‘Marília Mendonça não faz sertanejo’, diz músico em defesa do forró
O músico Maciel Melo divulgou, na tarde desta quarta-feira (14), uma carta aberta em apoio aos cantores Elba Ramalho e Alcymar Monteiro e à campanha “Devolvam o nosso São João”, protagonizadas por forrozeiros de todo o Nordeste que pedem uma maior valorização do gênero nas programações dos festejos juninos promovidos pelo poder público. Em sua fala, publicada em seu perfil no Facebook, o músico critica a declaração de Marília Mendonça de que “vai ter sertanejo, sim”, em resposta ao desabafo de Elba, feita durante apresentação da goianense em Pernambuco no último final de semana: “Música sertaneja pra mim é outra coisa, não isso que a Marília Mendonça faz”.
Maciel Melo denuncia ainda uma retaliação sofrida pelos músico que aderiram a campanha e saíram em defesa do forró tradicional e da sanfona e questionou a burocracia enfrentada pelos músicos para a realização de shows através do governo do estado. “A meu ver, esta deveria ser mais valorizada pelos órgãos públicos. Por exemplo, ao invés de facilitar a contratação dos artistas, burocratizam cada vez mais o processo. Ora, a obrigação de fiscalizar se o evento está ou não sendo executado é do contratante, não do contratado. Mas somos obrigados a cantar e filmarmos o show senão não receberemos nossos caches. Precisamos assoviar e chupar cana ao mesmo tempo”, declara.
“Assino embaixo de tudo que Elba Ramalho falou e faço minhas as palavras de Petrúcio Amorim, Alcymar Monteiro e quem mais estiver defendendo essa bandeira. Fui um dos primeiros a contestar isso, quando comecei a despontar, e daí passei a levar fama de arengueiro, briguento e sei lá mais o quê. Como estava no começo de tudo e sendo retaliado em alguns eventos, resolvi não me calar, mas ficar um pouco mais comedido. O único que levou esses questionamentos adiante foi o Alcymar, que passou a ser rotulado com esses mesmos adjetivos”, denuncia o músico.
Nesta terça-feira (13), Alcymar Monteiro divulgou um áudio em que aparece irritado com a fala da cantora sertaneja, a qual considerou como uma provocação direta aos “artistas que lutam para garantir o espaço do forró”. “Por favor, ponha a sua mão na consciência, você vem lá de Goiás invadir nossa praia. Agora vê se a gente canta lá no teu Goiás. Vocês não deixam. É horrível, não gosto, é de mau gosto, não tem nada a ver, querem acabar com nossas tradições. Vão se danar e deixem a gente em paz”, dispara Alcymar, em trecho da gravação, na qual chama a música praticada por Marília de “breganejo horroroso”.
Leia o texto na íntegra:
O buraco é mais embaixo.
Estamos às vésperas da mais ilustre e importante festa, que representa ou deveria representar as nossas tradições. No entanto, não escuto uma música sequer que alavanque o mais imperioso gênero musical nordestino, o FORRÓ. Pois bem, diante dessa celeuma toda me ponho aqui, como um dos representantes legítimos desse legado de Luiz Gonzaga, para dar o meu parecer a respeito da preservação da nossa identidade cultural.
A meu ver, esta deveria ser mais valorizada pelos órgãos públicos. Por exemplo, ao invés de facilitar a contratação dos artistas, burocratizam cada vez mais o processo. Ora, a obrigação de fiscalizar se o evento está ou não sendo executado é do contratante, não do contratado. Mas somos obrigados a cantar e filmarmos o show senão não receberemos nossos caches. Precisamos assoviar e chupar cana ao mesmo tempo.
Esta é apenas uma das coisas que acho equivocadas no meio de tantas outras. Assino embaixo de tudo que Elba Ramalho falou e faço minhas as palavras de Petrúcio Amorim, Alcymar Monteiro e quem mais estiver defendendo essa bandeira. Fui um dos primeiros a contestar isso, quando comecei a despontar, e daí passei a levar fama de arengueiro, briguento e sei lá mais o quê. Como estava no começo de tudo e sendo retaliado em alguns eventos, resolvi não me calar, mas ficar um pouco mais comedido. O único que levou esses questionamentos adiante foi o Alcymar, que passou a ser rotulado com esses mesmos adjetivos.
As retaliações são um fato, mas nem por isso vou aqui culpar nossos artistas correligionários. A culpa também é do sistema atual, da situação em que se encontra o país que a cada ano vai tirando o patriotismo de nossos cidadãos. Quanto mais alienado for o povo, mais políticos corruptos serão eleitos. Essa juventude que abre as malas de seus carros com seus equipamentos de sons super potentes, espalhando músicas de péssima qualidade, vai gerar em breve um vereador, um prefeito, um deputado, um governador. Consequentemente, irá trazer para os seus redutos as atrações que que representem seu gosto musical e não a verdade de seu povo. O problema está na educação, na falta de orgulho por parte de nossa gente.
Não vou desistir, a cada dia que passa vou aprimorando mais o que aprendi com o rei do baião LUIZ GONZAGA. A cada dia que passa vou ficando mais criterioso com a minha música e com a música brasileira. DEVOLVAM O NOSSO SÃO JOÃO, por favor, não apaguem a fogueira que ainda teima em permanecer acesa no interior de alguns sertanejos. Música sertaneja pra mim é outra coisa, não isso que a Marília Mendonça faz. Viva ELBA RAMALHO, VIVA JACKSON DO PANDEIRO, DOMINGUINHOS, VIVA A MÚSICA BRASILEIRA.
O buraco é mais embaixo, viu DONA MARÍLIA?”