New Hampshire: guerra dos sexos e intra-sexos

Hillary-no-Congresso-original-300x225Logo mais começarão a chegar os resultados das eleições primárias no estado de New Hampshire. Se as pesquisas não estiverem alucinadamente erradas, como aconteceu em Iowa, Donald Trump ganha de lavada dos concorrentes republicanos. E Hillary Clinton perde de Bernie Sanders. A maioria dos comentaristas dirá que isso não quer dizer nada, pois New Hampshire é uma exceção. No plano nacional, Hillary continua a ser favorita para ganhar a candidatura presidencial pelo Partido Democrata.

Seria verdade, num mundo normal. No universo anômalo da atual campanha, a fila anda rápido. Já existem pesquisas (cuidado com elas, não custa repetir) indicando um empate técnico: Hillary com 48% das preferências do eleitorado democrata; Sanders com 45%.

É quase inacreditável e torna ainda mais premente, para Hillary, o papel das eleitoras, claramente divididas por faixa etária. As mulheres mais velhas favorecem Hillary, as mais jovens preferem Sanders, um senador praticamente desconhecido, que era desconhecido no âmbito nacional. Lá no seu estado, Vermont, fazia graça como socialista assumido (agora, acrescentou a palavra democrata), um tipo de velhinho que foi hippie e continua com ideias originais de fábrica.

Mudar de posições geralmente é sinal de inteligência, em especial se elas estavam erradas, mas Bernie, como todo mundo chama o senador de 74 anos, seduz uma boa faixa do eleitorado jovem justamente por parecer um candidato contra o sistema, muito mais “progressista” – é a palavra do momento – do que Hillary.

Feministas da velha guarda, que apoiam Hillary, entraram no debate – com resultados desastrosos. A legendária Gloria Steinem, excepcionalmente bem aprumada para seus 82 anos, chegou a dizer que as eleitoras jovens preferem o senador porque, nessa idade, as meninas querem saber onde estão os rapazes e eles estão entre os adeptos de Bernie. É bom nem imaginar o que aconteceria se qualquer homem, fora Trump, dissesse coisa do tipo (Trump pode porque estabelece suas próprias regras, entre elas a de dizer tudo que nenhuma outra pessoa hoje diria em público).

A bem menos aprumada Madeleine Albright, 79 anos e pouca diferença, nos trajes, da período do governo de Bill Clinton em que foi secretária de Estado (apelido durante a guerra contra a Sérvia: Mad Cow), também falou besteira. “Existe um lugar especial no inferno para mulheres que não apoiam outras mulheres”, apelou. Ofendeu todas as pessoas do sexo feminino que consideram um absurdo, com razão, o conceito de fazer suas escolhas políticas com base nesse tipo de argumento.

Além da guerra entre mulheres, a disputa entre os democratas tem um desdobramento mais interessante ainda, que coloca homens jovens, bacanas, modernos e extremamente convencidos das próprias qualidades contra eleitoras favoráveis a Hillary. Um grupo chamado Bernie Bros está causando. Os manos de Bernie em geral usam barba, óculos, redes sociais e  o rótulo da moda (progressista, claro). Começaram a assediar, no mundo virtual, mulheres que se manifestam a favor de Hillary, usando epítetos repugnantes.

“Não quero saber dessa porcaria”, criticou Bernie. A palavra que ele usou não foi exatamente porcaria, mas dá para entender o sentido da coisa. A última coisa que o bom, e esperto, velhinho desejaria no momento seria colocar Hillary na posição de vítima de ataque preconceituosos.

O campeonato da vitimização, no mundo atual, é interminável. Bernie sentiu o gosto da coisa, no começo da campanha, quando militantes do Black Livers Matter, o grupo negro mais radical do momento nos Estados Unidos, invadiu um comício dele. Como bom esquerdista, ele aceitou a intervenção e concordou com os militantes. “A vida dos negros é importante, a vida dos brancos é importante, todas as vidas são importantes”, aplaudiu, referindo-se ao nome do grupo. Foi massacrado no tribunal da opinião pública progressista e, sem dignidade nem motivo, pediu desculpas.

E qual o motivo das referências, aqui, à aparência física de Gloria Steinem e Madeleine Albright? Nenhum, claro. Exceto por um desejo de  botar mais fogo num circo onde a fervura está cada vez mais interessante. E a esperança de ver logo um debate entre Trump e Bernie. Acompanhados das respectivas senhoras, Melania Knauss, a ex-modelo eslovena de curvas pronunciadas e expressão congelada em intervenções, e Jane O’Meara, a ex-reitora que se veste como uma progressista de Vermont. Sim, as referências são propositais.

Notaram que Hillary Clinton parece cada vez mais distante?

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