Visão ‘pró-Europa’ vence na França com chegada de Emmanuel Macron

FOTO: DAVID VINCENT/ AP

O centrista Emmanuel Macron venceu a eleição presidencial na França neste domingo (7) e derrotou a candidata de extrema-direita Marine Le Pen. Na prática, a escolha pelo jovem ex-ministro da Economia do até agora presidente François Hollande é uma opção pela política de engajamento com a União Europeia, uma de suas principais bandeiras e fonte de discordância com Le Pen.

Manter essa política externa, de acordo com os especialistas, deverá ser o menor dos problemas de Macron. No entanto, para avançar em outros projetos, o novo presidente deverá esperar por um segundo resultado importante: de 11 a 18 de julho ocorrem as eleições legislativas francesas e, filiado a um partido pequeno e recente com menor probabilidade de vencer, o En Marche!, ele deverá traçar uma estratégia para angariar apoio dos mais tradicionais.

Principais impactos da vitória de Macron

Engajamento com a União Europeia

Continuidade na política externa

‘Justa’ acolhida de refugiados

Impactos domésticos dependem de eleições legislativas

As chances de o En Marche! obter a maioria legislativa são pequenas. “Seria um milagre se o partido do Macron conseguisse maioria no Parlamento, porque as eleições legislativas seguem uma outra lógica, em que os partidos tradicionais têm mais força. Então, Os Republicanos, segundo as pesquisas, devem ganhar espaço nas eleições do parlamento no mês que vem”, diz Carlos Gustavo Poggio, professor de Relações Internacionais da PUC-SP.

Ainda de acordo com Poggio, a questão do engajamento junto à União Europeia não deverá ser um embate de Macron com os partidos mais fortes da França, como Os Republicanos e O Socialista. Há uma concordância com relação a isso e, de certa forma, nesse quesito, a vitória do centralista representa “um alívio”.

No entanto, Macron deve enfrentar resistência no Parlamento para avançar outros projetos, como suas propostas de política doméstica e ações liberais.

“A margem de manobra vai depender de como ele vai construir o seu gabinete pós-eleições legislativas daqui a duas semanas”, disse David Magalhães, professor de relações internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), em São Paulo.

Em sua campanha, Macron disse que quer reduzir o imposto que incide sobre as empresas (de 33,3% para 25%) para tornar o país mais competitivo e reduzir as despesas públicas progressivamente. Ele propõe alterar a cobrança do imposto sobre grandes fortunas – visto como bandeira da esquerda – e exonerar 80% dos lares franceses do imposto sobre moradia.

O novo presidente tem, ainda, a polêmica ideia de mudar o seguro desemprego: os desempregados teriam que passar por uma avaliação de competência e seriam obrigados a aceitar uma vaga de trabalho quando recebessem uma segunda oferta. A maior parte dessas políticas não caiu no gosto do Partido Socialista e, inclusive, de Os Republicanos.

“Conseguir aprovar isso [essas propostas] vai depender muito das habilidades de negociação do Macron, de que tipo de aliança que ele vai ser capaz de fazer no Parlamento”, diz Poggio. “Mas o problema é que ele é um candidato muito inexperiente, nunca foi eleito para nenhum cargo, além de muito jovem, e não se sabe exatamente que tipo de experiência ele tem com essas negociações políticas”, acrescenta.

Macron disse que deve assumir sua “justa parte” na acolhida de refugiados diante da maior crise na imigração que o continente enfrenta desde a 2ª Guerra Mundial. Ele defende uma reformulação das condições de pedido de asilo e promete uma decisão em oito semanas para todos os pedidos.

Por outro lado, promete “tolerância zero” contra o crime e o combate ao terrorismo. Para os próximos 5 anos, propõe reforçar a guarda de fronteira, criar 10 mil postos de policiais e 15 mil vagas em prisões para abrigar pessoas envolvidas com terrorismo.

Em relação às polícias externas, espera-se que o governo de Macron dê continuidade às posições de Hollande. “No campo da política exterior, me parece que há uma manutenção no que a França já havia fazendo, tanto em relação à política na guerra ao terror, quanto à participação do país no conflito na Síria. A gente pode esperar uma continuidade no conflito independente do resultado nas eleições legislativas”, completou Magalhães.

 

G1

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