Em alta, Diego Souza põe futebol do Nordeste na seleção e prega respeito: ‘tem que valorizar’
Nenhum jogador foi mais decisivo para um clube na Série A da última temporada que Diego Souza: ao todo, foram 14 gols e sete assistências na campanha que assegurou o Sport por mais uma temporada na primeira divisão.
O meia de 31 anos tem alçado desde então voos mais altos em sua carreira e coroou a sua excelente fase com a convocação na última sexta-feira para defender a seleção brasileira nas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2018. É o primeiro jogador do futebol nordestino a ser chamado desde o volante Leomar em 2001 com Emerson Leão.
O camisa 87 do rubro-negro pernambucano reacende o debate sobre a suposta falta de prestígio da região nas listas.
“A gente ouve muita coisa de muita gente e temos que tentar abstrair isso”, afirmou, em entrevista ao ESPN.com.br.
Diego Souza abriu, sim, mão de dinheiro ao deixar o Fluminense após pouco mais de três meses para retornar ao Sport. Um caminho que deve se tornar mais recorrente com os concorrentes locais movimentando cada vez mais dinheiro no mercado.
Ele se apresenta junto ao grupo comandado por Tite no próximo dia 19, em São Paulo, para enfrentar o Uruguai, em Montevidéu, no dia 23, e depois o Paraguai, na Arena do Corinthians, na capital paulista, no dia 28.
ESPN – Você já esperava ser convocado? Como é representar o Sport depois de 16 anos em uma Eliminatória?
Diego Souza – A expectativa era boa por causa da convocação contra a Colômbia, mas a gente nunca tem certeza de nada nessas horas. Eu estava com minha família no momento da convocação e foi uma emoção muito grande. Meu filho era muito pequeno quando fui convocado na última vez e ele não entendia direito essa grandeza de vestir a amarelinha. Agora, ele está um pouco mais velho e sabe o que representa para todos nós ser convocado, para o amistoso e agora para esses dois jogos das Eliminatórias.
A sensação de representar o Sport é algo que é difícil de descrever, mas que o torcedor pode ter certeza de que farei com muita honra. Se estou de novo na seleção, é por tudo que o Sport me proporcionou nesses últimos anos.
ESPN – Sempre que se conversa com dirigentes, falam que jogador bom só deixa o ‘eixo Rio-São Paulo’, como dizem, para ganhar mais no Nordeste. Seria esse mesmo o custo de supostamente se ‘esconder’?
Diego Souza – A gente ouve muita coisa de muita gente e temos que tentar abstrair isso. Acredito que essa convocação serve para demonstrar aos atletas e profissionais que trabalham no mundo da bola que o futebol nordestino tem muita força e deve ser mais valorizado.
ESPN – Sonha disputar a Copa também?
Diego Souza – Agora o sonho reacendeu! Era um gigante que estava aqui dentro adormecido, mas que, aos poucos, está se levantando. Ainda falta muito para a Copa do Mundo e preciso subir degrau a degrau para garantir meu lugar entre os 23. Vamos deixar para pensar nisso mais pra frente. Vai depender do meu desempenho, não só no Sport como também na seleção. Empenho não vai faltar. Isso só me dá mais ânimo para trabalhar.
ESPN – Palmeiras, Fluminense, Flamengo, Vasco, Atlético-MG, Grêmio e Cruzeiro. Você passou por todos esses clubes, mas em nenhum deles teve a identificação que conseguiu hoje no Sport. Por que isso?
Diego Souza – Recife foi um lugar que sempre me abrigou com muito carinho e respeito. Sou muito grato ao Sport por ter aberto as portas e por ter me dado alegria de voltar a jogar futebol. Sou muito feliz aqui, minha família adora a cidade e vejo um futuro de muita alegria com essa camisa.
ESPN – Para marcar de vez a sua passagem, confia que falta apenas a conquista do título pernambucano?
Diego Souza – A gente está sempre em busca de títulos e é isso que nos coloca na história dos clubes. Meu objetivo no dia-a-dia é trabalhar cada vez mais e melhor para escrever meu nome na galeria de craques desse clube.
ESPN – Conforme apurado, você ligou para Arouca, Rafael Marques e André para convencê-los a jogar pelo Sport. O seu papel hoje no clube, pela importância que tem, extravasa o vestiário?
Diego Souza – Conversei algumas vezes com o André para passar a ele como era a cidade, o clube e tudo que ele encontraria aqui. Nada além do normal que um amigo faria pelo outro para ajudá-lo aqui no Recife. Eu, claro, como todos aqui, quero o melhor para o Sport e ajudo da maneira como posso. Mas eu jamais me meteria em negociação da diretoria para reforçar o elenco. Estou aqui para ser decisivo dentro de campo, que é minha principal função e, se um dia pedirem meu conselho sobre algum atleta, posso dar, mas não atuo diretamente nisso.
ESPN – Você apoiou a eleição de Arnaldo Barros, ex-vice de futebol, para presidente. Chega a bater papo com ele sobre a melhora do clube?
Diego Souza – O Sport já tem uma estrutura excelente entre os clubes do Brasil. O Arnaldo é um cara que me recebeu muito bem aqui no clube e fizemos uma amizade bacana. Nossa conversa não avança muito além disso.
ESPN – Você disputou três Brasileiros pelo Sport. Todos em alto nível. Em 2016, o melhor. O que contribuiu para isso?
Diego Souza – Eu trocaria todos os meus gols pelo título do Campeonato Brasileiro para o Sport. Ganhar premiações pessoais é sempre bacana, mas o futebol é um esporte coletivo e é isso que colocamos sempre em primeiro plano. Difícil explicar um motivo único para o bom ano de 2016, mas devo ao crescimento de toda a equipe e, claro, a ajuda dos companheiros foi importante.
ESPN – É verdade que você criou as Séries A e B de dominó no vestiário?
Diego Souza – Dominó é uma paixão que tenho desde cedo. Sempre que posso chamo alguém para um desafio e raramente perco. Aprendi a jogar em casa e não larguei nunca mais. É uma brincadeira bacana que foge um pouco da tela do celular ou do vídeo game.
ESPN – Fala-se muito em demagogia ao analisar a relação de jogador e clube. É algo que passa longe de sua relação com o Sport?
Diego Souza – O Sport é um clube que eu aprendi a amar. É um dos maiores clubes do Brasil, com uma história linda no futebol e poucos sabem da honra e responsabilidade que temos de vestir essa camisa. Desde o primeiro dia que pisei aqui, eu só cresci e isso é um motivo de orgulho para mim.
ESPN – Sendo revelado no futebol carioca, como foi para você receber a camisa 87 e toda história envolvendo o Brasileiro?
Diego Souza – Foi uma honra vestir o número que representa um título importante na história do Sport. A responsabilidade só aumentou quando me deram essa opção e aceitei, porque acredito que seria um peso gostoso de se vestir em cada partida. Me sinto muito bem vestindo a 87 aqui.
ESPN – Você chegou até mesmo a defender o gol do Sport uma vez.
Diego Souza – Costumo brincar com amigos e com meus companheiros que, pelo Sport, jogo em qualquer posição, até mesmo de goleiro. Foi uma situação diferente, mas que acreditei que poderia ser feita por mim. Já tinha brincado algumas vezes de ser goleiro nos rachões e achei que naquele momento eu seria o mais preparado para colocar as luvas. Felizmente, deu certo, não perdemos e consegui ajudar mais uma vez o Sport.
Fonte: ESPN