No início do interrogatório, a ex-primeira-dama disse que nunca soube de irregularidades no governo de Sérgio Cabral . “A mim nunca foi entregue nenhum centavo”, disse a advogada, pouco depois acrescentando que estava decepcionada com a ex-secretária Michelle Pinto. Em seu depoimento, Michelle disse que propina era entregue no escritório de Adriana Ancelmo. A ex-primeira-dama afirmou que demitiu Michelle por ela usar seu cartão de crédito.
Adriana também negou idas semanais de Luiz Carlos Bezerra para o seu escritório. Segundo o MPF, a propina para o escritório de Adriana era levada por ele. Segundo Adriana, Bezerra ia a seu escritório para acompanhar uma reforma no local. “Era um boy”, disse.
Adriana disse ainda que os registros de compras de joias em seu nome “não estão corretos”. “Eu jamais comprei joias de R$ 1 milhão”. Investigadores do MPF acreditam que a compra de joias era uma das estratégias do grupo ligado a Cabral para lavar dinheiro. Adriana afirma que todas as joias apreendidas em sua casa são dela, mas que não pode responder por outras apreensões.
Ela admitiu, porém, que ganhou um anel do dono da Delta, Fernando Cavendish. A compra de um anel no valor de 800 mil dólares por Cavendish para Adriana foi revelada pelo dono da construtora Delta a agentes da Força-Tarefa da Operação Lava Jato no Rio e em Brasília.
Adriana Ancelmo disse ainda acreditar que todo ganho de Sergio Cabral fosse “completamente lícito”.
As investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal descobriram que o ex-governador Sérgio Cabral deu, em duas ocasiões cada, o equivalente a R$ 1 milhão em joias em presentes para a mulher, a ex-primeira-dama. Em seu depoimento, Adriana também negou que recebeu presentes de R$ 1 milhão.
Logo no início da audiência, o juiz Marcelo Bretas anunciou que homologou acordo de delação do presidente da Rica Alimentos, Luiz Igayara. Ele foi interrogado antes de Adriana Ancelmo e afirmou que que Sergio Cabral pediu inicialmente para ele “legalizar” R$ 50 mil que seriam “sobras de campanha” em 2007.
Ainda segundo Igayara, os valores enviados por Cabral foram aumentando com o tempo, levados a Igayara pelo operador Carlos Miranda ou em carros-forte. Ainda de acordo com o depoimento, Cabral teria procurado pelo empresário por ele 2 anos após o fim da campanha para legalizar a “sobras” do financiamento. Em determinado momento, o escritório de Adriana Ancelmo teria tentado “legalizar” R$ 2,5 milhões, também alegando que se tratavam de sobra de campanha.
Adriana Ancelmo é acusada de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa pela força-tarefa da Lava Jato no Rio. O ex-governador é acusado de liderar um grupo que desviou R$ 224 milhões em obras como a reforma do Maracanã e a construção Arco Metropolitano, entre outras.