Bebê de 4 meses morre e mãe acusa hospital particular de SP de negligência
A noite da última sexta-feira (9) de setembro parecia um pesadelo para a paulistana Lidiane Fidelis Vieira. Ela segurava o filho Benjamin, 4 meses, nos braços quando viu, pelo monitor, o coração dele parar de bater. “Olhei nos olhos dele e disse: ‘Volta, filho. Aguenta só mais um pouco’. Soprei o narizinho…”, contou. A mãe estava no hospital Salvalus, da empresa Greenline, no bairro do Bresser, zona leste de São Paulo. Benjamin estava internado na UTI há 40 dias e não resistiu. A mãe contou que sofreu com descaso médico desde o primeiro dia em que chegou no pronto-socorro com o filho chorando.
“Meu filho sempre foi uma criança feliz, sorridente. No dia 29 de julho, percebi que algo estava errado. Ele chorava muito e sentia dores fortes”, disse Lidiane, em entrevista à CRESCER. Certa de que o comportamento do filho não estava normal, ela decidiu ir até o pronto-socorro. Já no consultório médico, Benjamin vomitou pela primeira vez. “Meu filho nunca havia vomitado daquele jeito”, lembra. Depois de alguns procedimentos, a pediatra disse que era apenas uma cólica e mandou a família voltar para casa.
Algumas horas depois, ao trocar a fralda do filho, Lidiane teve uma surpresa: o xixi/cocô estava com uma consistência de geleia e apresentava traços de sangue. “Embrulhei a fraldinha, chamei meu marido e corremos novamente para o hospital”. A pediatra que os atendeu disse então que era apenas uma virose e que o bebê provavelmente tinha alergia ao leite. “Eu perguntei: ‘E a barriguinha?’. Ela disse que eram apenas gases e receitou um remédio para o alívio. Ela me deu uma bronca e falou: ‘Mãe, não fica trazendo ele aqui por qualquer dorzinha'”, lembra.
Mais uma vez, a família foi para casa, mas, à noite, a situação só piorava. Benjamin passou a vomitar muito e não comia. Na manhã seguinte, já desesperados, eles correram para o hospital pela terceira vez. “Já entrei lá nervosa, quase quebrando tudo. Falei para a recepcionista que era a terceira vez que eu ia lá e que meu filho tinha alguma coisa”, conta Lidiane.
Desta vez, a pediatra pediu exames de sangue e de urina. Depois, pediram um raio-X. O bebê não parava de chorar e, novamente, a médica disse que a mãe poderia dar um remédio para alívio de gases. Lidiane conta que ficava cada vez mais desesperada, porque não tinha resposta do hospital sobre o diagnóstico e porque o filho recusava o leite. Aplicaram um soro antes de, novamente, dar o diagnóstico de gases. “Eu estava quase indo embora, quando fui trocar a fralda de novo e tinha sangue vivo. Chamei todos e perguntei: ‘E aí? Ele não tem nada?”, disse a mãe.
Ao ver o sangue na fralda, os profissionais do hospital pediram, então, uma ultrassonografia. “Ele estava nos meus braços, vomitando muito, e eu ainda tinha que enfrentar uma fila. Briga vai, briga vem, me passaram na frente”, recorda. Só então veio o diagnóstico: invaginação intestinal, que é quando uma parte do intestino penetra em outra (como uma luva, com um dedo virado para dentro). A cirurgia só foi marcada para o próximo dia, um domingo de manhã.
“Na manhã de domingo, seguimos para o centro cirúrgico. É a última lembrança que tenho de ver meu filho acordado, meio choroso, mas ainda com vida no seus olhinhos. Dez minutos depois o médico apareceu nos dizendo que não havia operado meu filho porque ela havia desestabilizado. Ali, ele teve a primeira parada cardíaca, ocasionada pelo estado clínico dele, que já era muito ruim”, escreveu Lidiane, em um depoimento postado em sua página do Facebook. O prontuário, ao qual CRESCER teve acesso, mostra que Benjamin estava desidratado porque “não correu o soro da madrugada, segundo a enfermagem”. Segundo Lidiane, as enfermeiras que colocaram o soro nele não perceberam que o acesso do bracinho estava obstruído.
Depois, ele seguiu para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde permaneceu por 40 dias. “Dali por diante, a situação dele só se agravou. Foram 40 dias de luta, três operações, infecções e bactérias no sangue”, lembra a mãe.
Lidiane também reclamou da falta de cuidados com a higiene em ambiente hospitalar. De acordo com ela, vendedores visitavam a UTI neonatal sem nenhum tipo de parametrização, como o uso de roupas específicas. “O mesmo elevador que levava o lixo hospitalar levava pacientes em estado grave como meu filho”, apontou. Um dos motivos do falecimento que constam no obituário de Benjamin é septicemia, infecção fatal causada por germes.
Na primeira cirurgia, Benjamin voltou com uma queimadura na cabeça. “Falaram que um dos aparelhos havia queimado”, disse a mãe.
Na última sexta-feira (9), a médica de plantão informou aos pais que Benjamin precisaria ser entubado para a relização de um exame de tomografia. A equipe desconfiava de uma fístula no fígado. “Chorei, me descabelei e questionei, como sempre fazia”, disse Lidiane. “Por que precisa entubar novamente? O médico da manhã havia me dito que não era necessário. Nunca ninguém sabia me explicar nada e em toda troca de plantão eu ficava aflita, pois cada médico tinha uma conduta”, indignou-se.
Lidiane contou ainda que o exame havia sido marcado para as 19h daquele mesmo dia, mas, no horário, nada havia sido feito. Ela teria sido informada de que uma das máquinas estava quebrada e que era preciso esperar mais. O bebê já estava entubado. “Fizeram eu e meu marido respondermos um questionário e perguntaram se eu autorizava aplicar contraste intravenoso. Eu disse que não e perguntei se era possível fazer o procedimento sem. A enfermeira gritou que sem o contraste o exame não era tão eficaz”, relata.
Fizeram o procedimento, enquanto Lidiane aguardava do lado de fora. Na volta, os batimentos cardíacos começaram a cair. O médico foi informado. “Benjamin foi ficando com o corpinho todo roxo. A enfermeira, desesperada, estava tentando um acesso para a medicação. Furaram ele por mais de 20 vezes. Tentaram uma expansão de soro, pois meu filho voltou do exame desidratado. Liguei para o meu marido e disse: ‘Vem para cá. Nosso filho está parando”, escreveu Lidiane.
Benjamin faleceu pouco tempo depois. “Beijei muito meu filho, abracei, cheirei, mesmo sem vida. Morri no dia 9/9, sentada numa cadeira, segurando a mão do meu filho, mãozinha que segurei durante 40 noites naquele inferno de UTI”, contou a mãe.
Fonte: Revista Crescer