Para capitalizar o projeto, os responsáveis pela captação do investimento recorreram a dois fundos de servidores públicos – o Igeprev, dos funcionários do governo de Tocantins, e o Serpros, dos funcionários da companhia federal de processamento de dados. Como nos outros casos investigados pela Greenfield, a suspeita é que o dinheiro dos dois fundos de pensão de servidores tenha sido destinado ao projeto em troca de propinas pagas a seus dirigentes. Juntos, Serpros e Igeprev investiram mais 130 milhões de reais no projeto do hotel.
De acordo com o Ministério Público Federal, o negócio obedeceu um padrão que se repete nos demais projetos investigados pela Greenfield: a quadrilha que captava os investimentos costumava inflar o valor dos projetos e, quase sempre mediante o pagamento de propinas aos dirigentes dos fundos de pensão, conseguia o aporte de valores milionários. O problema maior vem na sequência. Muitos dos projetos não saíam do papel – e o prejuízo ficou com os funcionários associados aos fundos de pensão, que viam virar pó recursos que deveriam ser destinados ao pagamento de suas aposentadorias.
O projeto do Trump Hotel obedece essa lógica, segundo os procuradores. A construção do empreendimento demandaria o investimento de 200 milhões de reais, mas de acordo com os relatórios de auditoria independente, o FIP LHS apresenta valor contábil de 332 milhões de reais, 65% acima do que foi originalmente planejado. É exatamente aí que está a suspeita de fraude. A previsão era que o Trump Hotel ficasse pronto antes do início das Olimpíadas Rio 2016, o que poderia justificar o investimento. Mas, por motivos que não foram comunicados ao mercado financeiro, o hotel não ficou pronto. Os fundos de pensão ficaram no prejuízo.
Em outra frente, a Operação Greenfield apura recursos destinados a um segundo projeto brasileiro que conta com participação do conglomerado de Donald Trump. Este caso envolve recursos do FI-FGTS, o fundo de investimentos administrado pela Caixa Econômica Federal com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. De acordo com a investigação, dinheiro do fundo foi destinado à construção das Trump Towers Rio, no Porto Maravilha, projeto de revitalização da região portuária da capital fluminense. Há suspeitas de pagamento de propina para a liberação dos recursos do FI-FGTS para o projeto.
“A respeito do grupo econômico The Trump Organization, verificamos que este também foi beneficiado por meio de investimento do FI-FGTS (…) para aporte de recursos na Trump Towers Rio”, escreve o procurador Anselmo Lopes, responsável pela investigação. Sobre o projeto do hotel que não ficou pronto, diz o procurador: “É necessário verificar se o favorecimento pelas entidades de previdência da empresa LSH Barra Empreendimentos Imobiliários S.A. e do grupo empresarial The Trump Organization deu-se por meio de pagamento ilícito de comissões e propinas, tais como noutros casos apurados no bojo da Operação Greenfield – considerando, em especial, a grande similitude do modus operandi”.
Procurada, a The Trump Organization não se manifestou até a publicação desta reportagem.