Lula estava sendo chantageado em Santo André, diz Marcos Valério
Condenado no mensalão, o publicitário Marcos Valério, que cumpre pena numa penitenciária em Minas Gerais, afirmou em depoimento ao juiz Sergio Moro nesta segunda (12) que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava sendo “chantageado” pelo empresário de Santo André (SP) Ronan Maria Pinto, em 2004.
Valério, porém, não esclareceu o motivo da chantagem.
“Eu gostaria de não responder essa pergunta, porque o que eu fiquei sabendo é muito grave e o senhor não vai poder garantir a minha vida”, afirmou, na audiência. “É um assunto muito grave e eu não quero correr riscos. Eu estou preso numa penitenciária.”
O publicitário e outras oito pessoas são réus numa ação da Operação Lava Jato, que trata de um empréstimo fraudulento feito no banco Schahin, cujos recursos foram repassados a Pinto, dono do jornal “Diário do Grande ABC”.
Os investigadores do caso suspeitam que o motivo da extorsão tenha sido a compra do silêncio sobre o caso Celso Daniel, prefeito petista de Santo André (SP) assassinado em 2002. Mas essa suspeita não foi incluída na denúncia.
Além de Lula, os ex-ministros José Dirceu e Gilberto Carvalho, ambos do PT, também estariam sendo chantageados, segundo afirmou Valério.
DE JOGADOR A VERDADEIRO
Valério, que falou por cerca de uma hora, ainda disse que passou “de mentiroso e jogador” a “verdadeiro” -já que, em 2012, ele prestou depoimento ao Ministério Público Federal sobre o empréstimo no banco Schahin.
“Eu era considerado um mentiroso, um jogador, que queria atrapalhar o processo. Aí [agora] vieram dizer: tudo o que você falou era verdade. Eu me tornei um cara verdadeiro.”
As agências publicitárias de Valério eram usadas para fazer empréstimos fraudulentos e repassar o dinheiro ao PT e seus aliados, conforme mostrou a investigação do mensalão.
Por causa disso, segundo afirmou o publicitário, o então secretário-geral do PT, Silvio Pereira, pediu que ele repassasse R$ 6 milhões a Ronan Maria Pinto, que estaria “chantageando o presidente”.
Apesar de ter topado inicialmente, Valério disse que acabou não intermediando o pagamento porque “não queria ligação” com o caso.
“Eu comecei a sondar quem era Ronan Maria Pinto. E o que eu fiquei sabendo não me agradou”, afirmou. “Eu disse [a Silvio Pereira]: você é maluco. Eu não vou fazer isso, não vou transferir, não quero ligação com isso, e usei o termo: me inclua fora disso.”
Por causa disso, segundo a investigação, a operação foi feita via banco Schahin, com um empréstimo tomado em nome do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula.
Tanto Pereira quanto o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares (que é réu na mesma ação), negam a operação e dizem não ter qualquer relação com o empréstimo no banco Schahin. Com informações da Folhapress.
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