No caminho para o Rio, Brasil renasce, bate EUA e leva 11º título do Grand Prix
Um olhar mais pessimista, sem paciência, talvez quisesse adiantar o filme antes da hora. O início, é verdade, não foi nada bom. O ataque não entrava, o passe não encaixava, e o saque americano explodia no braço antes de a bola voar para longe. É preciso lembrar, porém, que ninguém ganha dois ouros olímpicos por sorte. Para se reerguer, é preciso ter calma.
Foi assim, aos poucos, que o Brasil deixou de lado qualquer favoritismo que os Estados Unidos pudessem ter. Se as rivais foram tão soberanas nos últimos anos, a seleção busca o momento certo para estourar. E o primeiro passo foi dado. Numa reação brilhante em meio a uma partida dramática, deu forma ao sonho do tri ao conquistar seu 11º título do Grand Prix. Em 3 sets a 2, parciais 18/25, 25/17, 25/23, 22/25 e 15/9, fez o ginásio Huamark, em Bangcoc, explodir em festa diante da alegria brasileira.
– Estou muito orgulhoso, muito orgulhoso do meu time. Jogamos uma grande batalha, uma partida maravilhosa. No tie-break, qualquer um poderia ganhar, estou muito feliz. Mas precisamos pensar no Rio, porque a Olimpíada é mais importante que o Grand Prix – avaliou Zé Roberto Guimarães.
Capitã da seleção, a central Fabiana pôs a bola no chão 18 vezes e foi a maior pontuadora da final, seguida pela americana Akinradewo (16) e pela companheira Sheilla (14).
INÍCIO RUIM, REAÇÃO E VITÓRIA
Fernanda Garay veio do fundo e deu um toque de leve, suficiente para vencer o bloqueio e abrir o placar para o Brasil. O início, porém, foi lá e cá. No ataque para fora de Sheilla, os EUA ficaram pela primeira vez à frente no placar. Natália subiu e atacou forte, mas a bola foi na rede, e os EUA abriram 10 a 7. Zé Roberto, então, pediu tempo. Pouco adiantou. O tal favoritismo americano aparecia escancarado naquele início.
Os EUA continuaram soberanos. Com um saque forçado, geralmente com Natália na mira, as americanas abriram cinco pontos: 14 a 9. No segundo tempo técnico, a mesma vantagem (16/11). Zé arriscou: mandou Gabi para o lugar de Sheilla, que pouco havia conseguido fazer, e Roberta para a inversão 5 por 1. A seleção, em um primeiro momento, conseguiu reduzir a diferença para apenas dois pontos. Em pouco tempo, porém, as rivais voltaram a disparar e abriram 20/14.
O Brasil sofria com os saques americanos. Tinha problemas na recepção e no passe, dificultando os ataques. Foi assim que a seleção perdeu seu primeiro set na fase final. Garay não conseguiu parar o serviço dos EUA, e Akinradewo apareceu livre pelo meio para soltar o braço e fechar: 25/18.
Thaísa abriu a contagem no segundo set ao mandar uma pancada contra Kelly Murphy. Não demorou, porém, para que os EUA passassem à frente. Zé Roberto chamou Jaqueline e animou o público. A ponteira, uma das mais queridas da torcida local, apareceu bem em seu primeiro ataque. Depois, contou com um erro de posicionamento das americanas para deixar tudo igual, em 4 a 4. Pouco depois, quando os EUA estavam à frente uma vez mais, apareceu bem pelo fundo para diminuir a diferença e deixar a seleção a um ponto do empate. Dani Lins, com saque perfeito, e Thaísa, com uma nova pancada, fizeram o Brasil chegar ao primeiro tempo técnico em vantagem: 8/7.
Era um Brasil mais seguro e preciso. Depois de ataque de Fabiana, abriu dois pontos de diferença (12/10). A torcida também se empolgou. A cada ponto brasileiro, o ginásio de Huamark explodia. No melhor rali até então, Sheilla apareceu bem pela saída de rede e explodiu no ataque. Os EUA pediram desafio, acusando bola fora. No vídeo, a confirmação do ponto, e a vantagem brasileira aumentou: 16/13.
Do outro lado, o técnico Karch Kiraly tentava reerguer seu time. Tentou a inversão 5 por 1, pediu tempo e buscou orientar seu time. Os golpes de Kelly Murphy e Kimberly Hill já não entravam mais com tanta facilidade. Após Rachael Adams mandar para fora, a vantagem brasileira já era de seis pontos (23/17). As americanas erraram duas vezes mais e fim de papo: 25/17. Tudo igual no placar.
Na pancada de Kelly Murphy, as americanas largaram na frente no segundo set. O Brasil tinha Fê Garay de volta à quadra. Depois de um rali intenso, Fabiana apareceu bem pelo meio e mandou a bola direto no chão rival, empatando em 2 a 2. Era, mais uma vez, um jogo equilibrado. Em um time sem uma estrela máxima, os EUA brilhavam no conjunto. As americanas contaram com dois erros em sequência das rivais, em saque de Fabiana e em um desvio de bloqueio mortal para a recepção, para abrir 6/4. Mas o Brasil foi buscar. Em dois ralis sensacionais, Thaísa e Fê Garay fizeram a equipe de Zé Roberto tomar a frente. No ataque de Sheilla, a vantagem no tempo técnico: 8/6.
O Brasil, como de costume, se alimentava do desafio. À medida que as americanas encostavam na contagem, as brasileiras cresciam. Se não faziam uma partida tecnicamente perfeita, esbanjavam vontade. Depois de passe de Dani Lins, Fabiana voltou a aparecer bem para ampliar a vantagem: 14 a 11. Kiraly, então, pediu tempo uma vez mais. Não adiantou. Melhor àquela altura, a seleção de Zé Roberto foi para o segundo tempo técnico com 16/12.
A seleção funcionava como orquestra. Em sintonia, as jogadoras pareciam saber exatamente onde estar e o que fazer. Como Thaísa, que subiu soberana à rede para explodir em um novo golpe: 19/14. As rivais não queriam desistir. Tão talentosas, também contaram com a sorte em alguns momentos para diminuir a diferença para apenas um ponto. Chegaram ao empate, mas Zé Roberto viu um toque que ninguém mais viu. Nem mesmo Thaísa, que soltou o braço como de costume. O técnico tinha razão. No desafio, desvio na rede, e vitória brasileira na parcial: 25/23. Ponto do chefe.
As americanas juntaram os trapos e tentaram se reerguer. No início do quarto set, mostraram força. Hill e Akinradewo ignoraram a desvantagem e tomaram a responsabilidade em busca da reação. O Brasil até foi em vantagem para a primeira parada técnica, depois de ataque de Sheilla. Na sequência, porém, os Estados Unidos abriram três pontos de vantagem: 12/9.
O Brasil buscou uma vez mais. O bloqueio de Fabiana sobre Murphy deixou tudo igual: 12/12. Era um jogo nervoso, apesar do olhar tranquilo de Dani Lins ao achar Thaísa livre parar fuzilar a quadra rival novamente. Os EUA também foram buscar e tomaram a frente na reta final. No saque de Hill sobre Gabi, a bola explodiu sem recepção. Depois, bateu na rede e caiu devagar, sem defesa, na quadra brasileira (22 a 20). O passe voltou a não encaixar no ponto seguinte, e Zé desfez a inversão.
Fabiana diminuiu, mas os EUA chegaram ao set point na sequência. A seleção ainda ganhou uma sobrevida depois de a bola de Sheilla explodir no bloqueio e ir para fora. As americanas, no entanto, tinham o domínio àquela altura e fecharam em 25/22.
O tie-break encheu o ginásio de olhos assustados e gritos abafados. Os Estados Unidos começaram melhor, mas o Brasil soube, mais uma vez, ter calma. Abriu 8/5 com maestria. Dani Lins, em um saque perfeito, deu ainda mais consistência ao placar. O bloqueio de Natália fez Kiraly entrar em desespero e pedir tempo. Não funcionou. Fabiana fechou o placar e selou a festa brasileira: 15/9.
Na disputa pelo terceiro lugar, a Holanda conseguiu uma virada espetacular sobre a Rússia. Depois de estar perdendo por 2 sets a 0, virou e chegou à vitória por 3 sets a 2, parciais 18/25, 23/25, 30/28 25/21 e 15/9.
G1