Souza fala sobre prisão minutos antes de jogo: “Constrangedor e desesperador”
Aquela tarde de quarta-feira no início de março parecia como outra qualquer. Colecionador de títulos por São Paulo, Grêmio, Fluminense, Paris Saint-Germain, entre outros, o meia Souza finalizava o aquecimento para o jogo contra o Paracatu, no estádio Abadião, em Ceilândia, válido pelo Campeonato Brasiliense.
Depois de assinar a súmula como capitão do Brasiliense, o jogador de 38 anos foi abordado por dois policiais federais e levado para a superintendência da PF em Brasília. Estava, para espanto de todos os presentes, preso.
Souza responde a dois processos de crimes contra a ordem tributária por suposta sonegação de tributos federais referentes aos direitos de imagem declarados pelo jogador à Receita. Os valores somados chegam a mais de R$ 5 milhões.
Em entrevista ao GloboEsporte.com, o meia desabafou sobre a prisão que durou dois dias, dizendo que preferia voltar a passar fome em vez de passar pelo que passou. Ele conseguiu um habeas corpus depois que os advogados apresentaram cópias dos contratos de trabalho, da residência e da escola do filho.
– Eu me desesperei porque o traficante sabe que em algum momento vai acontecer isso com ele, o ladrão está preparado para ser preso. A pessoa que foi criada na honestidade não está preparada para essas coisas. Foi um choque para mim. Foi desesperador, uma situação nova na minha carreira. Jamais imaginei passar pelo que passei, mas manda quem pode, obedece quem tem juízo.
O jogador questionou a alegação para a sua prisão de que não teria sido encontrado após diversas tentativas. A juíza federal substituta Silene Pinheiro Cruz Minitti afrma que, embora seja uma figura conhecida no meio esportivo, Souza não tem dados e endereço atualizados nos órgãos competes, o que leva a crer que “assim age de forma premeditada a fim de não ser localizado pelas autoridades”.
– Hoje a internet resolve tanta coisa, o tal de google. Se tu põe meu nome no google vai aparecer onde eu estou. Mas foi uma maneira que a pessoa achou de me encontrar, então…
Confira outros trechos da entrevista:
“Momento ruim na minha família”
– Se a gente for querer falar de justiça, vai se decepcionar. Um momento ruim na minha carreira, na minha família. Todas as coisas que tenho, as pessoas sabem da minha história. Eu passei fome, nunca peguei as coisas de ninguém. Então hoje estar sendo taxado de uma coisa que você não fez…. Estão cobrando uma coisa que eu não vou poder te falar direito o que é porque é uma parte jurídica e eu fiz até a sexta série, então foge da minha alçada.
“Teve um excesso”
– Estão cobrando uma coisa que no meu modo de pensar não é uma coisa certa, uma coisa que eu não sabia que tinha acontecido. Mas acredito que teve um excesso, porque se fizessem com as pessoas que têm um poder maior o que fizeram comigo, o Brasil seria um país mais bem visto. Mas paciência. Aqui manda quem tem mais poder. Infelizmente aconteceu, agora é lidar com essa situação.
“Não fiz nada de errado”
– O cara chegou lá, falou, e eu tive que lidar com essa situação. Mas a coisa mais tranquila da minha vida, que eu sempre passo pros meus filhos, é eu botar a cabeça no meu travesseiro e dormir. Não fiz nada de errado, e tenho certeza que as pessoas que foram designadas vão provar.
“Prefiro passar fome a passar por isso”
– Eu morei em Maceió, pais separados, morei com os meus avós, minha mãe ficou sumida por dez anos, apareceu depois, me convidou para ir morar com ela. Eu fui morar numa favela. Aí eu imaginei que eu teria uma vida mais solta. Mas foi uma vida mais presa, eu dormia no chão, no meio dos ratos, comia resto de comida, tomava aqueles sucos sem açúcar. Mas para mim foi um aprendizado muito grande. Eu passaria dez ou vinte vezes fome, mas não passaria por essa situação que passei agora já no finalzinho da minha carreira porque é uma situação bem constrangedora já que a pessoa sabia que eu estava trabalhando aqui.