Internação de Andreas Von Richthofen pode ter sido irregular
A suspeita de irregularidades na internação psiquiátrica de Andreas Albert Von Richthofen, irmão de Suzane, condenada pelo assassinato dos pais, abriu uma crise na Secretaria Municipal de Saúde desde a noite da última terça-feira, quando O GLOBO revelou o caso.
Andreas foi levado ao Hospital Municipal do Campo Limpo por volta das sete horas da manhã de terça-feira pela Polícia Militar, depois que os agentes em patrulhamento o flagraram tentando pular um portão de uma casa na zona sul de São Paulo. Aparentando “distúrbios de comportamento” provocados por “abuso de substâncias ilícitas”, de acordo com o prontuário médico, Andreas recebeu da médica psiquiatra que o avaliou a recomendação para internação na ala psiquiátrica. Fontes do hospital que acompanharam o procedimento, no entanto, disseram que o rapaz não concordou em ser mantido no local. Para interná-lo, auxiliares de enfermagem tiveram que contê-lo à força. Andreas chegou a tentar se jogar da maca.
Caso tivesse concordado com a internação, por lei, Andreas teria que assinar um termo de consentimento do regime de tratamento. Já internações contra a vontade do próprio paciente são legais desde que um familiar se responsabilize por assinar o termo de internação, com acompanhamento do Ministério Público, ou que um juiz dê uma decisão favorável ao procedimento. Como não havia nenhum parente com Andreas e nenhum juiz foi consultado no caso, a internação efetuada no Hospital do Campo Limpo teria descumprido a legislação e seria irregular.
A Secretaria Municipal de Saúde foi consultada sobre o tema e interpelada a mostrar a assinatura de Andreas no termo de consentimento de internação. Como resposta, a assessoria de imprensa do órgão disse apenas que não irá se manifestar sobre o assunto. A casa terapêutica São João de Deus, para onde Andreas foi transferido, também foi interpelada pelo termo, mas os funcionários apenas informaram que a diretora da instituição seria a responsável por passar as informações e que até o fim da tarde desta quarta-feira ela ainda não teria comparecido à unidade. A advogada Maria Aparecida Evangelista, que assessora o tio de Andreas, Miguel Abdalla, afirmou que não se manifestaria e que a família pode vir a se pronunciar em 15 dias.
O caso de Andreas acontece no momento em que a Prefeitura de São Paulo recorre na Justiça pelo direito de fazer com mais facilidade internações compulsórias de usuários de drogas, especialmente daqueles na região da Cracolândia. A gestão Doria considera essa ação uma importante ferramenta para acabar com o fluxo. A autorização chegou a ser dada, mas foi cassada em liminar e o processo acabou extinto pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.
Agência O Globo