Nos EUA, Moro é alvo de protestos e deseja ‘boa sorte’ a Moraes

moro-em-nyResponsável pelos processos da Operação Lava Jato em primeira instância em Curitiba, o juiz federal Sergio Moro disse nesta segunda-feira, em uma palestra na Universidade de Columbia, em Nova York, que as investigações anticorrupção no Brasil possibilitarão o fortalecimento das instituições e reforçarão na sociedade a aversão contra o comportamento de pessoas públicas que descumprem a lei.

A palestra de Moro teve um atraso de 12 minutos em razão de protestos contra seu trabalho na Lava Jato. Com cartazes às mãos, duas mulheres gritaram palavras de ordem e interromperam o início da fala do magistrado. Elas o acusaram de ser parcial na condução dos processos e foram vaiadas pelas outras pessoas presentes. Uma delas gritava “bias”, “viés” em inglês.

Em sua fala, Sergio Moro defendeu celeridade nas investigações da Lava Jato para evitar obstrução da Justiça, como costuma ocorrer quando há nomes de políticos e empresários importantes envolvidos. Ele afirmou que quem vive nos Estados Unidos não tem ideia do número de processos em andamento. “É além da imaginação”, disse. O juiz federal acrescentou que o excesso de casos acaba permitindo manobras obstrutivas. “É uma história sem fim”, definiu.

Moro lembrou que a operação enfrentou alguns contratempos, entre os quais a morte do ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). Ele disse esperar que o novo responsável pelos processos da investigação no STF, Edson Fachin, “um grande jurista”, em suas palavras, dê continuidade a esse trabalho.

Indicado para a vaga de Teori pela lista tríplice da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) enviada ao presidente Michel Temer, Moro afirmou que “nunca faria campanha” por sua nomeação e brincou: “eu não acho que seria escolhido”.

Quanto ao provável substituto de Teori Zavascki na Corte, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, o juiz desejou “boa sorte”. “Se ele [Temer] escolher o ministro da Justiça, boa sorte ao ministro. Não tenho opinião para compartilhar agora”, disse o magistrado.

‘Doença tropical’

Durante sua explanação na palestra, Sergio Moro afirmou que a corrupção, às vezes, se assemelha a uma “doença tropical”, mas destacou que, no caso do Brasil, felizmente o combate aos desvios de políticos e empresários está mostrando à sociedade que é possível superar o problema.

O juiz também considerou infundadas as críticas de que a Lava Jato tem prejudicado a economia brasileira por envolver grandes empresas que geram investimentos e empregos. Ele disse que, se os investimentos foram planejados com essa noção de que não há corrupção, os recursos provenientes dos lucros das empresas vão ser dirigidos “para combater a miséria” e não para o pagamento de propinas.

Críticas

Sergio Moro também comentou as acusações de que a Lavo Jato não tem a imparcialidade necessária a uma investigação judicial. “Isso não é certo”, rebateu. Ele admitiu que, em alguns casos, segmentos da equipe de investigação vão além do esperado, mas esclareceu que os exageros não chegam a comprometer o resultado da operação. “Os crimes estão expostos e os procuradores e [integrantes do] Judiciário são sérios”.

Ao ser indagado por uma participante sobre os constantes vazamentos da Lava Jato, Moro respondeu que que “é muito difícil” saber a origem da informação quando ela sai do controle da investigação. “É muito difícil saber quem vazou para a imprensa”, afirmou.

Questionado ainda sobre porque aparece em imagens ao lado de políticos que estão sendo investigados na Lava Jato, como o caso do senador Aécio Neves (PSDB-MG), Sergio Moro disse que as fotos divulgadas se referem a um evento público em que, por acaso, os políticos investigados também participavam.

Moro ainda atribuiu os boatos espalhados na internet de que seria um agente da CIA (órgão de inteligência do governo norte-americano) a uma “teoria da conspiração”, que busca tirar do centro do debate político os efeitos positivos das investigações. “Às vezes (teorias da conspiração) soam como loucura”, comparou.

(com Agência Brasil)

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