As gafes e as controvérsias da cobertura dos Jogos
Falar ao vivo em uma grande transmissão de TV pode ser uma tarefa ingrata para quem não tem jogo de cintura ou filtro na língua — e solta pensamentos inadequados ou ofensivos. Ao longo da Olimpíada no Rio de Janeiro, foram muitos os apresentadores que acabaram intimados pelos espectadores, com a ajuda das redes sociais, a pedir desculpas por suas batatadas. Outros foram apenas motivo de piada. Confira abaixo alguns dos principais casos:
Cadê a medalha?
Durante o Globo Esporte, a brasileira Fernanda Gentil cometeu uma gafe ao pedir para ver a medalha de Thiago Braz, que levou o ouro no salto com vara. Estaria tudo bem, não fosse o detalhe de que a cerimônia de entrega do prêmio só aconteceria à noite, horas depois da entrevista. “Cadê a medalha? Todo mundo vem aqui e traz a medalha, mas você não”, disse a jornalista. “É, é agora de noite que vai ser a premiação”, disse o atleta, meio sem graça. “Ah, não recebeu ainda? No atletismo é assim, compete em um dia e se medalhar pega no outro, é isso?”, continuou Fernanda. “Entendi, peguei tudo, bem rapidinho”, terminou a repórter, percebendo o fora.
O grande homem por trás da mulher
A tentativa de atrair holofotes para os homens, em vez de focar as mulheres, foi analisada com atenção pelos espectadores da Olimpíada. No lugar de parabenizar a nadadora húngara Katinka Hosszú, que levou três medalhas e ouro e uma de prata durante os jogos no Rio, um comentarista do canal americano NBC celebrou o marido e treinador da atleta, o americano Shane Tusup, afirmando que ele era o responsável pela vitória da moça. O comentário viralizou e levou o apresentador a responder o caso nas redes, mas sem pedir desculpas. “Não dava para falar do sucesso dela sem citá-lo”, disse na ocasião.
Porcalhada
O canal CBC precisou pedir desculpas depois que o comentarista e ex-nadador Byron MacDonald comparou uma das atletas da China a uma porca. MacDonald pensou que seu microfone estava desligado e disse, durante uma prova de revezamento na natação, sobre a jovem Ai Yanhan, que teria atrasado seu time e levado as chinesas a terminar em quarto lugar: “A garota de 14 anos da China deixou a peteca cair. Muito ansiosa, saiu afobada e morreu como um porco. Obrigado por isso”. Que chato.
Empurrando para fora do armário
O jornalista americano Nico Hines, do site americano The Daily Beast, usou aplicativos de encontro na Vila Olímpica para descobrir quais atletas eram homossexuais. No artigo, ele publicou suas conversas sem revelar nomes, mas dando tantos detalhes que era fácil deduzir a identidade de seus interlocutores. Após uma enxurrada de críticas, o Daily Beast apagou a publicação, mas a matéria já havia se espalhado pela internet. O caso levou o site a se desculpar pelo erro. “Nossa intenção nunca foi ferir ou degradar membros da comunidade LGBT, mas a intenção não importa, o impacto sim”, declarou o editor-chefe.
Franceses racistas
Os apresentadores Daniel Bilalian e Alexandre Boyon, do canal France 2, na França, pisaram na bola durante a cerimônia de abertura ao dizer que “a escravidão foi necessária para o desenvolvimento industrial do Brasil”. O comentário, feito durante a parte da festa em que os africanos chegam ao país em navios negreiros, levou a uma denúncia do Conselho Representativo das Associações Negras (Cran) do país europeu. A emissora ainda teve que lidar com outro comentarista, Thomas Bouhail, que chamou as atletas da ginástica artística feminina do Japão de “Pequenas Pikachus”. Por fim, o canal pediu desculpas pelas controvérsias.
Pais de Simone Biles
Enquanto Simone Biles conquistava seu lugar no Olimpo dos atletas, comentaristas analisavam o passado da moça, questionando o título ideal para seus pais adotivos – a atleta e sua irmã foram criadas pelo avô e sua esposa, Nellie. O apresentador da NBC Al Trautwig chamou os pais da moça de avós durante uma transmissão dos jogos. Ao ser corrigido por uma seguidora no Twitter, ele respondeu: “Eles podem ser pai e mãe, mas eles não são realmente pais dela”. Após uma crítica da treinadora de Simone, o canal pediu desculpa pelo caso.
Milton Neves versus futebol feminino
O narrador esportivo Milton Neves pisou no futebol feminino e despertou a ira das redes. Segundo ele, “futebol feminino é igual gordo comendo salada: não tem graça nenhuma”. Ao ler notas de machismo nas entrelinhas do tuíte de Neves, os usuários do Twitter caíram em cima do locutor. “É difícil o Milton Neves falar algo que preste; no dia em que isso acontecer, os justiceiros sociais saem do esgoto”, bateu um usuário do Twitter. “Milton Neves faz post machista e gordofóbico”, escreveu outro. Ele continuou batendo boca com os críticos por um longo período, até que pediu desculpas, de maneira irônica, para depois manter o tom em novas publicações que corroboravam sua opinião.
Galvão Bueno. Apenas
O comentarista da Rede Globo foi tema de variadas notícias e memes ao longo dos Jogos. Uma das gafes aconteceu na quinta-feira, dia 18, durante a transmissão da prova dos 200m do atletismo. Depois que Usain Bolt levou o ouro, o apresentador pediu que todos os presentes no estúdio se levantassem para que Marcelo Adnet cantasse o hino da Jamaica, país natal do ídolo – o problema é que entre os convidados estavam Lars Grael, que teve uma perna amputada e caminha com o auxílio de muleta, e Fernando Fernandes, atleta paraolímpico que utiliza cadeira de rodas. “Por isso que eu nem levantei. Deixa eu ficar sentado”, comentou Fernandes em tom de brincadeira. Ao perceber o “fora”, todos resolveram permanecer sentados.
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