Policiais civis que ajudaram preso elogiam cuidado dele com o filho

catsUm dia depois de agentes e delegados da 20ª Delegacia de Polícia (Gama) fazerem uma vaquinha para ajudar um homem preso por furtar um pedaço de carne, o clima era de comoção e de dever cumprido na unidade policial. Os investigadores faziam questão de falar que Mário Ferreira Lima cometeu um crime na tarde desta quarta-feira (13/5), mas também relataram a emoção ao verem que o homem, desempregado e pai de um jovem de 12 anos, agiu para não ver o filho passar fome. Mário não tem mulher, emprego nem condições de comprar comida. Ele sustenta o menino com o benefício do Bolsa Família, mas o dinheiro não foi depositado este mês.

O agente Ricardo Machado de Almeida, 35 anos, trabalha em uma das seções da 20ª DP. A ocorrência de furto, corriqueira em todas as unidades policiais do DF, chamou a atenção depois que ele ouviu que os colegas chamariam o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para socorrer o desempregado, que passava muito mal. Ao sair da sala, Ricardo se deparou com Mário pedindo para não ficar preso, pois o filho só tinha ele.

A história comoveu Ricardo, que deu R$ 30 para o homem pagar pela carne. O policial voltou para a sala e contou a história aos colegas. Em uma vaquinha, conseguiram mais R$ 80 para ajudá-lo. Apesar de se emocionarem com a história, os policiais tinham ciência de que Mário havia cometido um crime. Assim, com vontade de ajudar, os agentes decidiram ir até a casa do homem, no Jardim Ingá, bairro de Luziânia (GO), no Entorno do DF.

“Nos colocamos no lugar dele”

O agente Ricardo conta que, ao chegarem no imóvel, se depararam com o filho do preso. E menino estava bem cuidado, alimentado e bem-vestido, diferentemente do pai, um homem magro, com aparência de sofrimento e sem conseguir emprego. “Não podemos deixar de falar do crime. A polícia agiu como deveria agir. Mas todos temos filhos, família. Nos colocamos no lugar dele. Poderia ser com um filho nosso”, ressalta Ricardo. Depois de visitarem a casa de Mário, os agentes da 20ª DP descobriram que a situação era ainda pior. Não havia gás, comida ou qualquer mantimento para os dois na residência.

Os policiais decidiram fazer ainda mais por Mário e o filho. Foram a um mercado e compraram diversos itens. Segundo Ricardo, em momento algum, o homem se aproveitou da boa vontade dos policiais. “Falamos para pegar uma pasta de dente e ele pegou a menor, a mais barata. Da comida, falava que estava muito agradecido e qualquer coisa que pegássemos estava bom”, lembra o agente. A compra foi entregue ao desempregado e os policiais voltaram à 20ª DP.

Fiança de R$ 270

Durante o depoimento na delegacia, Mário começou a passar mal. Contou que, há quase um ano, a mulher dele sofreu um acidente e passou oito meses no hospital. Ele perdeu o emprego. Quando a mulher se recuperou, foi morar com um filho de outro casamento, porque a família estava sem dinheiro para lhe atribuir os cuidados necessários. Sobrou para Mário a responsabilidade de criar sozinho o filho, de 12 anos, que estuda na parte da tarde. Enquanto o adolescente está na escola, o pai tenta fazer bicos para sustentar a casa. Mas, segundo relatou, há dois meses ele não consegue nada. Diante da situação, o delegado colocou uma fiança estipulada em R$ 270, valor pago por uma agente da Polícia Civil que ficou sensibilizada com a história.

Correio Braziliense

 

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