Polícia Federal deflagra a 2ª fase da Operação Carne Fraca
A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta quarta-feira (31) a 2ª fase da Operação Carne Fraca, que investiga irregularidades na fiscalização de frigoríficos. De acordo com a PF, foram cumpridos três mandados de busca e apreensão e um mandado de prisão preventiva, que é por tempo indeterminado, em Goiás.
O principal alvo desta fase é Francisco Carlos de Assis, ex-superintendente regional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) no Estado de Goiás. Ele será levado para a superintendência da PF em Curitiba, onde ficará à disposição da Justiça.
Francisco Carlos de Assis foi flagrado, conforme a PF, em interceptações telefônicas falando sobre a destruição de provas relevantes para a apuração da Operação Carne Fraca.
“A decretação da prisão preventiva de Francisco decorre, assim, da necessidade de se evitar nova destruição de provas e a sua própria ocultação pessoal das autoridades”, diz um trecho do despacho assinado pelo juiz federal Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal de Curitiba.
‘Bem picadinho’
Na decisão judicial em que a prisão preventiva de Francisco Carlos de Assis é autorizada, há trechos de uma ligação telefônica em que ele diz ter rasgado um documento.
“Pelo teor do diálogo, não foi apenas um documento que Francisco destruiu, mas cuidou de picar ‘bem picadinho’ uma quantidade considerável de papéis, a ponto de ficar com os dedos até doendo”, diz trecho do despacho.
Além disso, em uma outra ligação para a mesma pessoa, o ex-superintendente disse estar limpando todas as conversas – “muito provavelmente de algum aplicativo ou programa de bate-papo/conversar, envolvendo fatos referentes à investigação”, segundo o decisão.
‘Antídoto’
Esta nova etapa foi batizada de “Antídoto” em referência a uma ação policial com o objetivo de cessar os atos criminosos do investigado e de preservar eventuais novas provas.
O ex-superintendente já é réu na Justiça, em ação penal relacionada à 1ª fase da operação. Segundo a PF, ele participou de um esquema de corrupção entre uma grande empresa do ramo alimentício e o ex-chefe do Serviço de Inspeção em Produtos de Origem Animal (Sipoa) de Goiás.
“Até hoje, mesmo após o recebimento da denúncia e ter se tornado réu em ação penal, sequer forneceu outro endereço em que possa, de fato, ser encontrado. O seu desprezo pelas instituições é evidente, tanto quanto o desrespeito pela lealdade processual”, diz um trecho do juiz.
A partir desta nova etapa, os investigados podem responder, ainda segundo a PF, por obstrução de investigação criminal. A RPC tentou entrar em contato com a defesa de Francisco Carlos de Assis, mas, até a última atualização desta reportagem, não obteve retorno.
1ª fase da Carne Fraca
A 1ª fase da operação foi deflagrada no dia 17 de março e cumpriu 309 mandados judiciais em seis estados e no Distrito Federal. A ação apurou o envolvimento de fiscais do Mapa em um esquema de liberação de licenças e fiscalização irregular de frigoríficos.
Em abril, o juiz federal Marcos Josegrei da Silva decidiu receber as cinco denúncias apresentadas pelo Ministério Público Federal (MPF), referentes à primeira fase da operação. Das 60 pessoas denunciadas, o magistrado resolveu acolher denúncias contra 59. Com isso, elas passaram a ser consideradas rés nas ações penais que respondem junto à Justiça.
Atualmente, 24 pessoas seguem detidas em caráter preventivo, ou seja, não têm prazo para deixar a cadeia.
Ex-ministro citado
O ex-ministro da Justiça Osmar Serraglio (PMDB-PR) foi citado na 1ª etapa da Carne Fraca. Na época, ele ainda era ministro.
Em uma ligação grampeada, Osmar Serraglio chamou de “grande chefe” um dos líderes do suposto esquema, Daniel Gonçalves Filho, ex-superintendente regional do Mapa.
No domingo (28), o presidente Michel Temer (PMDB) decidiu transferir o ministro Torquato Jardim do Ministério da Transparência para o comando do Ministério da Justiça, substituindo Osmar Serraglio, que estava no cargo desde março.