Futebol. Ao longo de sua trajetória participou de vários congressos em todo o Brasil. Atuou como integrante do Sindicato dos Radialistas Profissionais de Alagoas e da Associação de Cronistas Desportivos de Alagoas (ACDA).

Recebeu várias homenagens e prêmios ao longo de sua vida profissional. Em 1994, por exemplo, recebeu em Salvador (BA) o troféu Bola de Ouro, concedido pela FIFA como melhor cronista desportivo do ano, junto com Luciano do Vale e Galvão Bueno. Além desse, nos anos de 1998 e 1999, foi agraciado com o troféu e pergaminho “Óculos da Bondade”, em Palmeira dos Índios.

Em agosto de 2000 recebeu o título de Radialista do Século por meio de votação popular realizada pelo Jornal Tribuna do Sertão; Prefeitura Municipal de Palmeira dos Índios; Câmara Municipal de Palmeira dos Índios e Sociedade Beneficente Acácia Branca.

Em 2002 recebeu a comenda Jofre Soares concedida pela Fundação das Culturas de Palmeira dos Índios. Em 2006 ganhou o Prêmio Odete Pacheco, realizado pela Eventur’s, como um dos melhores radialistas do Estado. Em 2007, último ano de vida do radialista, recebeu a comenda Luiz Byron Passos Torres na Festa dos ex- alunos e ex- professores do Colégio Pio XII.

No mesmo ano foi acometido por uma paralisação renal que o levou a fazer hemodiálise. Em 20 de novembro de 2007 o radialista veio a óbito, no Hospital Regional Santa Rita, em função de uma parada cardíaca decorrente do Diabetes.

Homenagem

O amigo escritor Erivaldo Filho homenageia o radialista Josmário Silva, descrevendo de fato o que ele sempre foi.

Olá amigo Josmário..
Grande comunicador…
Que saudade!
Dizia o poeta cantador…
Saudade, é dor que é remédio…
Remédio, que aumenta a dor…

Um dia calou-se a voz polêmica,
Que em programas diários
Dizia o que devia ser dito,
Sem intermediários…

Você partiu, Josmário
És presença ausente
És saudade presente

Um homem com opiniões convictas
Que tão bem as defendia
Ora, com argumentos brandos
Ora, com intensa valentia…

Você, Josmário e sua franqueza constante
O seu jeito sincero e tocante
Criava um elo de encanto
Do seu jeitão que brigava
E amava no mesmo instante

Ah, Josmário, muito amavas
A tua cidade, a tua família, a sociedade…
Amavas do teu jeito a quem te teve amor,
a quem devia ser amado,
Até a quem te desprezou…
E até os possíveis odiados
Te odiavam com amor…

Me lembro, Josmário,
Que o vi chorando pela primeira vez
Na capela do Cristo Redentor
No enterro de uma criança
De um amigo comunicador…

Tirei você de lá
Fomos para um canto
Vendo a criança que partia
Você chorava aos prantos…
Você que lutava contra injustiças
Parecia não entender
o porquê do destino ser tão bruto
e as lágrimas caiam perguntando:
Por que não amadurecera aquele fruto?

Um dia você me convidou para escrever sobre a sua história no rádio…
Me senti privilegiado
Mas vez por outra quando tocávamos no assunto
Sempre deixávamos de lado…

Pensávamos que nós mandávamos no nosso tempo…
Teríamos tempo de ter tempo para escrever tudo que pudesse
No tempo que o tempo desse…
Mas o tempo não deu tempo
Da gente colocar no papel
Tua história, teus momentos…

Histórias interessantes
Momentos inesquecíveis…
E eu perdi a grande chance
De transcrever para o mundo
As tuas histórias incríveis…

No último encontro dos radialistas
Que participamos em Maceió
Estávamos lá, quase esquecidos
Pela grande elite televisiva e radiofônica da capital
Quando você se levantou e foi à frente
Falou de Palmeira e da gente…
Mostrou que a gente era igual…

Como vc, Josmário, defendia este povo!
Como vc, Josmário, defendia esta cidade!
Como vc, Josmário, defendia esta bandeira!

Foi você, Josmário, que levou Palmeira
A ser conhecida nos principais estádios do país:
Mineirão, Maracanã, Morumbi,
Porque transmitiu jogos da seleção brasileira
Indo lá, com as rádios daqui…
Sem internet, sem tecnologia, sem celular
Chiando aqui, chiando de lá…
E Josmário atrevidamente
Narrando efusivamente
A quem ousou duvidar

Certa vez, estavas em fila para credenciamento
Quando chegou Galvão Bueno
E com o prestígio da poderosa Globo
Foi furando a fila…
E todo mundo se entreolhava calado
Fazendo papel de bobo…

Mas lá estava você Josmário
Para protestar, para brigar,
Pra resolver a parada
E exigir que a fila fosse respeitada…

Galvão olhou como se dissesse:
Quem é este maluco que ousa comigo mexer?…
Será que não me conhece?…
Mas era ele que não conhecia você, Josmário,
Com seu jeito de ser…
E você firme, decidido
Da pequenina Palmeira
Peitando Galvão e a Globo…
Exigindo respeito
Pra classe inteira…

Arrancou aplausos dos outros radialistas
Que a você apoiava…
E Galvão teve que sair de fininho,
Porque sentiu que a coisa engrossava…

Ah, esse era Josmário Silva…

Eu poderia falar do Josmário que ajudava
Muitas pessoas no rádio, com remédios, consultas…
Cadeiras de roda, cestas básicas, solidariedade, tratamentos,
Do Josmário, que não hesitou,
Em um gesto nobre, sem igual,
Socorrer no seu carro novo
Um desconhecido baleado,
Ensangüentado para o hospital

Josmário você ajudou muita gente:
Rico, com favor…
Pobre carente e com dor
Desconhecido como se fosse parente

Ah, esse era Josmário Silva…
Comunicador total,
Figura ímpar, único, sem igual…

Ganhaste os melhores prêmios
Foste com títulos
Agraciado em tua carreira
Sempre líder,
Mas sempre operário
Bola de ouro
Rei solidário…

Que saudade, Josmário, que saudade…

Você é daquelas pessoas raras
Cuja estrela não se apaga
Cuja voz não se cala
Mesmo estando ausente…

Você passou pela vida de quem te conheceu e conviveu
Deixando a impressão
De que não partiste! …
Mas hoje estás ausente
E nossa alma mais triste…

Estamos sem você há alguns anos…
A sua ausência é sentida pelos ouvintes, pela família,
Por companheiros, por alagoanos…
Por amigos, por tanta gente boa
Por gente de fora,…
Por tantas pessoas

E falar de você é necessário
Para que ninguém nunca se esqueça
Que em Palmeira, o melhor radialista
Reconhecido até por adversários
Foi, e sempre será você,
Querido, dileto e inesquecível amigo Josmário

 

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