Oferecido pelo CEO da Omega, Raynald Aeschlimann, em homenagem a Buzz, o banquete tinha cerca de quinze comensais, entre eles clientes vips da marca, empresários da cena carioca-global, o rabino Nilton Bonder, nome de peso na cena judaica carioca, e VEJA. Dono de um estilo peculiar e extremamente patriótico, o homem que já esteve no espaço sideral apareceu de terno e gravata estampada com a bandeira dos Estados Unidos, além de meias com o mesmo motivo, combinando. No blazer, pins relembrando um passado glorioso – e perigoso (o então presidente americano Richard Nixon, à época, chegou a preparar o funeral dos astronautas e discurso solene temendo uma tragédia). Apesar de se furtar a responder perguntas sobre a existência de Deus, Buzz carrega nos dois pulsos uma profusão de pulseiras que lembram o juzu, tradicional bracelete de contas budista. São tantas que quase encobrem o relógio do qual é embaixador. Nos dedos, inseparáveis anéis de ouro – como o que revela uma meia lua na companhia de uma estrela solitária.
A célebre frase “Este é um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade” pode até ter sido proferida pelo capitão da Apollo 11, mas Aldrin é quem aparece na maioria das fotos e vídeos feitos lá em cima – Armstrong era o responsável por registrar tudo com a câmera. Vaidoso, Buzz foi ainda o primeiro homem a tirar uma selfie no espaço (“Se eu soubesse que ia virar moda, teria patenteado o termo”). Ele brinca, ainda, que ir à Lua estava escrito em seu destino. “Minha mãe se chamava Marion Moon. Quer sinal maior do que ter este sobrenome na sua família? Mas é claro que isso não significa que o Bruno Mars vai chegar a Marte”, diverte-se citando o cantor pop. Buzz, aliás, vem de “brother” (irmão), como suas irmãzinhas pronunciavam na infância – em 1988, o apelido foi registrado como nome oficial.
Sem vento ou variação atmosférica que possam apagá-las, as marcas deixadas pelas botas de Armstrong e Aldrin, os dois tripulantes do módulo Águia, devem ficar impressas na superfície lunar por centenas de milhares de anos. Uma vez conquistado, no entanto, o satélite perdeu a graça, sendo eclipsado por Marte, que se tornou a grande obsessão de Aldrin. E pauta obrigatória durante o jantar na Casa Omega. O astronauta só falava do planeta vermelho, em looping, inclusive dando instruções de como deveria ser o relógio no pulso dos primeiros astronautas a chegarem lá. Segundo ele, há grande chance de serem os chineses, mas não se pode assinar embaixo de tudo o que o americano diz. Dono de um humor sarcástico, ele chegou a ser aconselhado por sua Relações Públicas, Christina Korp, a evitar as ironias. Apesar do raciocínio por vezes falho devido à avançada idade, Buzz explica de cor e salteado sua tese científica para transportar os humanos ao distante corpo celeste. O conceito envolve uma manobra estilingue que deverá ser feita durante uma janela temporal que ocorre a cada 26 meses (quando Marte e Terra ficam próximos). A viagem, assim, seria mais rápida, duraria cerca de cinco meses, e Buzz pede para que levem suas cinzas. Desse certo, a tripulação permaneceria por um ano e meio em solo marciano até regressar ao planeta azul. Nem parece que o senhorzinho entusiasta da exploração espacial já foi reprovado na aeronáutica.
Segundo Aldrin, o ideal seria nem voltar de Marte, mas sim ficar por lá mesmo, garantindo o povoamento da colônia. E fazer o que naquele planeta, meu Deus? “Plantar batatas, por exemplo, como no filme. Você assistiu Perdido em Marte, com o Matt Damon? Foi inspirado na minha teoria”, diverte-se. “Agora, falando sério, eu sou apenas o cara do transporte. O resto não é comigo”, completa com um sorriso maroto no rosto. Buzz precisa ser interrompido por Aeschlimann, o CEO suíço, para que não se esqueça de terminar seu filé mignon escoltado por batatas ao murro e aspargos, antes que esfrie. Com a paciência de quem já foi e voltou da Lua, o cosmonauta espeta, pica e mastiga os alimentos calma e lentamente. Parece apreciar o prato, certamente melhor do que batatas marcianas. “E o senhor acredita em tecnologia alienígena na Terra?”, pergunto ao pé do ouvido, antes do derradeiro brinde de despedida. “Não, mas eles nos deixaram inscrições nas cavernas”, responde em tom sério.