Setembro Amarelo e os cuidados com a saúde mental na Polícia Militar de Alagoas

 

“Se precisar, peça ajuda!”. Mais do que o lema da campanha Setembro Amarelo em 2024, a frase é um convite ao cuidado com a saúde mental. Em Alagoas, especialmente no âmbito da Polícia Militar (PM/AL), essa mensagem ecoa por meio do trabalho contínuo de atendimento psicológico prestado pela Diretoria de Saúde (DS) e pelo realizado pelo Centro Integrado de Assistência (CIA).

O antigo Centro de Assistência Social (CAS) adotou uma nova nomenclatura, mas a função permanece sólida. Composto por psicólogos, assistentes sociais e capelães, um católico e um evangélico, o centro tem como missão o cuidado com o efetivo a partir de uma visão preventiva, por meio da prestação de assistência psicossocial e religiosa, envolvendo atendimento social e psicológico, atividades preventivas e educativas, palestras, trabalhos em grupo, visitas institucionais e domiciliares, além de ações interdisciplinares nos setores e unidades da corporação.

Entre as principais frentes de atuação está o Programa de Valorização da Vida e Prevenção ao Suicídio, envolvendo uma gama de ações, desde a prevenção e a divulgação de informações sobre fatores de risco até medidas direcionadas aos policiais que apresentam ideação suicida.

Quem esclarece é a major Amanda Salomão, psicóloga do CIA: “Sabemos o quanto a atividade policial pode ser estressante. Em sua essência, trata-se de um trabalho que expõe o profissional ao risco de adoecimento mental.”

“Focar nos fatores de proteção para a saúde mental, buscar qualidade de vida, cultivar bons relacionamentos e manter o suporte social, cuidar da saúde física, dedicar-se a momentos de lazer e equilibrar as diferentes áreas da vida são práticas que garantem tanto qualidade de vida quanto à saúde mental”, destacou a psicóloga.

Ela acrescenta ainda que incorporar estratégias de manejo do estresse no cotidiano é uma medida fundamental de prevenção. Outro ponto relevante é a atenção aos fatores de risco. Não há uma fórmula única, cada indivíduo tem suas particularidades, mas, de modo geral, estudos identificam diversos fatores que merecem atenção, conforme o quadro a seguir.

O Setembro Amarelo, que já é internacional, ganhou força no Brasil em 2014 com a iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM). Desde então, a mobilização por todo o país tem crescido, envolvendo diversos setores da sociedade na conscientização e na prevenção ao suicídio.

A campanha explica que o suicídio é um importante problema de saúde pública, com impactos na sociedade como um todo. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), todos os anos, mais pessoas morrem como resultado de suicídio do que HIV, malária ou câncer de mama – ou guerras e homicídios.

O suicídio, ainda segundo o material informativo da campanha 2024, é uma triste realidade que atinge o mundo todo e gera grandes prejuízos à sociedade. De acordo com a última pesquisa realizada pela OMS em 2019, são registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo, sem contar com os episódios subnotificados, pois com isso, estima-se mais de 1 milhão de casos. No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, em média 38 pessoas cometem suicídio por dia.

Lugar de cuidado e de cuidar

Em Alagoas, o mês de setembro também deixou um marco de profunda dor e saudade, sobretudo na Segurança Pública. No próximo dia 23 completa nove anos da queda, seguida de explosão, do helicóptero do Grupamento Aéreo. A aeronave era tripulada pelos então soldados Diogo Melo e Marcos de Moura, o capitão PM Mário Assunção e o major do Corpo de Bombeiros Milton Carnaúba.

A tragédia provocou uma angústia incalculável, afetando profundamente familiares e agentes de segurança. Entre eles, a 2º sargento Fernanda Viana, incorporada à Polícia Militar em 2010. Após concluir o Curso de Formação de Praças (CFP), passou a integrar o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). Sua missão literalmente se elevou ao realizar o Curso de Tripulante Operacional, levando-a a patrulhar os céus — um motivo de grande orgulho. No entanto, a queda do helicóptero, que tirou a vida de seus companheiros, a dilacerou. Embora estivesse acostumada com as alturas, o luto a fez perder o chão.

“Foi um dos momentos mais difíceis da minha vida. Senti-me frágil, com medo, e cheguei a pensar que nunca mais conseguiria atuar como policial militar. Fui assistida pelo Centro Integrado de Assistência, cuja atuação fez e faz total diferença na minha vida pessoal e na minha carreira. Pude enxergar meus limites e reconhecer que, por trás da farda, existe um ser humano que precisa ser cuidado”, relembrou.

A militar foi amparada por outra iniciativa do CIA, o Programa de Prevenção ao Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Voltado para policiais que enfrentam situações potencialmente traumáticas — como confrontos, acidentes automobilísticos, ocorrências com lesões graves ou mortes, tanto de colegas quanto de civis —, o programa se mostrou essencial para seu processo de recuperação. A proximidade com as quatro vítimas a impactou profundamente, fazendo com que precisasse desse acompanhamento especializado. Voltado para policiais expostos a ocorrências de alta complexidade, o programa permitiu que ela retornasse ao serviço operacional em condições adequadas de equilíbrio e saúde mental. No entanto, além da assistência recebida, a sargento encontrou um novo propósito em sua vida.

A própria major Amanda acompanhou de perto cada etapa do tratamento. Mais do que apenas cuidar da paciente, tornou-se uma verdadeira inspiração, ampliando os horizontes de quem entrou em seu consultório como policial, mas que, ao perceber a humanidade na atuação da major, encontrou na psicologia uma nova vocação.

“Foi por meio desse cuidado generoso recebido do CIA que descobri o poder da psicologia, exercida com amor e interesse genuíno. A partir daí, me apaixonei. Entrei no CIA como usuária, recebi o convite para compor o efetivo administrativo e, nesse papel, cursei a faculdade de psicologia, fiz meu estágio supervisionado na instituição. Deixei de ser cuidada e passei a ocupar o lugar de quem cuida. Desde então, atuo como auxiliar de saúde, integrando a equipe técnica. Eu não conhecia esse lugar de cuidado até precisar dos serviços”, acrescentou a sargento, diplomada como psicóloga no dia 15 de julho deste ano.

Outras frentes de cuidado

Continuamente, por meio do Centro Médico Hospitalar da Diretoria de Saúde, a PM oferece atendimento psicológico para militares ativos, inativos e dependentes. A major Inês Valões, médica psiquiatra da Diretora de Saúde (DS), orienta sobre formas de assistência.

“Quanto melhor estivermos conosco, mais aptos estaremos a cuidar dos outros. Se notar que alguém precisa de apoio, seja um companheiro ou você mesmo, não hesite em procurar ajuda. Você pode incentivar um colega de trabalho a buscar tratamento com a equipe do serviço de psicologia da Diretoria de Saúde ou do Centro Integrado de Assistência. Caso perceba que alguém está em risco, também pode informar o chefe imediato ou o comandante. E se lidar com essa situação também estiver te causando angústia, é importante que você também busque suporte. Os contatos da Diretoria de Saúde são (82) 98833-4165 e (82) 98833-4160”, salientou a major Inês.

Já em âmbito nacional, Alagoas formalizou no último mês de agosto sua participação no programa Escuta SUSP (Sistema Único de Segurança Pública). Trata-se de uma estratégia do Ministério da Justiça e Segurança Pública para oferecer suporte psicológico online aos agentes de segurança, sendo gerido em colaboração com diversas universidades federais e o próprio ministério. A ação busca garantir o bem-estar mental dos trabalhadores da segurança pública por meio da disponibilização de serviços psicológicos gratuitos.

Servidores da PM e também de órgãos como Corpo de Bombeiros Militar, da Polícia Científica, da Polícia Civil e da Polícia Penal de Alagoas interessados em serviços de atendimento psicológico já podem se inscrever para o programa através do portal oficial do Ministério da Justiça e Segurança Pública, ou clicando no link do Escuta SUSP.

“Falar pode salvar vidas”

Não apenas em setembro, mas dia após dia, mês após mês, expressar as próprias emoções pode ser essencial para prevenir desfechos trágicos. Observar o outro também. A major faz um alerta à tropa sobre o cuidado consigo e com quem compartilha a labuta: “Incentivamos esse comportamento. Se perceber que um companheiro de trabalho não está bem, entre em contato conosco. De forma sigilosa, vamos auxiliar e disponibilizar nossos serviços, também de maneira confidencial. Vamos estender a mão para que esse policial tenha a oportunidade de ser ajudado. Se for você quem precisa de ajuda, não espere. Falar pode salvar vidas”, finalizou a oficial, lembrando ainda os meios de contato com o CIA.

Os horários de atendimento são às segundas, quartas e sextas de 9h às 17h, e às terças e quintas de 7h às 17h. A sede do CIA fica localizada na rua Antônio Gerbase, n.º 276, no bairro da Pitanguinha, em Maceió. O contato telefônico é o (82) 98833-4160.

Os canais de atendimento do CIA:

CIA – sede

(82)98833-4160

NAPS Norte

(82)98818-4493

NAPS Sul/Agreste

(82)98884-5363

NAPS Sertão

(82)98804-8728

Capelania Católica

(82)98119-1202

Capelania Evangélica

(82)98827-7372

Instagram: @cas.pmal

Canais de atendimento da Diretoria de Saúde:

(82) 98833-4165

(82) 98833-4160

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