Cadeirada implode candidatura de Datena e dá a Marçal o que ele buscava


Matheus Pichonelli

“Psicopata” e “líder de seita” foram algumas das expressões que ouvi de pessoas que conheciam Pablo Marçal durante uma série de reportagens cerca de um ano antes das eleições.

“Ele descobre o seu ponto fraco e te ataca”, disse uma ex-seguidora que se desencantou ao perceber que era manipulada e explorada.

O candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo caçou como pode o “corte da vida” para desfilar à exaustão nas redes sociais.

Primeiro ele buscou o contato, em forma de agressão, de Guilherme Boulos (PSOL), a quem chamava de usuário de cocaína (com base na condenação de outra pessoa com o mesmo nome) enquanto chacoalhava uma carteira de trabalho como se o adversário nunca tivesse labutado na vida.

O deputado federal precisou respirar fundo mais de uma vez para não arrancar o documento das mãos do rival. No tapa, de preferência.

No debate deste domingo (15) na TV Cultura, chamou a atenção que o alvo escolhido por Marçal foi José Luiz Datena (PSDB), chamado por ele “Dapena”

Política e eleitoralmente a estratégia não fazia sentido. Marçal, com 19% das intenções de voto no Datafolha, estancou o crescimento nas pesquisas, mas ainda briga nas cabeças com Boulos, que tem 25%, e Ricardo Nunes (MDB), 27%.

Datena está na quinta posição, com 6% das preferências. É um ex-candidato em atividade.

Mas foi ali que o tubarão notou a gota de sangue e avançou.

O choro de Datena ao fim da sabatina foi o penúltimo ato de quem se tocou ao longo da campanha que trocar mais de três décadas de TV para entrar nesta eleição foi a pior decisão da vida.

Marçal percebeu que o rival estava emocionalmente em frangalhos. E cutucou onde mais doía.

Marçal iniciou o debate trazendo à baila uma acusação contra Datena por assédio sexual. Chegou a perguntar se teve toque na vagina. Assim mesmo, em TV aberta.

E, entre a acusação e o deboche, lembrou do choro do tucano, questionou quando ele iria abandonar a corrida e o chamou de covarde por ter ficado na frente dele no debate da TV Gazeta e não tê-lo agredido.

Mal terminou de falar e a cadeira voou.

Conseguiu assim o que queria desde o início: o estrategista digital que jura vender códigos da inteligência emocional para a prosperidade buscou desestabilizar psicologicamente todos os adversários em algum momento da disputa para ganhar votos — ou vender mais cursos.

Fez isso quando citou o suicídio do pai de Tabata Amaral (PSB). Não conseguiu.

Tentou o quanto pode tirar Boulos do sério. O tapa não veio.

Fez o mesmo com Ricardo Nunes, a quem chamou de Bananinha e ameaçou, neste domingo, perguntar se ele bateu na companheira com a mão aberta ou fechada — há um boletim de ocorrência contra ele.

Quis o destino que ele fosse sorteado para fazer uma pergunta ao candidato mais disposto a perder a linha.

Deu no que deu.

A cadeirada implodiu a campanha de Datena. E pode ter dado o impulso que Marçal buscava em vão até então.

 

 

 

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