Calor extremo do mar em AL mata corais e choca cientistas: ‘Sem precedente’
Pesquisadores marinhos perceberam uma mortalidade sem precedentes em recifes de coral no litoral alagoano. A causa foi o recorde da temperatura do oceano Atlântico este ano. Em abril, a coluna já havia contado que os corais estavam embranquecidos e com risco de morrer devido ao calor da água.
A mortalidade foi percebida após mergulho no dia 23 de agosto para avaliação das espécies, e o resultado chocou os cientistas.
Em comunicado público no último dia 13, o Ecoa-Lab (Laboratório de Ecologia e Conservação no Antropoceno), da Ufal (Universidade Federal Alagoas), informou que os resultados de monitoramento “indicam que a mortalidade deve ultrapassar os 90% das comunidades estudadas, algo sem precedentes em nosso litoral.”
A mortalidade pelo calor, apontam os pesquisadores, atingiu todas as espécies, como o coral-de-fogo e o coral-couve-flor —esse que só existe no litoral brasileiro. Os resultados estão sendo analisados, e mais dados serão divulgados até novembro.
“Esse mergulho foi um dos mais tristes da minha vida. O que encontramos embaixo d’água foi um grande cemitério de corais”, conta o coordenador do Ecoa-Lab, Robson Santos.
A região pesquisada faz parte da APA (Área de Proteção Ambiental) Costa dos Corais, a maior unidade de conservação federal marinha costeira do Brasil.Criada em 1997 pelo governo federal, ela que possui 406 mil hectares e resguarda um dos ambientes recifais mais importantes do mundo.
El Niño e mudanças climáticas
Segundo Robson, o que causou tamanha mortalidade foi a temperatura extrema do oceano, acima do esperado mesmo para um período de El Niño. Nos últimos meses, a água aumentou cerca de 3°C da temperatura média normal para o período, chegando a 34°C —e muito acima do que as espécies aguentam.
Ele afirma que esse cenário é reflexo das mudanças climáticas. “Esse salto de temperatura ocorreu por um tempo prolongado, e isso levou à mortalidade dos corais. Os impactos vão ser múltiplos, e a gente vai tentar entender o que pode acontecer”, diz.
Os pesquisadores vêm monitorando os recifes de coral em Maragogi, Paripueira e Maceió desde setembro de 2023, ainda antes do início do El Niño.
Branqueamento já era percebido
O aquecimento da água do mar já era uma preocupação dos pesquisadores que vinham estudando um branqueamento da espécie. Apesar de também poder levar à mortalidade, é um estágio em que o coral ainda pode se recuperar.