Governador exalta República em discurso em Marechal Deodoro

1Em discurso, o governador Renan Filho exaltou o patriotismo, a história da família Fonseca, além do legado do Império e os primeiros anos da nova forma de governo. O breve apanhado histórico foi narrado durante a cerimônia de passagem da sede do Governo de Alagoas, ocorrido, nesta terça-feira, 15, no município de Marechal Deodoro, em solenidade alusiva ao Dia da Proclamação da República.

Confira na íntegra o discurso do governador Renan Filho:

(…) minhas senhoras, meus senhores:

Pelo segundo ano consecutivo, venho aqui cumprir um ritual cívico que nos orgulha a todos: no Dia da Proclamação, 15 de novembro, honramos o exemplo e a memória do Proclamador da República, em sua cidade natal.

E é com o coração cheio de alegria que mais uma vez tenho a honra de presidir a solenidade de transferência provisória da sede do Governo do Estado para a cidade histórica de Marechal Deodoro. 

Este ato tem um simbolismo todo especial para Alagoas, tanto que ele passou a ser a uma determinação da nossa Constituição Estadual.

Como todos sabem, a República foi proclamada no Rio de Janeiro, que era a Corte do Império, quando o marechal Manoel Deodoro da Fonseca foi chamado pelos seus companheiros de farda para proclamar, na antiga Praça da Aclamação, a atual Praça da República, o fim da Monarquia e a ascensão da República, e foi saudado pelo povo no velho Paço Imperial, hoje Praça 15 de Novembro.

Mas foi aqui, nestas margens da Lagoa Manguaba, na outrora pequenina Vila de Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul, foi aqui que tudo começou, muitos anos antes da Proclamação.

E começou com uma mulher, Rosa Paulina da Fonseca, a mãe mais patriota do Brasil.

Dona Rosa da Fonseca também nasceu aqui, neste chão generoso em que nos reunimos hoje.

Dos dez filhos de seu casamento com o coronel Manoel Mendes da Fonseca, oito eram homens: Hermes Ernesto, Severiano, Manoel Deodoro, Pedro Paulino, Hipólito, Eduardo Emiliano, João Severiano e Afonso Aurélio.

Todos seguiram o destino do pai – a vida militar – e eram conhecidos e respeitados pela coragem pessoal e o senso de disciplina. Para enfrentar o desafio de seguir carreira nas Forças Armadas, sempre tiveram o incentivo da mãe, que depois de viúva criou os filhos sozinha.

Dos oito filhos militares de Dona Rosa, cinco foram combater na Guerra do Paraguai, e três deles lá ficaram, tombados no campo de batalha.

Morreram o caçula, alferes Afonso Aurélio da Fonseca, do Batalhão de Voluntários da Pátria; o capitão Hipólito, na batalha do Curupaiti, e o major Eduardo Emiliano, morto em combate na Ponte de Itororó.

Dona Rosa da Fonseca enfrentava a mesma angústia e o mesmo sofrimento que toda mãe, quando manda um filho à guerra, arranca um pedaço do coração. No caso dela, a angústia era multiplicada por cinco. E a dor da perda de um filho, essa dor incomparável que nunca vai embora, ela sofreu três vezes, nos seis anos que durou o conflito.

Rosa da Fonseca enfrentava com altruísmo o sacrifício de seus filhos. Eram heróis, e os heróis dão a vida pela Pátria – assim ela encarava sua sina.

Conta a História que Dona Rosa, quando recebia o boletim militar de pêsames pela morte de um filho numa batalha vencida pelo Brasil, ela primeiro celebrava a vitória das nossas tropas, estendendo uma bandeira verde-amarela na janela de casa. E só depois da comemoração, aí sim, sozinha em seu quarto, ela chorava o filho morto.

Deodoro foi um dos dois filhos que venceram e sobreviveram à Guerra do Paraguai, o maior conflito militar da América do Sul. Voltou dos campos de batalha, em 1870 já como o líder que quase 20 anos depois comandaria o levante político-militar que pôs fim aos 68 anos de Monarquia no Brasil.

E não podemos esquecer que a família Fonseca legou ao nosso país outros filhos e descendentes de perfil brilhante nas Forças Armadas e na política.

O irmão mais velho de Deodoro, Hermes Ernesto da Fonseca, por exemplo, também chegou ao posto máximo de marechal-de-exército; e seu filho e homônimo, o general Hermes, neto de Dona Rosa, viria a ser um dos sucessores do próprio Deodoro na Presidência da jovem República do Brasil. Hermes da Fonseca foi o primeiro presidente eleito do país, e governou de 1910 a 1914.

Por tudo isso, ao homenagear hoje o Proclamador, no aniversário de 127 anos do seu gesto histórico, faço questão de pedir a todos que voltemos nossos olhos e nosso pensamento para uma grande mãe, a mãe de Deodoro, essa alagoana de fibra, Rosa da Fonseca, símbolo do patriotismo da mulher brasileira.

Minhas amigas, meus amigos,

É muito bom para mim estar aqui, revivendo fatos e personagens da nossa história, podendo abraçar e conversar com os conterrâneos de um dos maiores brasileiros que já existiram. Um alagoano que levou o Brasil a dar um salto histórico, entrando no século 20 como República Federativa.

A partir daquele 15 de novembro de 1889, o Brasil, que desde 1822 era governado pela vontade soberana de um só, o monarca, inaugurava um novo tempo, em que a democracia deveria falar mais alto que o sangue nobre da Corte.

Hoje os historiadores, quase todos eles, concordam que a Monarquia trouxe muito progresso econômico, científico e cultural para o Brasil, sobretudo no Segundo Reinado, de D. Pedro II.

Mas depois de nove anos do poder de D. Pedro I; de outros nove anos de Regência durante a infância e adolescência de D. Pedro II; e de mais 49 longos anos desde a coroação do segundo Imperador até 1889 – a verdade é que a Monarquia, com 68 anos de duração, já tinha dado o que tinha que dar.

E deu muito, isso é inegável e devemos fazer justiça.

É necessário sempre reconhecer e proclamar os benefícios que o Brasil obteve no Império. A unidade do território, da nação e do idioma; as leis que valiam para toda a extensão do território nacional; o sentimento de brasilidade e de amor à liberdade que une todo o nosso povo desde a Independência – ou mesmo antes dela, como demonstram episódios do tamanho do Quilombo dos Palmares, da Inconfidência Mineira, de Guararapes e tantos outros.

Mas o fato é que em 1889 a Monarquia estava esgotada. Um ano antes, em 13 de maio de 1888, o Brasil finalmente se livrara, e já com muito atraso, da escravidão, a mais desumana, incivilizada e vergonhosa das relações de trabalho. Depois de superado o regime do cativeiro, não fazia mais sentido continuar sob a Monarquia.

Os conflitos políticos e econômicos se multiplicavam, o poder do Trono não tinha mais diálogo com as classes produtoras, com a Igreja Católica, e nem com os entusiastas da causa abolicionista, que já pregavam a necessidade de um novo sistema de governo.

A democracia pedia passagem, e sua voz falava ao coração do Brasil.

Todos reconheciam em D. Pedro II um homem correto e um imperador bondoso. Mas uma figura anacrônica, cujo tempo já havia passado. Não havia mais futuro para o poder imperial.

O país, a partir do gesto de Deodoro, foi abrindo caminho para ser dirigido pela vontade coletiva, expressa no voto, uma conquista civilizatória da humanidade – e que demorou para chegar por aqui.

Demorou também, mesmo na República, até que o voto livre e secreto se impusesse como direito de todos, incluindo mulheres, jovens e analfabetos. E acabou sendo conquistado.

A República, minhas amigas e meus amigos, foi um passo decisivo para o Brasil entrar no século 20 em pé de igualdade com outras nações, inclusive da própria América Latina.

De lá para cá, o Brasil teve avanços e recuos – muito mais avanços que recuos.

Deodoro instalou o novo regime e foi nosso primeiro presidente. Convocou para vice-presidente outro militar alagoano que também está entre os grandes vultos da Pátria, o Marechal Floriano Peixoto, filho das praias e coqueirais de Ipioca, do lado de lá do litoral de Alagoas.

Floriano, o consolidador da República, combateu com vigor e venceu as forças que pretendiam fazer o Brasil retroceder.

Nestes 127 anos de regime republicano, acumulamos trinta e sete presidentes da República. Mas desses, apenas dez foram eleitos, tomaram posse e completaram o mandato, como deveria ser o normal.

Os outros 27 foram interinos ou assumiram o poder de formas diversas, nem sempre republicanas. Dois deles, Rodrigues Alves e Tancredo Neves, morreram antes de tomar posse – Rodrigues Alves eleito pelo povo, Tancredo pelo Colégio Eleitoral. Outro, Júlio Prestes, foi eleito mas não tomou posse porque veio o golpe da Revolução de 1930.

Um presidente, Getúlio Vargas, se suicidou; outro, Jânio Quadros, renunciou; e outros dois foram depostos por impeachment.

Tivemos nada menos que cinco presidentes interinos. Passamos por duas ditaduras, a do Estado Novo e a do regime militar; tivemos cinco generais-presidentes e uma Junta Militar ao longo dos 21 anos da última ditadura.

É uma história republicana cheia de tropeços, percalços e instabilidades. Mas o Brasil resiste e insiste.

Agora, mesmo estamos vivendo uma época de crise econômica séria, de incertezas políticas e rearrumação de forças.

Os municípios acabam de eleger ou reeleger prefeitos e vereadores, e todos olham para o futuro com alguma esperança e muitas dúvidas.

Os estados, mesmo alguns com economia poderosa, enfrentam provavelmente a crise mais grave de toda a era republicana.

Nós, em Alagoas, ainda respiramos com nossos próprios pulmões, porque lá atrás, ouvimos a voz da razão e fomos prudentes. Nossa situação está longe de ser confortável, mas ainda temos condições de administrar nosso aperto.

Mas todos os estados e municípios – nós que vivemos e sofremos o Brasil real, aqui na planície – temos o dever de reafirmar, neste aniversário da República, que a Federação deve ser justa. Deve ser republicana.

A União Federal não pode e não deve continuar tão concentradora de recursos e programas.

O pacto federativo tem que estar à altura dos ideais que moveram Deodoro a proclamar a República. Tenho esperança e fé de que isso é possível.

Com trabalho, perseverança, disposição para o diálogo, vontade de acertar, boas ideias, respeito pelas diferenças, ouvidos atentos, ânimo e sensibilidade, vamos fazer tudo que é possível – e depois correr atrás do que achamos impossível.

Será possível, sim, minhas amigas e meus amigos, o amanhã melhor estará ao alcance das nossas mãos, com o exercício sadio, inteligente e incansável da política. Só ela tem a virtude de mediar conflitos, construir consensos, harmonizar vontades.

Por isso eu vou voltar a pedir, como fiz aqui mesmo no ano passado, de coração aberto e com toda franqueza, aos jovens de Alagoas, às moças e rapazes que estão na idade de decidir seu rumo na vida:

Eu lhes peço que tentem compreender a política, para melhorar a política.

Mesmo que não pretendam se candidatar em eleições, procurem se interessar pela política. Não a reneguem, não digam que não querem saber dela, eu lhes peço.

Conversem com o povo; ele tem muito a ensinar. Abram horizontes novos, ajudem a construir algo novo em Marechal Deodoro, em Alagoas e no Brasil.

Alagoas, essa terra tão bonita e tão necessitada, merece a nossa atenção, nosso amor e nossa gratidão.

Viva a Vila de Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul, viva o Marechal Deodoro e o Marechal Floriano, viva a nossa querida Alagoas!

Viva à  República, à democracia, à justiça e à paz!

Muito obrigado e um grande abraço.

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