“Espiritualidade ajuda na recuperação do paciente”, diz José Wanderley Neto
Ser praticante de alguma religião, acreditar em Deus, enfim, exercer alguma forma de espiritualidade pode ajudar um paciente submetido a um tratamento cirúrgico a se recuperar? Para o cirurgião cardíaco, José Wanderley Neto, sim.
Mesmo em cirurgias de alta complexidade e casos de pacientes “desenganados”, há hoje, segundo ele, sobejos relatos que comprovam isso. E não só em tratamentos. “Temos seguras evidências de que há relação da espiritualidade, ou falta dela, com o aparecimento de doenças cardíacas”, disse ele. “Quem tem fé adoece menos e tem mais chance de sobreviver a uma cirurgia difícil”.
O assunto tem chamado a atenção de pesquisadores e entidades médicas mundo afora. “Nos últimos dois maiores congressos de cardiologia no Brasil, o tema medicina e espiritualidade fez parte dos temas oficiais. E, ainda este ano, nós o adotaremos aqui em Alagoas num evento que promoveremos no Instituto de Doenças do Coração (IDC)”, disse José Wanderley.
– Minha experiência como cirurgião cardíaco me deu a convicção de que a vontade de viver, a fé, a religiosidade, não importa qual seja a religião, ajudam, sim, os pacientes a se recuperarem. Até mesmo no coma! – acrescentou.
Debate mundial – Ele disse também ter conhecimento de um estudo que demonstrou que pacientes submetidos a cirurgias de grande porte que têm familiares e amigos rezando por ele, também apresentam um quadro de recuperação melhor quando comparados a pacientes solitários.
– Essas constatações – continuou – levaram grandes universidades americanas a iniciar estudos sobre o tema e as principais entidades médicas mundiais a incluir o debate nas pautas de seus eventos. José Wanderley Neto recomenda a leitura do livro “A cura que vem do coração”, do cirurgião vascular turco-americano Mehmet Oz.
Ele relata na obra a sua experiência na união das técnicas cirúrgicas mais avançadas com os recursos da hipnose, do relaxamento, da mentalização e da yoga. Oz afirma que ora sempre antes de cada cirurgia e que seus pacientes, com os recursos espirituais que utiliza, necessitam de menor dose de anestesia, apresentam recuperação mais rápida e resultados mais efetivos.
José Wanderley Neto e a equipe de técnicos atuam juntos na abordagem a pacientes ligados à espiritualidade. Em pé, o médico uteísta Mário Martiniano, os médicos clínicos Carlo e Fabian e, entre eles, a enfermeira Ana Maria.
Ao lado de Wanderley, a psicóloga Thaysa Alencar e a assistente social Ana Cláudia Jesus O fato é que a Ciência finalmente se abriu para a discussão sobre a espiritualidade. As universidades americanas como a Universidade de Harvard, por meio do Mind-Body Institut (Instituto Mente-Corpo), a Universidade de Virginia (pesquisa sobre reencarnação), a Universidade do Arizona (laboratório de pesquisa sobre vida após a morte) já estudam exaustivamente o assunto, segundo o Journal of American Medical Association.
De acordo com o mesmo informativo, as 50 maiores faculdades de medicina dos EUA já incluem em seus currículos de graduação e pós-graduação a disciplina Medicina e Espiritualidade. O tema, que sempre incomodou os homens da ciência, começa agora a ganhar destaque como mais um importante instrumento a favor do doente. “E essa discussão está apenas no começo”, avalia José Wanderley Neto.
Ação multidisciplinar – Outro aspecto considerado de igual relevância é a participação multidisciplinar na abordagem dos pacientes que alimentam fé e religiosidade. São os demais técnicos e paramédicos os responsáveis pelos cuidados dos pacientes operados e com quem eles passam a maior parte do tempo de restabelecimento. Assim, o conceito de melhor recuperação com a ajuda da espiritualidade também está incorporado por toda a equipe do Instituto de Doenças do Coração. Segundo a psicóloga Thaysa Alencar , “o paciente tem que ter uma referência, uma âncora, para enfrentar o processo de adoecimento, e a religiosidade vem como um meio de segurança e fortalecimento. É preciso trabalhar toda equipe para fortalecer essa crença e resgatar a vontade de viver”.
A Assistente Social Ana Claudia de Jesus acrescenta que os outros profissionais de saúde muitas vezes passam mais tempo com os pacientes que os médicos e são fundamentais para a sua recuperação. “Todos nós precisamos a mesma linguagem. Temos que respeitar e fortalecer as crenças dos pacientes para torná-las um apoio no momento difícil”, disse. Thaysa Alencar e Ana Cláudia destacam a importância do papel dos técnicos no apoio ao trabalho do médico na recuperação do paciente que processa fé e religiosidade