Mãe de Danilo nunca quis grana do filho e veta netinho no futebol por medo
A generosidade está no olhar de dona Ilaídes Padilha. A mulher que perdeu o filho em uma tragédia, mas dá o ombro para consolar jornalistas que nem conhece. E busca neles também o seu conforto. Ela percebeu que falar alivia o coração. E assim, falou, falou, falou…. Botou tudo para fora e por um segundo se esqueceu de chorar e abriu um sorriso.
A mãe do goleiro Danilo encontrou nas entrevistas uma terapia em grupo para o seu luto. Não titubeou em contrariar os pedidos da psicóloga de se resguardar. No gramado da Arena Condá, atendeu gente do mundo inteiro, um a um. Até correu no campo para chegar a tempo do link ao vivo de emissora de TV. Pediu e distribuiu muito abraços. E foi também assim, sem querer, que mostrou ao mundo quem é ao aliviar a dor do repórter Guido Nunes, do SporTV, com um abraço apertado. Ao vivo e em rede nacional.
Mas a nobreza de dona Ilaídes não vem da dor da tragédia. Foi com essa força que ela criou os filhos Danilo e Daniele desde pequenos. Deixou para trás a infância dura com muito trabalho. Por 33 anos, virou-se entre três empregos ao mesmo tempo e conseguiu melhorar a vida dos pequenos.
O futuro dos filhos sempre foi prioridade. Por isso, nunca aceitou dinheiro de Danilo nem depois que ele começou a fazer sucesso na Chapecoense. Sua preocupação era dar conselhos ao menino porque sabia que ele estava em início de carreira e vida de jogador não é fácil.
“A minha vida mudou pouco depois que o Danilo começou a fazer sucesso. Parei de trabalhar nos três empregos. Mas foi porque conseguimos uma estabilidade com 33 anos de trabalho. Nunca peguei um centavo do Danilo. Nunca aceitei. O dinheiro que ele tinha era para o futuro dele. Eu falava para ele: ‘Você está começando, investe o seu dinheiro’. A gente até ajudou ele ainda, pagava uma coisinha ou outra e ele pagava depois”, disse.
Até pouco tempo atrás, dona Ilaídes tinha um emprego em uma rádio de Cianorte (PR) de dia, trabalhava como garçonete em um buffet de noite e ainda fazia bico em uma pizzaria. Hoje, ela se mantém como funcionária da rádio e percorre a cidade pilotando a sua própria moto para efetuar os pagamentos em banco e cobrar devedores. Não à toa, ela se gaba de ter pernas fortes com seus 54 anos ao andar de um lado para o outro no gramado.
A mãe de Danilo adora contar sua história. Só assim se distrai em meio ao caos que está vivendo e arrisca até uma piada sobre o marido Eunício. “Meu marido trabalha na Globo. Mas ele é vigia e ganha pouco. Todo mudo achava que ele ganhava um monte porque ele trabalhava na Globo”, brinca, arrancando risadas dos jornalistas.
O sorriso aparece mesmo quando ela fala do netinho Lorenzo de dois anos e meio e que é “xerox do pai”. A avó tem orgulho de dizer que eles se parecem em tudo, mas não vão seguir a mesma profissão. Ser jogador de futebol está proibido.
Fonte: UOL