O ataque dos piolhos marinhos

O bicho suspeito de ter atacado com sanha e discrição os pés e tornozelos do adolescente Sam Kanizay quando ele se banhava nas frias águas de Melbourne (Austrália) já tem nome: piolho-do-mar (ou pulga-do-mar). Supostamente, um cardume desses minúsculos isópodos carnívoros necrófagos atacou o jovem quando ele colocou os pés na praia de Brighton para se refrescar após um jogo de futebol. Seus pés e parte das pernas ficaram ensanguentados, como se tivessem sido mordidos por piranhas.

O suspeito – por enquanto apenas isso – das mordidas é conhecido cientificamente como Anilocra physodes, e vulgarmente como piolho-do-mar ou piolho-dos-peixes. E na água é quase impossível ver esses crustáceos.

As fotos das pernas ensanguentadas de Sam Kanizay, de 16 anos, despertaram a atenção mundial, ainda mais porque ele só notou o ataque após meia hora dentro da água, quando viu o sangue brotando de centenas de minúsculos buracos na pele. Após os primeiros curativos, o sangue voltava a aflorar.

O suspense aumentou depois que seu pai, Jarrod Kanizay, fez uma breve investigação na praia onde o ataque ocorreu, recolhendo nas águas dezenas dos minúsculos Anilocra. Seu comportamento era voraz e agressivo, como mostra este vídeo que ele publicou nas redes sociais, onde os supostos piolhos marinhos devoram pedaços de carne. “Reuni essas estranhas criaturas com uma rede e com o pé enfiado na água”, disse ele à BBC.

Os especialistas que viram os bichinhos, como Murray Thomson, da Universidade de Sydney, estão convencidos de que o ataque, que consideram excepcional, é obra de algum tipo de crustáceo carnívoro, mas ainda não têm certeza se o culpado é o Cirolana harfordi ou Anilocra physodes (o piolho). O que, sim, é unanimidade é que esse bicho pica com frequência, que isso dói e que, em casos muito excepcionais, mordem como morderam o tornozelo de Kanizay.

E precisam morder, pois o trabalho necrófago desses crustáceos de até quatro centímetros de comprimento é fundamental para limpeza dos mares. “Se não existissem, teríamos um mar cheio de peixes mortos e aves mortas”, disse Genefor Walker-Smith, biólogo marinho que viu a amostra coletada pelo pai de Kanizay, à rede de televisão Australian Broadcasting Corp.

O estranho é o jovem quase não perceber o ataque. Mas tem explicação. Kanizay jogou futebol e foi à praia próxima de sua casa para se refrescar. Entrou na água, que estava fria, o que pode ter anestesiado seus pés. E é possível que tivesse alguma microferida que atraiu os piolhos. “Depois de meia hora senti como se fossem agulhadas nos pés. Saí da água, sacudi o que me parecia areia em meus tornozelos. Caminhei pela praia até perceber que meus pés estavam cobertos de sangue”, contou à BBC.

Os especialistas, de qualquer forma, não deram muita importância ao caso, que chamam de “coincidência infeliz”. Já ocorreram casos de picadas que causaram irritação, mas não sangramentos, especialmente no golfo do México, onde se chegou a falar de praga durante o verão do ano passado. Sua picada produz, nos casos comuns, queimação, coceira e inchaço da pele. Na Galícia, onde essas pulgas são abundantes nos areais, são tradicional e historicamente inofensivas.

Kanizay voltou para casa. Enfaixado. O gênero taxonômico do animal suspeito ainda não foi identificado sem margem de dúvida. O piolho-do-mar é somente uma suposição.

 

 Fonte: El País

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