Ajuste no segundo mandato de Dilma será mais difícil que o feito por Lula em 2003
O ajuste econômico necessário para o próximo mandato da presidente Dilma Rousseff será mais difícil que aquele feito em 2003, início do governo Lula, avaliou o economista-chefe do banco BTG Pactual, Eduardo Loyo. Segundo ele, embora o ponto de partida para a correção fiscal e o controle da inflação sejam mais favoráveis — a proporção entre dívida e PIB e a aceleração dos preços são menores que naquela época —, a persistência de resultados aquém do esperado torna a tarefa mais desafiadora.
— Hoje a combinação entre o que a inflação tem sido e a expectativa do que vai ser no futuro é pior. Em 2003 houve um pico, chegamos a ter inflação em 17% em 12 meses, mas não havia histórico de inflação em patamares muito elevados. Agora, temos vários anos de inflação acima da meta e expectativa de que será assim por muito tempo — explicou ele nessa segunda-feira, em seminário na Firjan. — As condições de que partimos para ajuste são muito melhores do que em 2002, mas não será mais fácil; na verdade pode ser até mais difícil e desafiador — acrescentou ele, que chegou a ser cotado para assumir a presidência do Banco Central caso Aécio Neves (PSDB) tivesse vencido as eleições este ano.
Sobre ajuste fiscal, Loyo admitiu que o estoque de dívida é muito mais baixo que há uma década, mas ponderou que “o desempenho do resultado fiscal é muito mais distante do necessário para chegarmos a uma trajetória benigna da dívida”.
— Hoje o que precisamos fazer em ajuste no resultado fiscal primário é muito maior do que naquele momento. A maior parte das estimativas coloca o resultado primário fiscal recorrente neste ano em -0,5% do PIB. Então estamos a uma distância muito maior do esforço já colocado pelo ministro Joaquim Levy, de 1,2% do PIB em 2015.
Além das dificuldades econômicas, Loyo citou o que chamou de um cenário de ruídos e fricções, que atingem a confiança do setor produtivo e atingem ainda mais a retomada do crescimento. Ele citou o escândalo de corrupção da Petrobras, que deve levar para o ano que vem as mesmas instabilidade e incerteza que marcaram 2014 por causa das eleições.
— O caso da Petrobras se insere num cenário de ruídos e fricções. Casos como esse podem produzir efeitos da mesma natureza de perda de confiança e postergação de investimentos como tivemos com a eleições de 2014. Deixar isso pra trás poderia ser um grande vetor de recuperação. Por isso, a persistência desse ruídos torna a situação muito preocupante.
Fonte: O Globo