Franceses vão às urnas para definir presidente que poderá mudar a história do país
Marine Le Pen e Emmanuel Macron disputam neste domingo (7) o segundo turno das eleições presidências da França. De um lado, a candidata da extrema-direita, que defende a realização de um referendo para discutir a saída do país da zona do euro e da UE (União Europeia); do outro lado, o centrista que, apesar de ter tido ligações com o atual governo, conseguiu se colocar como um candidato novo e de fora do círculo tradicional da política francesa.
Um dos principais fatores que pesam negativamente para a campanha de Macron é a associação dele com o atual governo francês. O candidato é ex-ministro da Economia do presidente François Hollande, que tem sofrido com baixos índices de popularidade desde que assumiu o cargo, em 2012, diz Paulo Pereira, professor de relações internacionais da PUC/SP.
— Macron tem tentado fortemente se desassociar do governo Hollande porque isso pode prejudicar sua campanha. O povo francês está insatisfeito com o atual governo e não vai votar em alguém que se mostre como uma continuidade disso. Por outro lado, a favor de Macron está o fator da novidade, ele está sendo visto mais como uma alternativa do que como uma continuidade de governo.
O candidato nunca havia tentado uma eleição antes e lançou o próprio partido, o En Marche!, no ano passado. Além disso, Macro leva vantagem por ser um candidato mais centrista, explica Demétrius Pereira, professor de Política Europeia das Faculdades Integradas Rio Branco.
— O eleitorado francês não é muito aberto aos extremos. Os governos, até hoje, foram mais para direita ou mais para a esquerda, porém próximos do centro. Então, parece que não há uma aproximação assim tão grande com a Le Pen. Também há o fato de ela ter sofrido mais ataques dos outros candidatos e ter passado um pouco para a defensiva. Então, ficou meio que todo mundo contra ela. Talvez o sucesso desses ataques acabou derrubando ela um pouco nas pesquisas também.
Já Le Pen tem ao seu lado os votos de eleitores que, assim como ela, acreditam que a UE seja culpada por muitos dos problemas enfrentados pela França hoje. A candidata fez campanha com promessas nacionalistas, como a de defender os franceses do fundamentalismo islâmico e da globalização desregulamentada, e de iniciar os processos para tirar a França do bloco. Além disso, Le Pen diz que limitará drasticamente a imigração, expulsará todos os imigrantes ilegais e preservará certos direitos atualmente concedidos a todos os residentes, incluindo a educação gratuita, apenas a cidadãos franceses.
Se eleita, além de mudar a história fracesa, Le Pen pode agravar ainda mais a situação da UE, que já foi enfraquecida com o Brexit (como ficou conhecida a saída do Reino Unido do bloco), afirma a professora Denilde Holzhacker, do curso de relações internacionais da ESPM.
— A Europa sempre tem esses momentos de questionamento em relação à integração e, com o Brexit, as forças de direita ganharam mais força interna. A questão da crise econômica ainda pressiona muitos países e a população começa também a questionar o quanto a política imigratória da UE não atrai mais esses imigrantes. Mas essa contestação não é novidade, o enfraquecimento da UE vem vindo desde 2008, e só vai mudando de cara. Começou com a crise do euro, passou pela situação super precária da Grécia e, agora, tem a crise dos refugiados impulsionando essa extrema direita. A UE como bloco, não consegue dar resposta para isso, ela ainda fica um pouco em uma discussão filosófica. No momento, eles parecem querer resolver, reafirmando esses princípios europeus, mas, para sobreviver, a UE tem que se flexibilizar e afrouxar um pouco os parâmetros da integração.
A França é uma República Parlamentarista, ou seja, tem um presidente e um primeiro-ministro. Além das eleições presidenciais, a França também terá eleições parlamentares este ano, em 11 e 18 de junho. O novo premiê do país será nomeado, pelo presidente, dentre os membros do Parlamento, diz Pereira.
— É uma forma de governo bastante única, que chamamos de semipresidencialismo. O presidente tem mais poderes do que o premiê, por isso mesmo essa eleição presidencial é tão importante. A vantagem desse sistema é que o presidente é chefe de Estado e o primeiro-ministro é chefe de governo, então eles dividem o Poder Executivo.
Uma pesquisa do instituto Cevipof publicada no site do jornal Le Monde desta quarta-feira (3) mostrou que Macron teria 59% dos votos e Le Pen 41%, resultado semelhante ao de pesquisas dos últimos dias.