Carpil leva tecnologia para agricultores familiares de Palmeira dos Índios
Criada em 1979, a Cooperativa Agropecuária Regional de Palmeira dos Índios (Carpil) é um exemplo de como o trabalhador do campo, o agricultor familiar pode conquistar e avançar. Em 2017, por exemplo, por meio do programa Carpil Jovem, aconteceu mais um intercâmbio que levou jovens agricultores familiares ao estado do Paraná, onde passaram a morar, estudar e trabalhar, também numa cooperativa local.
Uma das boas parcerias da Carpil tem 20 anos e rende bons frutos, técnicos e tecnológicos para os agricultores familiares cooperados. A Cooperativa Agroindustrial de Cascavel (Coopavel), instalada em Cascavel (PR) e uma das maiores do Brasil, apoia a incentiva as iniciativas da coirmã alagoana.
Uma vez por ano, cerca de produtores cooperados passam 13 dias na estrada e viajam rumo a Cascavel para participarem do Show Rural da Coopavel. Durante a viagem, eles passam pelos estados da Bahia e São Paulo, pelo Distrito Federal, além do Paraná, destino final. Além dos selecionados, 28 parceiros e técnicos e dirigentes cooperados da Carpil também integram a comitiva.
Os intercambiastes visitam entidades, cooperativas e assentamentos que desenvolvem projetos inovadores na agricultura familiar, incluindo Empresas de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emateres), previamente selecionados. Também conhecem produções orgânicas que poderão servir de modelos para o desenvolvimento sustentável de suas propriedades. As visitas são divididas por grupos, como núcleo econômico, agroecologia, leite, artesanato, fruta e hortaliça.
O presidente da Carpil, Luciano Monteiro da Silva, mostra-se um entusiasta da agricultura familiar e do cooperativismo. Filho, neto, bisneto e tataraneto de agricultores, ele, que é técnico agrícola, formado pela Escola Técnica de Satuba, licenciado em Ciências Biológicas e pós-graduado em Gestão de Cooperativa.
Há cerca de 20 anos, o palmeirense está à frente da Carpil que desenvolve ações em 37 municípios alagoanos e abrange hoje pouco 1.042 cooperados, entre agricultores, sindicatos e associações. “Estaremos em breve cooperando mais mil novos agricultores que já integram alguns programas dos governos municipal, estadual e federal”, disse. “Costumo dizer que tenho duas religiões. Uma é a Católica e a outra é o cooperativismo. Sou ex vendedor de flau e tataraneto de produtor rural. Esse estudo ninguém tira. Além de tudo isso, tenho 20 anos de especialização na Coopavel, que está entre as oito melhores cooperativas do Brasil”, frisou o presidente da Carpil.
Conhecimento e tecnologia
Luciano Monteiro orgulha-se do trabalho desempenhado à frente da Carpil, a mais antiga nesse modelo de agricultura. A cooperativa é uma empresa privada, sem fins lucrativos. “É um tipo de empresa que tem 1.042 donos em 37 cidades de Alagoas. Antes, e até hoje, muita gente pensava que cooperativa é coisa de prefeito, de político. Cooperativa é privada. Precisamos entender o que cooperativa, associação e sindicato”, destacou.
O trabalho de Luciano Monteiro à frente da Carpil tornou a cooperativa uma das mais atuantes do país. “O que se pensar de política de desenvolvimento da agricultura familiar em Palmeira dos Índios, Alagoas e também no Nordeste, tem participação direta da Carpil. Podemos atuar em todo o Brasil, desde que haja algum projeto de agricultura familiar”, explicou.
Entre os programas desenvolvidos pela Carpil nos últimos anos está o de recuperação de nascentes. Desde 2010, temos o maior e melhor programa do país. Palmeira dos Índios tem mais de duzentas nascentes e a cooperativa já conseguiu, com suas 22 equipes de profissionais salvadores de nascentes, já conseguiu recuperar 216 em Alagoas. “Só nós temos seis prêmios nacionais e ninguém tira essa quantidade de premiações de nós”, destacou Monteiro.
Em 2016, por exemplo, a Carpil entregou 552 forrageiras aos seus agricultores cooperados. Além disso, foram distribuídos 116 kits de irrigação contendo cada um caixa d’água, moto bomba, filtro, fiação e tubulações com sistema de irrigação por micro aspersão e por gotejamento, capazes de atender a áreas de até dois hectares. A distribuição dos kits de irrigação fez parte de um convênio no valor de R$ 670 mil firmado entre o Governo de Alagoas e o Governo Federal que beneficiou diretamente os agricultores ligados à cooperativa.
Resultados positivos
Luciano Monteiro afirmou outros projetos da Carpil já deram resultados importantes para agricultura familiar de Alagoas. Ele conta que os participantes passaram a gerir a propriedade de uma forma mais produtiva. Por exemplo, a retirada de leite aumentou cerca de 50% depois que a ordenha passou a ser feita duas vezes ao dia (antes era uma só). O aproveitamento da parte aérea da mandioca, que antes ia para o lixo, hoje é utilizado para alimentar animais.
A Carpil foi a responsável pela chegada da primeira máquina plantadeira de mandioca do Nordeste, graças a uma visita de um ex-prefeito do município de São Sebastião à Coopavel. Além disso, os agricultores familiares passaram a investir na plantação do sorgo, antes algo inimaginável em Alagoas. “Os primeiros 20 pacotes de 20 kg de sorgo quem trouxe para o estado fomos nós direto do Paraná”, lembrou.
Hoje, a Carpil integra a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) e é a única em Alagoas e uma das poucas do Nordeste que integra a Aliança Cooperativa Internacional (ACI). “Acredito que devemos ser humildes. A Carpil semeia desenvolvimento e leva tecnologia para nossos cooperados e também para os consumidores. Tudo o que nós ganhamos é reinvestido em benefício dos nossos agricultores”, afirmou.
Entusiasta, Luciano Momento acredita que Alagoas é o estado mais viável do Brasil, que tem, por exemplo, água em seus quatro lados e “Palmeira dos Índios é a cidade mais viável de Alagoas. O que falta é a integração das políticas públicas municipal, estadual e federal”, justificou.
Para ele, “nós que fazemos Palmeira, políticos, empresários temos que nos unir por uma cidade de todos. Palmeira cresce se cada um colocar uma pedra, se cada um plantar uma semente, se cada um fizer a sua parte. O município precisa de uma política inteligente e integrada às políticas estadual e federal”, pontuou.
O presidente da cooperativa diz que acredita no potencial das oito comunidades indígenas, nos quilombolas e nos agricultores familiares de Palmeira dos Índios. “A cidade tem 90 associações organizadas, quatro cooperativas, sendo duas agropecuárias, uma médica e outra de serviços. Se pudesse dar um conselho ao nosso prefeito, ao governador, aos nossos vereadores, seria pensar, sem vaidades pessoais, Palmeira dos Índios para daqui a 20 anos. O cooperativismo, por exemplo, é um caminho sem volta”, concluiu.