Desgaste entre Marina e Heloísa Helena se agrava na Rede com representação disciplinar
O atrito entre a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e a ex-senadora Heloísa Helena, duas das principais figuras da Rede Sustentabilidade, intensificou-se. No dia 5 de fevereiro, quatro aliados de Marina Silva apresentaram uma representação disciplinar contra Heloísa Helena e Wesley Diógenes, dirigentes da sigla, acusando-os de abuso de poder.
O documento, assinado por Diego Gonçalves, Fernando Oliveira, Débora Morais e Thayana Amorim, aponta que os atuais líderes da Rede manipularam processos internos e agiram com autoritarismo nos estados de São Paulo, Amazonas e Pará. No Amazonas, a acusação é de que Heloísa e Wesley tentaram desativar o diretório estadual, enquanto no Pará, dirigentes foram afastados após denunciarem irregularidades no uso de verbas partidárias.
“Como argumentar que não ocorreu grave infração das disposições legais e estatutárias? […] Foram reiterados atos de hostilidade contra filiados e outros dirigentes, configurando verdadeira perseguição à oposição”, diz um trecho da representação.
Em entrevista ao GLOBO, Fernando Oliveira, um dos signatários, reforçou que as condutas denunciadas são incompatíveis com o estatuto da Rede e comprometem os valores do partido: “A manipulação indevida do sistema de filiação representa uma afronta aos valores do partido e à sua missão de promover uma política mais justa, participativa e transparente”, declarou.
O grupo que apresentou a representação pede a abertura de um processo disciplinar e a possível expulsão ou destituição dos dirigentes. Nos bastidores, aliados de Marina afirmam que, após a denúncia, começaram a sofrer ameaças, especialmente os signatários.
Procurada, Heloísa Helena minimizou a briga pública e afirmou que as decisões são tomadas pelo Elo Nacional da Rede, com base nos entendimentos da maioria. “Infelizmente, essa turma perdeu o Congresso do partido e não se conforma”, disse.
O embate entre as duas lideranças reflete uma divisão mais ampla no diretório nacional da Rede, que remonta a 2022, envolvendo divergências ideológicas. Marina Silva adota uma postura “sustentabilista”, enquanto Heloísa Helena defende o “ecossocialismo”, que propõe a transformação do sistema econômico aliado à preservação ambiental.
Outro ponto de discórdia é a relação com o governo federal. Marina Silva optou por integrar o governo Lula como ministra, enquanto Heloísa Helena mantém uma postura crítica ao PT desde que foi expulsa do partido em 2003.
A crise interna se intensificou em 2023, quando Juliana Sá foi afastada da tesouraria nacional, gerando uma ação judicial e uma disputa por funções estratégicas dentro da Rede.