Alagoas registra mais de sete mil focos de incêndio em vegetações este ano

 

Alagoas registrou mais de sete mil focos de queimadas em vegetação este ano, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Do total, três mil focos foram contabilizados apenas no mês de janeiro. No ano passado, foram contabilizados mais de nove mil focos.

Apesar das estatísticas, Alagoas tem um dos menores registros de ocorrências de queimadas do país, conforme levantamento do Inpe. O Instituto utiliza satélites para fazer o monitoramento dos focos em todo o país.

De acordo com o Inpe, são chamados “focos de calor”; temperaturas captadas por sensores dos satélites quando estas atingem uma temperatura acima de 47ºC, e área mínima de 900 metros quadrados, sendo assim, disponibilizados em formato de pontos georreferenciados.

A maioria dos registros são em regiões de Mata Atlântica. Os demais focos detectados, cerca de 30%, estão em áreas de ocorrência da Caatinga.

Conforme os dados de satélites, municípios com forte presença de canaviais e usinas de cana-de-açúcar lideram a lista de maiores números de focos durante o ano, como Coruripe, em primeiro lugar, apresentando 1.069 registros. Traipu, Penedo, Teotônio Vilela e Campo Alegre vêm logo em seguida com os maiores números apontados.

O Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA/AL) adota o termo “queimadas” por ser um termo mais comum na sociedade e estar associado à “queima controlada”, que se refere ao emprego de fogo no manejo de atividades agropecuárias no estado, sobretudo para a despalha da cana-de- açúcar, realizado de forma planejada e controlada e que precisam ser autorizadas pelo órgão.

“O monitoramento desses focos é utilizado para auxiliar na identificação de queimadas que ocorrem de modo irregular, e dos responsáveis, sujeitos à autuação. No entanto, nem todo foco de calor é um incêndio, e nem todo incêndio é detectável pelos sensores”, explicou Whendel Couto, consultor de geoprocessamento do IMA.

Diversos fatores podem ter ocasionado o aumento, como a estiagem e a ocorrência do El Ninõ, fenômeno responsável pela anomalia climática ao redor do mundo, gerando alta na temperatura da superfície da água do Oceano Pacífico próxima à linha do Equador, resultando no aumento em frequência devido às emissões de gases acima da média.

Aumento no número de satélites facilita a identificação dos focos

De acordo com Whendel Couto, outro fator que pode explicar o crescimento do número de focos está ligado ao aumento da quantidade de satélites que fazem a identificação desses focos de calor. “Historicamente, a quantidade de satélites envolvidos na identificação dos focos vem aumentando. Consequentemente, o número de focos identificados tende a crescer. Em comparação entre os períodos de janeiro de 2023 e janeiro de 2024, houve o acréscimo de um satélite, o NOAA-21. Somente ele foi responsável pela identificação de 586 focos em Alagoas”, detalhou Whendel Couto.

Ainda de acordo com Whendel Couto, a base de dados do Inpe é essencial para o monitoramento realizado. “Nós fazemos a coleta desses dados e realizamos o tratamento de acordo com as nossas bases, como vegetação, unidades de conservação e Cadastro Ambiental Rural (CAR).

Fazendo um cruzamento com essas informações, nós disponibilizamos um relatório semanalmente, no qual são destrinchados a tipologia de vegetação afetada, qual o bioma, o código da propriedade ou unidade de conservação afetada”, concluiu o consultor.

Ele ressaltou também que, apesar do aumento dos números, é importante destacar o trabalho do IMA na coibição do desmatamento ilegal com uso de fogo.

Bombeiros revelam que maioria dos casos ocorre entre outubro e março

O Corpo de Bombeiros atendeu, desde o início do ano até ontem, 325 ocorrências de incêndio em vegetação. No mesmo período do ano passado, foram atendidas 349 ocorrências do mesmo tipo. As estatísticas mostram ainda que, durante todo o ano passado, Alagoas registrou 848 ocorrências de incêndio em vegetação.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, os incêndios na vegetação são registrados com maior frequência entre os meses de outubro e março, mais precisamente no final de outubro.

O 1° sargento do Corpo de Bombeiros, Alder Ferreira, que integra a Defesa Civil Estadual, alertou para o fato de que sempre existe algum nível de risco, mesmo que seja pequeno, de Alagoas ter incêndio na vegetação.

“A umidade relativa do ar no Estado é significativamente maior do que a registrada no Centro-Oeste, o que ajuda a dificultar a propagação de incêndios, especialmente os espontâneos. No entanto, ainda há o risco de incêndios criminosos. Esses incêndios não podem ser previstos e podem ocorrer em qualquer lugar”, detalhou.

Já o superintendente de Prevenção em Desastres Naturais e também meteorologista da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), Vinícius Pinho, explicou que como o período chuvoso, ou seja, de recarga hídrica acabou, a expectativa é que Alagoas tenha poucas chuvas a partir de agora.

“Os meses de setembro, outubro, novembro e dezembro registram pouca chuva em todo o estado. Nesta época, há o aumento gradual das temperaturas e há também uma diminuição da umidade relativa do ar, além de um aumento nos índices de radiação ultravioleta. Então, é natural que tenha cada vez mais sol e menos chuva, até porque este é um período seco do ano. Primavera e verão são períodos bastante secos em todo o estado de Alagoas”, detalhou.

De forma didática, para exemplificar, o meteorologista afirmou que a quantidade de chuva registrada nesta época do ano corresponde a cerca de 15% do volume total de chuva esperado para todo o ano.

“Sendo assim, a consequência é a diminuição nos volumes dos mananciais. E especificamente este final de julho e todo o mês de agosto registraram chuvas bem abaixo da normalidade. Por isso, a expectativa é que a seca comece a se agravar em todo o estado, principalmente na metade oeste de Alagoas, agreste, sertão e sertão do São Francisco”, listou.

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