O Político Arrogante e a Decadência
Sem querer entrar nos méritos dos processos de impeachment da Presidente Dilma Roussef e da Lava Jato que derrubou o senador Delcídio do Amaral e afastou o todo poderoso deputado federal Eduardo Cunha da presidência da Câmara Federal, vejo oportuna a publicação deste texto de minha autoria, intitulado “O Político Arrogante e a Decadência”. Ele consta nas páginas 131 a 136 do meu livro “Lições de Vida – Orientações e aconselhamentos para uma boa convivência”, lançado em 2011, pela Editora Nossa Livraria (Recife-PE), embora ele tenha sido escrito no ano 2010.
O texto objetiva levar o leitor a uma reflexão e não intenciona fazer juízo de valor e criticar negativamente quem quer que seja, pois são incontáveis as pessoas que ingressam na carreira política e tornam-se arrogantes, prepotentes, ambiciosas, egoístas, debochadas, esquecendo, assim, da família e, principalmente, dos amigos de outrora.
Que este texto venha ajudar muitos homens públicos de Alagoas e do Brasil, principalmente do nosso sofrido Sertão, a reencontrar o verdadeiro caminho da felicidade e a resgatar, enquanto há tempo, os antigos amigos que foram deixados para trás e trocados por ambiciosos projetos pessoais – por que o poder político é ilusório, efêmero, além de cruel, e a vida tão passageira é surpreende e implacável!
“O Político Arrogante e a Decadência”
O amigo do político ambicioso egoísta é o poder. Ele é capaz de tudo para não perdê-lo. É o tal vício de querer se perpetuar na posição privilegiada que conquistou. Não falo aqui do cidadão comum, do esposo, do pai de família, do amigo, mas daquele que está revestido de um cargo público, de uma posição de destaque, daquele que detém uma autoridade nas mãos, abandona a razão e, em nome do poder, muda radicalmente para pior.
Geralmente, antes de o indivíduo tornar-se um político, possuía humildade, sensibilidade, tinha tempo para a esposa e para os filhos, se divertia com os amigos, visitava a casa dos pais assiduamente, enfim, valorizava cada detalhe importante da vida e da família. A partir do momento em que ele ingressa na carreira política, torna-se um prisioneiro dos labirintos da ambição – quanto mais tem, mais quer.
O político é um refém dos compromissos porque os coloca acima da família, dos amigos, enfim, acima de tudo. Ele incorpora um espectro que o desvia da condição de empregado do povo. Os privilégios, as regalias e as vantagens são tantos que se tornam mal acostumados. Há até quem defina a política como “a arte do dinheiro fácil”, principalmente no Brasil de hoje onde a desonestidade e as falcatruas campeiam.
Para muitos, a política não passa de uma prática viciosa que leva o homem a abandonar sua vida de paz, harmonia e tranquilidade, adotando uma vida de aparências e múltiplas traições – é uma vida de representação no palco da demagogia e das promessas categóricas.
Conheço muitos políticos que antes de chegarem ao poder, eram bons cidadãos, excelentes chefes de família, homens de verdade, possuidores de integridade moral. Com o passar do tempo, tornaram-se homens da política partidária, aprenderam a mentir, a prometer e a não cumprir. Foram transformados em homens frios e estrategistas, além de esposos e pais ausentes.
Hoje eles não conseguem lembrar os colegas de infância e dos amigos de outrora, apenas os tratam com indiferença e com certa arrogância – “o poder subiu para a cabeça”, assim falam os amigos do passado. Neste quadro lamentável figuram políticos de ambos os sexos.
Infelizmente, eles não mais conseguem enxergar o mundo natural (como enxergavam antes), as pessoas simples, as criaturas humildes, a vida que está ao seu redor. Ele está bem diferente daquele cidadão comum de outrora que enxergava a vida porque tinha tempo para apreciá-la.
O político constrói o seu próprio mundo e em tudo só enxerga cifras, benesses, vantagens, poder. Ele esquece a lição cristã de “fazer o bem sem olhar a quem” e aprende a ambiciosa e maléfica lição de “fazer um favor a quem tem um título de eleitor”.
Ele passa a fazer tudo em troca do voto. Tudo em nome da perpetuação no poder – porque se tornou um viciado, um dependente – a política é uma droga e o poder uma grande obsessão.
Acometido das síndromes do luxo, da vaidade, do egoísmo e do status, se distancia de suas origens – aquele cidadão simples do passado foi sepultado na cova funda da vaidade pessoal.
Esta página não é uma apologia ao apolítico, porém, se assim o leitor preferir interpretar, pode ser uma apologia ao cidadão comum que não coloca suas ambições e interesses pessoais acima de tudo e de todos; que não troca a sua vida pacata pelo mundo da demagogia e da intranquilidade, articulando alianças esdrúxulas, fazendo pacto com Deus e com o diabo.
O cidadão comum não tem medo do tempo, pois ele tem o tempo como um amigo que o ajuda a amadurecer e a parar para viver mais tempo ao lado dos entes queridos. O mais cruel adversário do político insano é o tempo – que o desgasta, o derrota, o humilha e o abandona.
O sábio tempo sempre carrega consigo o “troféu da decadência política” para entregar ao político que constrói suas bases na areia movediça da promiscuidade, da orgia e da imoralidade.
Somente o tempo consegue destruir medíocres projetos daqueles que se imaginam deuses intocáveis e imbatíveis, porém, na realidade, não passam de pobres homens, cegos, maquiavélicos, sentados sobre o trono ilusório e efêmero de um cargo público dado ou não pelo povo. Só o tempo é capaz de transformar aquele político oportunista, egocêntrico, infiel, soberbo, arrogante, inconsequente, em um cidadão humilde, amigo, fiel esposo e pai exemplar – que dispõe de tempo para brincar e se divertir com a família e que sabe reconhecer os amigos do passado.
Somente o tempo consegue desnudar o político do poder, arrancar suas máscaras e destronar o tirano ganancioso gerado em sua barriga. Somente o tempo pode transformá-lo em homem de carne e osso, possuidor de emoções, solidário, sensível, com sangue circulando nas veias, enfim, em um cidadão de mãos limpas.