Kleber Malaquias: primeiro dia de julgamento é marcado por clima de tensão

O julgamento de quatro réus denunciados pelo assassinato do empresário e ativista político Kleber Malaquias, que começou nesta segunda-feira, 17, se estenderá durante a terça-feira, 18. Ao todo, sete pessoas são acusadas pelo Ministério Público de Alagoas (MPAL), dentre elas agentes e ex-agentes da segurança pública de Alagoas.

Kleber Malaquias foi assassinado com dois tiros no dia de seu aniversário, em 15 de julho de 2020, dentro do Bar da Buchada, localizado na Mata do Rolo, em Rio Largo. A vítima era conhecida por fazer diversas denúncias contra políticos e por fornecer informações ligadas a essas mesmas denúncias à polícia e ao MPAL.

Sentam no banco dos réus Edinaldo Estevão de Lima, José Mário de Lima Silva, Fredson José dos Santos e Marcelo José Souza da Silva. Todos eles prestam depoimento no primeiro dia de julgamento, que foi de clima tenso em muitos momentos.

O julgamento é presidido pelo juiz Eduardo Nobre e ocorre no plenário da 8ª Vara Criminal da capital, no Fórum do Barro Duro, em Maceió. A acusação é conduzida pelos promotores de Justiça Lídia Malta e Thiago Riff, que sustentam a tese de homicídio duplamente qualificado, por impossibilidade de defesa da vítima e promessa de recompensa.

Kleber Malaquias planejava deixar Alagoas

A doméstica Evany Malaquias, mãe da vítima, prestou depoimento por videoconferência. Ela disse que o filho pensava em deixar Alagoas por receio das ameaças que sofria por ter feito denúncias contra políticos de Rio Largo. Emocionada, disse que foi o dia mais triste da vida receber a notícia da morte do filho no dia do aniversário de 41 anos dele.

Dona Evany contou que depois da morte de Kléleber, os filhos deles, um casal de 16 e 17 anos, tiveram que fazer tratamento psicológico e tomam medicamentos controlados. Falou da queda do padrão de vida dos adolescentes, que antes da tragédia, estudavam em escola particular e atualmente estão na rede pública e têm as despesas pagas pelos avós maternos.

Delegado denuncia interferência política

O delegado Lucimério Campos depôs na condição de testemunha de acusação. O delegado, que na época do crime era titular da delegacia de Rio Largo, falou sobre o andamento da investigação. Durante o depoimento, Lucimério denunciou que houve “interferência política” para afastá-lo do inquérito, mas não citou nomes quando questionado.

O delegado iniciou o depoimento narrando aos jurados como foi o processo inicial da investigação sobre a morte de Kleber Malaquias. Ele disse que tinha conhecimento de que a vítima era ameaçada por conta das denúncias que fazia contra políticos e se alterou quando um advogado pediu que ele citasse nomes.

Réu acusa delegado de forjar provas

Em depoimento, o sargento da Polícia Militar de Alagoas, José Mário, afirmou que um dos delegados responsáveis pela investigação forjou provas e o coagiu. Segundo o sargento, os delegados Lucimério Campos e José Carlos André — atual Secretário Executivo de Gestão Interna da Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP-AL) — mentiram durante as investigações.

José Mário falou especialmente sobre Lucimério Campos, afirmando que o delegado forjou provas contra ele e que, por tê-lo “desafiado”, foi coagido pelo delegado. Assim, Lucimério teria, segundo o réu, induzido o Ministério Público de Alagoas (MPAL) ao erro. O sargento classificou a postura de Lucimério como um “teatro”.

“Passou a forjar provas. Por que não fez busca e apreensão na minha casa? Por que não apreendeu o meu celular?”, indagou, durante o depoimento.

Clima tenso

Um dos momentos de tensão ocorrido durante o julgamento foi provocado pela advogada do réu Marcelo Souza, que pediu a promotora Lídia Malta que “baixasse o tom de voz, porque ela estava muito alterada”. As duas se estranharam e o juiz Eduardo Nobre, que preside o julgamento, interveio e lembrou que não iria permitir que o caso “fosse ganho no grito”.

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